Parte 03

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Estava tudo escuro, Robert estava deitado sobre uma superfície dura. Algo o cobria e ele agitava-se, tentando tirá-la. Murmúrios e lamentos podiam ser ouvidos ao seu redor, e ele choramingava de pavor.

Passos ecoaram na escuridão e uma luz de vela apareceu à sua frente, revelando uma figura alta e de mantos amarelos; seus olhos eram manchas alaranjadas como o próprio fogo que carregava. A presença deste ser assustou Robert, que berrou alto.

A figura puxou uma adaga de seu cinto, ergueu alto, proferindo palavras ininteligíveis, e baixou-a com toda a força. Mas quando o fez um grito ecoou alto no local. Um vulto jogou-se sobre Robert, com todo seu peso, murmurando algo que ele não conseguia entender.

...

Robert acordou, puxando o ar pela boca, sorvendo-o com a ânsia de quem estava muito sufocado. Sua aspiração foi bruscamente interrompida por uma irritação na garganta, que o fez tossir. Seu nariz fungou.

Maldita doença, praguejou para si.

Tentou se erguer, fazendo o lenço que estava em sua testa cair, sentiu seu corpo fraco e mole, e a vertigem o fez se deitar de novo. Não estava nada bem; estava quente, suava muito e sua cabeça latejava.

Não devia ter pegado aquela chuva, pensou. Mas não teve escolha. Correu por horas noite adentro, para se afastar do vilarejo onde estava, tentando despistar qualquer um que pudesse vir em seu encalço, por conta do incidente na estalagem.

Só parou quando, quase de manhã, encontrou uma cabana de madeira abandonada, um pouco afastada da trilha. Era uma cabana antiga, com a parte dianteira do telhado destruída, deixando um buraco grande à esquerda da casa, e uma mobília quase toda arruinada. Mas de todo o resto parecia bem preservado. A madeira das paredes não estava podre, e os pilares de sustentação estavam secos e afastados do buraco, o que anulava a possibilidade de um desabamento maior. Achou que seria um bom lugar para se abrigar, onde ninguém o acharia, mas não foi o caso.

Olhou para o lado e o morto-vivo estava lá, de costas para ele, curvado sobre algo que soltava fumaça em direção ao buraco aberto no telhado da cabana, como uma bruxa mexendo em seu caldeirão de poções.

"Ei, servo!", chamou com a voz nasalada, "O que está fazendo aí?"

A criatura se virou, sem dar nenhum som em resposta, apressou-se em sua direção, erguendo sua mão esquelética em direção ao rosto de Robert, fazendo-o recuar um pouco na cama. Tocou sua testa como se fosse capaz de sentir o calor que emanava dela, medindo o nível da febre. Robert gelou desconfortável e se perguntou se a criatura podia realmente sentir alguma coisa. Por fim, pegou o lenço que havia caído e mergulhou-o numa vasilha que enchera com água da chuva da noite anterior. Espremeu-o bem e passou delicadamente sobre a testa de Robert. Limpou seu rosto, desceu para o pescoço, e então para o tórax, depurando-o do suor e refrescando sua pele. Robert estava desconfortável com isso, mas estava com o corpo tão fraco que mal teve forças para protestar, e a criatura o fazia se deitar de novo quando tentava se erguer. Então Robert só pôde esperar que ela acabasse. No fim, ela limpou o pano e o encharcou, colocando-o como uma compressa sobre sua testa, encontrou outro pano na mochila de viagem de Robert, molhou-o também, e o colocou sobre seu tórax.

A criatura se endireitou, olhou para Robert, soltando seu jargão habitual:

"Proteger..."

"Tá, tá!", respondeu Robert impaciente.

O servo então se virou e voltou-se para a fogueira que havia feito abaixo do buraco. Não foi fácil fazer com que a fogueira vingasse, por conta da umidade, mas a criatura conseguiu juntar pedaços dos móveis velhos da casa que estavam mais secos, juntou alguns musgos e outras plantas que haviam crescido dentro da casa, e conseguiu, com esforço, acender o fogo com duas pedras que Robert guardava em sua mochila. Raspou uma na outra três vezes até gerar uma faísca que conseguiu se agarrar às ervas e se espalhar.

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⏰ Última atualização: Jan 08 ⏰

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