só hoje

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A saudade é bonita só na poesia, na vida real ela arde.

Simone sabia disso como ninguém, apesar de amar poesia e às vezes brincar com as palavras, se arriscando em escrever para sua amada — poesias que ela nunca leu—  a saudade que sentia da pequena grande mulher dilacerava seu peito. Pesava tanto que às vezes escorria pelos olhos, em noites frias onde tudo que queria, era o corpo quente da outra.

Sua rotina estava conturbada demais, era trabalho demais, demandas demais, reuniões demais e saudade demais. A ministra bem que queria mandar mensagens, ligar, mas não era tão fácil assim, como dizem por aí popularmente "o buraco era mais em baixo", o problema não era bem esse, a situação era diferente. Eram reservadas demais para serem pegas em trocas de mensagens ou ligações. Também tinha a internet em cima delas duas, não poderiam correr risco. Era sempre tudo muito bem combinado.

Dentro do gabinete da Ministra, um coração batia fortemente apertado, a reunião acontecia de modo mais lento possível, era torturante para Simone não poder apenas se levantar e ir embora. Repentinamente Tebet olhou fixamente para o canto da parede, esperou que seu coração parasse de doer e que as emoções se acalmassem, precisava parar de pensar um pouquinho em sua saudade, caso contrário não conseguiria trabalhar.

A tarde se arrastou preguiçosamente, era hora de ir pra casa, mas Simone gostaria de verdadeiramente ir para casa. Num ato que julgariam os demais, ser impensado — mas muito calculado pela ministra— ela buscou por seu celular em cima da mesa e discou o número para o gabinete da sua conterrânea. Déborah rapidamente atendeu, trocou algumas palavras com Simone e avisou a Soraya que a mulher estava na linha.

— Alô? -soraya atendeu atortoada.

— So...-ouviu se do outro lado um respirar pesado, Soraya reconhecia aquela voz.

— Simone, o que aconteceu? Me ligar assim não é normal.

— Preciso urgentemente falar com você. -seu tom era de súplica.

— Ligue-me no meu número pessoal, vou desligar e espero seu retorno.

Em menos de três minutos fora ouvido o toque do celular da senadora, ela pediu para que Déborah a desse licença e exigiu que não fosse interrompida por ninguém, sentou-se na cadeira giratória e atendeu a ligação.

— Oi, querida. -sua voz era meléa e baixa.

— So, como você está? -a ministra também falava baixo, em tom de segredo.

— Eu estou bem, mas você não parece tão bem.

— Eu estou bem...-foi interrompida pela loira.

— Sua voz diz o contrário, você não costuma ligar assim.

— Preciso te ver hoje. -confessou rapidamente.

— Simo... não, não podemos. -a loira imediatamente negou.

— Soraya, por favor, nem que seja só pra te levar para casa. -seu pedido era genuíno.

— Você sabe que isso é arriscado. -suspirou pesado ao afirmar.

— Eu sei, mas não pediria senão fosse nescessário.

— Tá bem, às oito.

— Tarde assim?

— Infelizmente...te espero.

[...]

Às oito e meia uma mulher adentrou o carro da ministra, que estava estacionado em um local escuro e mais afastado. Usava branco e cheirava maravilhosamente bem.Apenas as luzes dos postes iluninavam o local, era propício para amantes como as duas se encontrarem, era reservado, e talvez perigoso. Em silêncio os olhos se encontraram, nada fora dito, os corpos se procuraram até se encaixarem em um abraço apertado e saudoso.

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