𝐌𝐘 𝐎𝐍𝐋𝐘 𝐋𝐎𝐕𝐄 {ℭ𝔬𝔪𝔢 𝔅𝔞𝔠𝔨} - 𝘚𝘐𝘔𝘖𝘓𝘖𝘕🖤

🅲🅰🅿🅸🆃🆄🅻🅾 20

SIMONE NARRANDO:

Eu não consigo explicar a dor que senti após ficar sabendo que eu havia perdido o meu filho,eu achava que por ser uma gravidez que eu sequer sabia da existência dela,pelo meu filho ser tão pequeno e nem ser considerado um feto,eu achava que a minha dor seria passageira afinal não é como se eu tivesse um enxoval todo pronto a espera do meu pequeno. Mas não,a dor foi insuportável e eu não conseguia parar de me sentir vazia,a pior dor é aquela que você já nem sente porque já te consumiu,já faz parte de você.

Eu comecei a ter pesadelos horríveis com o acidente,acordava assustada e com medo,sonhava com o mestre naquele estado tão traumatizante,foi um verdadeiro inferno tudo pós aquele acidente. Eu me culpava por tudo,pelo acidente,pela morte do meu filho,pelo estado do mestre e principalmente por não conseguir dar conta de tudo isso.

Eu me apavorava ao imaginar que a qualquer momento eu pudesse perder o mestre também,o coma dele me fez cair ainda mais na armadilha da culpa. Eu via ele naquele estado e tudo que eu queria era estar do lado do carro onde ele estava,eu preferia que ele estivesse bem no meu lugar e eu estivesse no lugar dele,eu preferia estar num coma profundo ao estar acordada e ter que lidar com essa dor insuportável que é saber que eu perdi o meu filho.

Eu passei a agir por impulso,a falar coisas sem pensar,coisas que se eu não estivesse tomada pela dor,pelo trauma, eu jamais falaria pra alguém. Eu vi todo mundo começar a me olhar com pena e até desviar quando olhava pra eles, encontrei no meu trabalho imparavel uma saída pra dor,me afundava em casos e problemas do hospital pra não ter que lidar com os meus,porque era mais fácil.

E no meio de toda essa confusão eu me vi magoando as pessoas que mais me amam nessa vida,eu me afastei deles porque eu não conseguia sequer olhar pra eles,eu sabia que eu iria desabar e não queria isso. A ideia era poupá-los dessa dor horrível mas eu acabei causando outra tão dolorida quanto. Eu via o desespero no olhar do Alessandro e da minha filha e eu simplesmente não reagia,eu me olhava no espelho e não me reconhecia,é como se eu estivesse hipnotizada pela dor e não conseguia sair daquele tranze que me deixou quase como outra pessoa.

Eu sabia que estava machucando eles, eu sentia isso mas eu não conseguia parar,eu só queria sumir e não sentir mais essa dor tão grande,queria que eu fechasse os olhos e tudo voltasse como era antes,estávamos indo tão bem,mas parece que a vida me odeia,eu nunca consigo ser cem por cento feliz e a minha felicidade é sempre tão limitada.

Quando o mestre finalmente acordou pra minha tranquilidade,eu me senti um pouco melhor,eu não iria sair desse fundo do poço nunca se eu o perdesse. Eu estava de viajem marcada pro Mato Grosso do Sul o que deixou o Alessandro ainda mais indignado comigo,ele já vinha a alguns dias não tentando mais conversar comigo,ele e a Valentina se trancavam no quarto e eu sentia que aos poucos minha ausência foi se tornando rotina.

Ele deixou subentendido que se eu fosse naquela viajem ele jogaria a toalha,a bolha de dor que eu tenho ao redor do meu coração não me deixou sentir o peso dessa declaração,entrou por um ouvido e saiu pelo outro. No outro dia lá estava eu seguindo em direção do meu estado e ignorando todo e qualquer problema que isso fosse me causar.

Assim que cheguei na capital sul-mato-grossense senti uma imensa vontade de chorar,tenho tantas lembranças desse lugar,a minha casa. Mas eu tinha ido até lá principalmente para participar da junta médica no lugar do mestre que por motivos óbvios não pode ir.

Depois da participação na junta médica eu segui de carro até Três Lagoas,a minha terrinha,terrinha do meu avô, dos Tebet. Uma imensidão de terra e milhares de lembranças,já faziam muitos anos que não vinha pra cá, sempre que vinha o Santiago não me deixava em paz por isso quase não vinha mais.