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Ocean

— Se continuar tão ansiosa, não vai conseguir nunca trocar sua calda por pernas.

Já era quase fim da noite e Jennie não havia obtido nenhum progresso. O mestre ancião havia deixado claro que era difícil, mas a sereia precisava admitir que era muito mais difícil do que imaginou.

— Eu não entendo mestre, eu 'to fazendo tudo o que o senhor disse para eu fazer.

— Tudo, menos se concentrar. Não vai conseguir fazer isso pensando em Lisa.

Jennie então respirou fundo, clareou a mente, e se concentrou. Tudo o que ela precisava fazer era imaginar a si mesma com pernas. Se imaginar com pernas não era difícil, pois poucas horas atrás ela estava com as mesmas. O problema era acreditar em si mesma, acreditar que poderia fazer isso por conta própria, já que antes fez tudo apenas instintivamente, quase como se não fosse ela que estivesse controlando. Ainda assim, ela juntou toda a fé dentro de si, para que pudesse voltar para a pequena humana de cabelos loiros que aos poucos estava aprendendo a amar. Colocou todo o seu esforço, simplesmente porque já estava com saudade.

— No que está pensando?

Perguntou o mestre.

— Que preciso fazer isso, que eu preciso a ver e mostrar que eu posso fazer parte do mundo dela.

— Abra os olhos Jennie.

Assim que o fez, Jennie percebeu que não era mais sua calda que balançava pelas aguas. Assim como aconteceu pela manhã, pernas estavam no lugar.

— Você só precisava de motivação.

Um largo sorriso apareceu no rosto da sereia.

— Agora desfaz.

— Ah! Mas eu demorei tanto pra fazer.

— Se quer voltar para sua casa nadando com pernas tudo bem.

— Que chatice.

Num instante foi desfeito e o mestre ancião desatou a gargalhar.

— Viu, agora que aprendeu não é mais difícil. Muda de novo.

Jennie que nem tinha reparado que não fez esforço nenhum para ter sua calda de volta arregalou os olhos e mudou de forma novamente para ver se conseguia e se surpreendeu com a velocidade que elas apareceram.

— Nossa, mas eu fiz tanto esforço antes, como assim eu consigo fazer isso agora como se eu apenas tivesse mexendo a minha mão?

— Grande parte dos ensinamentos para a magia ancestral é autoconfiança. Mas te ensinar isso seria perda de tempo, pois já tem os poderes. Não há o que fazer, vai precisar confiar em si mesma.

— Então tudo o que preciso fazer pra controlar esse poder, é acreditar que eu posso?

— É acreditar que ele te pertence.

Jennie foi para casa pensativa, e com saudade. Precisava convencer seus pais a deixa-la subir para superfície de vez. Mas dessa vez estava mais confiante de que conseguiria, porque ela aprendeu que precisava acreditar que tinha o que queria antes de ter, e só assim as teriam.

Todavia, naquela noite não quis entrar no assunto com eles. Nem ao menos contou que magia fluía pelo seu corpo. Apenas se deitou e cantou para que Lisa soubesse que estava indo, e que não ia desistir. E porque estava morrendo de saudade.

...

A loira acordou no quarto de sua mãe. Precisou de um tempo para assimilar o porquê de estar ali. Havia pegado no sono porque Jennie estava cantando para ela. Quando se lembrou do acidente com sua mãe rapidamente se levantou da cama onde estava, percebendo que sua mãe não estava ali e com certeza estava aprontando.

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