II | Aniversário

91 14 18
                                    

Tinha muita coisa que Draco não entendia.

Uma delas era seu pai. Draco ficou em silêncio durante os castigos que sofreu no início das férias, por se associar ao que Lucius chamou de traidores de sangue e sangues ruins. Draco não falou nada durante tudo aquilo.

Ainda hoje, sentia a pele pinicar com a lembrança dos feitiços cruéis que atravessaram seu corpo, ou o desconforto no estômago por ter ficado preso nas masmorras por dias sem ter a permissão de se alimentar.

Tudo isso, porque Draco fez seus próprios amigos e não estava disposto a perdê-los. Era difícil e doía, mas o menino sempre pensava em sua tia em momentos como aquele. As coisas que Andrômeda o ensinou. Isso era algo que Draco entendia. Ele aprendeu como o sangue não definia o valor de uma pessoa, algo que seu pai nunca seria capaz de compreender.

De fato, Draco não entendia seu pai. Nem mesmo o porquê de ter sido chamado até o escritório dele naquela noite.

O jovem Malfoy andou sozinho pelos longos e tristes corredores da sua casa, apertando entre seus dedos o colar que compartilhava com Harry, seu melhor amigo. A pedrinha mágica do pingente indicava serenidade, um bonito azul cintilante. Draco sabia que significava que Harry já estava dormindo, pelo horário e pela cor, e se perguntava como a pedra do colar de Potter brilhava naquele momento.

Ele bateu três vezes na porta, até ouvir Lucius permitindo que ele entrasse.

— Sente-se, Draco.

Draco obedeceu em silêncio, sabendo que não tinha motivos para falar. O olhar frio do pai caiu sobre si, e Draco ajeitou a postura e fingiu segurança em sua expressão.

— Está vendo isso? — Lucius empurrou um velho caderninho pela superfície da escrivaninha. A capa era de couro velho, muito surrada pelo tempo. Draco assentiu, por que era o correto a se fazer — Sabe bem o quanto eu desaprovo sua aproximação com aquele traidor de sangue.

Lucius, é claro, falava de Rony.

— Sei.

— Contudo — a voz do homem deslizou como veneno escapando da presa de uma cobra — Estou disposto a relevar esse fato se você realizar uma pequena tarefa para mim.

Draco ergueu o olhar, curioso e amedrontado no mesmo nível.

— Amanhã é dia de ir ao Beco Diagonal — Lucius deslizou o caderno velho para mais perto do filho — Garanta que isso chegue até a irmã de seu amigo, e não precisarei repetir o seu castigo. Provará que ainda tem valor à sua família, Draco

As mãos de Draco tremeram na direção do caderno. Quando seus dedos tocaram o couro, pareceu tão errado e obsceno que sentiu o desejo de largar aquele tão estranho artefato ao mesmo segundo.

Parecia poderoso.

— Farei isso — Draco disse baixinho, não tendo certeza alguma na veracidade de suas próprias palavras.

— Pode sair.

Assim ele fez.

Em seu quarto, Draco deixou o caderno o mais longe possível da sua cama. Era estranho, porque ao mesmo tempo em que sentia imensa vontade de abrir e folheá-lo, gostaria de livrar-se daquilo o mais rápido possível.

Tentou não pensar muito na tarefa dada pelo seu pai. Ao invés disso, Draco puxou um pacote guardado em sua mesinha de estudos.

— Dobby, venha! — chamou. No mesmo instante, um estalinho foi ouvido e o elfo doméstico apareceu no centro do quarto.

— O que deseja, Jovem Mestre Malfoy? — Dobby perguntou em tom pomposo e educado.

— Por favor, garanta que isso chegue ao chalé dos Potter amanhã, o mais cedo possível.

HP 2 | O Caderno De Nefelibata (DRARRY!) Onde histórias criam vida. Descubra agora