A chuva caia forte do lado de fora da estalagem. O guerreiro estava satisfeito por ter chegado antes que ela caísse, agora estava sentado à mesa num canto quente e confortável próximo à lareira. Ele tamborilava os dedos impacientemente, esperando a pessoa com quem viera encontrar. Distraía-se observando o salão quase vazio, com pouquíssimas pessoas sentadas a sua volta.
Enquanto esquadrinhava o ambiente, notou a estalajadeira olhando para ele, que a olhou de volta.
"Pro..." a criatura gemeu ao seu lado, se mexendo na cadeira. "Já disse para ficar quieto e não me incomodar!" cochichou o guerreiro.
A criatura morta-viva sentava-se ao seu lado, completamente coberta com o manto que ele colocara sobre ela. Não queria arriscar que sua natureza fosse descoberta e isso gerasse uma comoção. Magias e criaturas necromanticas eram mau vistas nestas terras, assim como em qualquer lugar onde se adoram deuses de luz, e aqueles envolvidos com tais artes eram caçados implacavelmente – e o guerreiro não estava interessado em receber um tratamento de bronzeamento, nas fogueiras santas da igreja local.
Ele queria deixar a criatura escondida nalgum canto da vila, mas ela não o obedecia, e o seguia como sempre; então a cobriu com a manta, na esperança de pensarem se tratar de um viajante comum. Felizmente o mau tempo espantou a maioria dos habitantes locais, e os poucos viajantes ali presentes se preocupavam apenas em se aquecer e em tratar de seus próprios negócios.
O guerreiro temia que seu informante se atrasasse, ou mesmo que não viesse. Está atrasado demais... pensava. A chuva continuava a cair, sem sinal de cessar, e duvidava que alguém se arriscaria a caminhar neste tempo.
Não sabia quem deveria esperar, pois nunca o viu, mas, pelo que lhe disseram, o informante já o conhecia e o abordaria quando chegasse.
A estalajadeira se aproximou da mesa; seu sorriso era hospitaleiro, mas seu olhar era perscrutador.
"O senhor parece tenso, viajante. Posso lhe servir algo para que relaxe?"
O guerreiro se voltou para ela e a olhou, "pode ser..." disse calmamente, "preciso de algo quente que espante este frio..."
Ele então tirou de sua aljava uma moeda de ouro e deslizou-a sobre a mesa, em direção à jovem. O sorriso dela mudou.
"Certo.", disse "Farei algo quente e aconchegante para o senhor."
A criatura se mexeu, fazendo a jovem notar sua presença; o guerreiro lançou-lhe um olhar irritado. "Ah, e claro, trarei algo agradável para você também, senhor..." – "É meu servo", interrompeu o guerreiro, "E não poder comer... não vai comer nada."
A jovem então se retirou, seu corpo esguio deslizou de volta para o balcão, sumindo dentro da cozinha. O guerreiro suspirou fundo.
"Sabe, a comida aqui é bem saborosa, mas se mostra um tanto indigesta."
O guerreiro se virou bruscamente e se surpreendeu ao ver uma pessoa de pé atrás dele próxima à parede. Quando diabos ele chegou aqui?, pensou. A pessoa misteriosa deu um passo à frente, revelando seu rosto, e o guerreiro pôde ver que se tratava de uma mulher; seus cabelos eram de um verde bem escuro, como os cipós dos pântanos, e suas orelhas denunciavam a ascendência feérica – era uma elfa. Ela sorriu carinhosamente dizendo "É bom vê-lo de novo, Robert."
Os dois ficaram sentados, um de frente para o outro, a moça o observava enquanto ele mergulhava um pedaço de pão no caldo e levava à boca. "Então... a senhora poderia me contar como me conhece? Acredito que me lembraria se um dia tivesse conhecido alguém do povo das fadas..."
"Não lembraria nem que eu tivesse ficado com minha face diante da sua durante toda a sua infância. Conheço-te de quando você era pequeno demais para fazer qualquer coisa além de chorar e mamar, quem dirá ter a compreensão do mundo ao seu redor."
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Servo.
FantasyUm guerreiro que segue a trilha para um acerto de contas. Durante a sua viagem uma criatura cruza o seu caminho, e, sem maiores explicações, passa a segui-lo. Enquanto viaja para o embate terá que descobrir qual a ligação entre ele, a criatura e seu...