dangal week dia 5, deus do céu.
tive que me virar com esse aqui, olha. na teoria do gênero diz que teatro musical ainda é teatro, então não fugi do tema, viu?
boa leitura.· palavras: 1.290.
[...]
- Eu não posso, Arthur. Tenho prova de farmacologia depois de amanhã.
- Ah, vamos, cara! Vai ser legal! Tenho certeza de que você nem precisa estudar tanto assim para essa prova. Você já é bem inteligente.
- Não é assim que funciona. - Dante suspirou, encarando a mesa de seu quarto com incontáveis papéis de anotações da disciplina. - Mas, afinal, o que é que vai ter?
- Os alunos de Artes Cênicas vão encenar algumas partes de O Fantasma da Ópera.
- Fala sério. Já vi umas 20 vezes. - Respondeu desinteressado. - Não vai rolar, Arthur, foi mal. - Pensou em desligar a ligação assim, sem mais nem menos.
- Mas nunca viu esses caras atuarem! - Rebateu com rapidez, antes que alcançasse o botão para romper a conversa do outro lado da linha.
Dante estava no sétimo período de medicina, era representante de sua turma e um aluno extremamente exemplar. Já Arthur fazia Música há quase três anos. Apesar de cursarem a mesma faculdade, os campus eram diferentes, mas não chegavam a ser tão distantes. De vez em quando, Dante assistia aos trabalhos de Arthur quando eram abertos ao público, ou quando estava participando de algum evento da faculdade. Esse campus unia cursos de Artes, o que significava que Arthur sabia de todas as pequenas organizações dos alunos de Dança ou Teatro, e, dessa vez, queria ver mais de perto os futuros atores que encenariam O Fantasma da Ópera.
Tentar tirar Dante de casa era uma tarefa difícil, o músico parecia ser o único a obter sucesso nessa missão. Ele não iria desistir assim tão fácil. Continuou insistindo por uns bons cinco minutos, até que o amigo cedeu - e ainda encerrou: vou, mas não fico até tarde.
Naquela noite, sequer se deu ao trabalho de ajeitar bem o cabelo. Tinha fios longos, loiros quase platinados, refletindo o dourado das chamas de velas que iluminavam a sala. Ajeitou os óculos, sério como sempre fora. Arthur se sentou ao seu lado, com um sorriso estampado no rosto.
- Eu 'tô tão feliz que você veio mesmo! - Disse, conseguindo arrancar uma curva nos lábios de Dante.
- Vou ver dez minutos. Se for ruim, eu caio fora. - Respondeu naturalmente, assistindo as cortinas se abrirem.
- Relaxa, vai ser bom. - Deu um último sussurro, confiante.
Dante assistiu aos dez minutos. Na verdade, começou assistindo aos primeiros, até que seu olhar se prendeu estritamente ao Fantasma. Depois disso, assistia apenas ele. Por quinze, vinte, trinta, até perder a contagem do tempo.
Já conhecia bem a história, não fazia mal deixá-la de lado dessa vez. Seus olhos passeavam por todo o personagem, desde a clássica máscara que cobria parcialmente seu rosto até as luvas de couro nas mãos. Tinha cabelos pretos, compridos, que traziam um mistério a mais que nenhum outro Fantasma que conhecia tivesse. Um sorriso distante, cortado pela máscara, mas ainda tão marcante que Dante se arrepiava todas as vezes que o via. A voz era clara, presente, inesquecível. Mais alguns segundos e ele já teria a gravado completamente, cravando-a no fundo da memória, para tentar talvez reproduzi-la em pensamento mais tarde. Qualquer cena em que não estivesse presente era descartável, ignorada pelos críticos sentidos. Não lhe interessava saber sobre o resto do elenco, só sentia uma curiosidade ardente pelo rosto atrás da máscara.
Mal se percebia o tempo passar. Quando tudo aquilo terminou, foi como sair de um transe, uma hipnose perfeitamente orquestrada que manteve sua atenção desviada por quase duas horas. Arthur se levantou para parabenizar o grupo, enquanto Dante encarava o chão ainda tentando dar conta de si mesmo.

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"fantasma" | #DanGalWeek2033 dia 5 - peça.
Fiksi Penggemarem que Dante não sabe diferenciar personagem e ator.