Acabou?

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Você está sentado na guia, provavelmente sujando sua calça nova. E eu, estou apoiada na beira do assoalho do carro, com as minhas pernas entre as tuas. Em silêncio, procuro algum sinal de boas expectativas no fundo dos teus olhos azuis.

E na esperança de arrancar-te algo bom, aproximo sorrateiramente meu rosto do teu. Ao deixar um leve beijo em sua testa, sussurro:

- Fica comigo.

Você se afasta para poder me encarar, e com a dor transparecendo na voz, me responde:

- Eu não posso. Não posso mais viver coisas boas contigo uma vez a cada 30 dias e depois passar outros 29 dias alimentando fantasias que não acontecerão.

Um suspiro de cansaço escapa por meus lábios. Que eu me lembre, só nessa noite já devo ter pedido cerca de 5 vezes para ele desistir dessa ideia de "término" (de um relacionamento que não temos...).

- Tudo bem, Tomas. Não vou insistir e me humilhar pedindo por isso mais uma vez.

Profiro e sem muita paciência seco com as costas de minha mão uma lágrima insistente que corre por minha bochecha.

Tu, tira as mãos que abraçavam minhas coxas e as apoia na calçada de terra.
Em um inspirar profundo, parece procurar ar em meio à nossa melancolia.

Ah Helena, você não imagina o quanto eu te quero.

- Se quisesse, ficaria comigo.

- Pare com isso, sabe que não é assim que funciona.

- Você não me quer.

- Helena, eu te quero!
E te quero mais do que jamais quis alguém.
E para provar isso, te conto que já nos imaginei em tantas realidades...
Já imaginei os outros pilotos me perguntando se vou sair para curtir e eu falando que tenho uma namorada me esperando em casa.
Já me imaginei chegando no meu apartamento com uma flor que comprei no caminho e você estar me esperando.
Já imaginei até mesmo em nós discutindo se "Amelie" realmente seria um bom nome para nossa filha. -

"Filha"  repito mentalmente e até solto um riso discreto. Não posso acreditar que pensaste nisso.
Me imaginar grávida pode parecer um pouco assustador agora, mas contigo, seria acolhedor.
Daqui uns 7 anos; eu com 26 e uma pequena barriguinha que marca em meu vestido e você com 30, uniformizado e se despedindo de nós antes de embarcar em outra viagem. Não é um cenário desagradável de se pensar. Até porquê, você fica lindo de uniforme.

Meus visão panorâmica percebem duas silhuetas se aproximando, e infelizmente deixo minha doce fantasia se esvair. - Tem uns caras estranhos vindo pra cá. -

Aviso-te, ao olhar primeiro para os homens e depois para o meu homem; que prontamente se levanta, espera que eu me ajeite no banco e sem dizer uma palavra, beija minha testa antes de fechar a minha porta.
E só depois de ligar o carro, tu me lembra de algo que eu não queria lembrar.

- Vamos, vou te levar para casa.

Ugh, a hora que eu mais temia estava chegando; a hora que terei que te dizer "tchau" sem saber se um dia encontrarei teus lábios novamente...
E nessa péssima expectativa, cubro com meu braço direito o meu estômago que já se embrulhava com essa ideia idiota.
E assim, a caminho da despedida, minha outra mão já estava sob a sua, em cima do câmbio, como sempre fizemos quando você estava dirigindo. Porque mesmo em momentos de concentração, sempre quisemos tocar um ao outro.

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