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Coringa narrando.

Eu tava no veneno só esperando a confirmação do que eu já sabia, tinha x9 na área e ia virar churrasco, safado aqui comigo só vacila uma vez, qual foi? Tu dá uma atenção e o cara quer te pegar na crocodilagem, aqui ele não cria e não cresce, vão morrer pra servir de exemplo, meu morro não é bagunça não, tava ali observando o movimento pela janela do qg, ouvi o radinho:

Hugo: fala tu chefia na escuta?
Coringa: fala aí fio, solta a boa
Hugo: tá no papo aquele assunto, tá confirmado, pode mandar pro microondas, o cara tava aqui e passando informação pra polícia, de carga, dos malote, de tudo chefia, merece morrer comédião

Eu ouvi aquilo e meu sangue ferveu, vai cantar pra subir pra ele e os outros que ousarem pensar nisso, pensar duas vezes, peguei uma arma, coloquei na cintura junto com o radinho e chamei uns moleque pra irmos lá no barzinho aonde o comédia tava, a gente foi andando e vendo alguns moradores, cheguei no bar e ele tava lá contando história, um filho da puta que achou que a casa dele jamais ia cair, ele me viu e já veio de conversa mole:

X9: opa meu bom, tá tranquilo? Bailão hoje? Vai tá o fervo heim, várias novinha pra fortalecer a agenda dos contatinhos.

Eu só balancei a cabeça e agarrei ele pela nuca:

Coringa: qual foi filho da puta, achou que ia chegar aqui, ia dar um de cria do morro e nóis não ia puxar tua ficha comédia do caralho, tá de x9 na banca?! Vai morrer.

Os olhos do cara arregalou e eu já dei dois tapa na cara dele e uma rasteira, o cara já caiu pedindo misericórdia pela vida, chutei o mesmo que se encolheu no chão e começou a história triste:

X9: eu tenho família cara não faz isso, eu fui obrigado, eu não tinha opção, pelo amor de Deus polpa minha vida, eu sumo daqui, eu faço o que tu quiser, eu juro, o Garcia me obrigou a me infiltrar aqui.

Eu engolir seco ao ouvir o nome daquele sujeito, Garcia era um delegado que desde que eu me entendo por gente, sempre quis me matar, nunca teve coragem de subir no morro pra isso, ele é um vacilão que acha que tá bem na fita, eu sei bem qual a dele e porque ele quer me derrubar, vai morrer logo logo.

Eu catei o cara pela gola camiseta e levantei o mesmo vendo a boca dele com um pouco de sangue, olhei pro mesmo:

Coringa: tu vai pro microondas pra servir de exemplo comédia do caralho, Garcia é tão pilantra quanto eu, só tá do outro lado do sistema.

Olhei ao redor e tinha uns morador olhando e eu falei alto:

Coringa: que fique de exemplo pra vocês, aqui nada passa batido, chega na conversa certa, sem papo torto, aqui no meu morro comédia assim, morre e os ossos são jogados pros cachorro comer, comédia aqui não se cria, eu deito um por um.

Larguei o cara que se escorou na grade da quadra e mandei os moleque levar ele lá pro alto do morro e acabar com isso logo, fui andando pelos becos distraidão, tinha umas coisas pra resolver no qg, fazer umas contas lá, tava andando e de esquina com um dos becos e senti algo bater na minha perna, olhei pra baixo e era uma das muitas crianças que morava no morro, cobri a arma com a camiseta e abaixei e toquei na mão dele:

Coringa: fala aí meu bom, o que manda?

Era o Nicolas, um molequinho que sempre tava por ali, curioso, sempre olhava o movimento, moleque tinha apenas seis anos, e ele sempre falava que queria ser como a gente, andar coberto de ouro e ostentar com uma peça na cintura, mano se já imaginou uma criança falando isso com tanta convicção, tô ligado que essa vida que eu levo, geralmente só tem um destino certo, ele me olhou, olhou pros cordão no meu pescoço e olhou pra umas mina que tava passando:

Nicolas: fala tio, eu tô aqui no olhando as gatinha
Coringa: moleque tu tem nem tamanho pra isso -dei risada
Nicolas: as meninas gosta tio, eu tenho meu charme, eu falo que conheço você e tá tudo certo

Comecei a rir e fiquei ali batendo um papo com ele, levei ele na barraquinha da tia, paguei um lanche, uma coca, a família dele era bem humilde aqui no morro, ele mora com a avó, o pai era um nóia que foi roubar no asfalto e os cara derrubou sem dó, a mãe teve o moleque e caiu no mundão e deixou o moleque na responsa da avó, tava lá conversando com ele, quando eu vi ele olhando e se distraindo do assunto, fui olhar o que era, rapaz era a Lua, uma moradora aqui do morro, tava ela e o comédia do namorado, a mina era gata demais, gostosa pra caralho, mas um marra que me dava raiva, ela não tinha nem tamanho mas batia de frente com geral, tá doido a mina é gata e sabe disso kkk, eu pego muita mina daqui, de fora, ela o negócio é mais embaixo, ela passa que nem bom dia da, ela é toda durona mas sei da dor dela, perder os pais, do jeito que perdeu, estamos a meses atrás dessa história dessa chacina que teve no morro, o irmão dela tá fissurado nessa história e tive que dar uma brecada nele, mas vamos atrás e cobrar do responsável que matou gente inocente aqui no morro..

Tava ali com o pensamento longe quando a Marcela chegou... ali era só b.ó mas fodia bem, então tava tudo certo.

Dono do morro e do meu coração. Onde histórias criam vida. Descubra agora