Os dias se passaram sem que Tighnari se desse conta e, quando deu por si, faltavam apenas dois dias para que a Academia retomasse as aulas. Durante os três dias que se passaram, a raposa não falava mais do que o necessário com seu colega de quarto – e levando em conta de que eles não tinham nada a tratar, então eles ainda não haviam conversado.
Ele estava evitando pensar no ocorrido com o outro garoto desde que partira do bosque. Ele não queria se lembrar da pele bronzeada e nem de como ela era macia ao toque, mesmo que este tenha sido breve. Tighnari não queria se lembrar do aroma tão característico do outro e odiava ser tão consciente sobre a beleza daquele que dividia o quarto consigo.
Porque ele, definitivamente, odiava Cyno e tudo o que remetia a ele.
E foi com este pensamento que naquela manhã, pulando o café servido no grande salão, ele se dirigiu até a estufa onde aconteciam as aulas de herbologia – e onde passava a maior parte do seu tempo durante o ano letivo. Carregando seu pequeno caderno gasto nas mãos, a raposa se dirigiu a umas espécimes que estava pesquisando naqueles últimos dias.
Tighnari tinha uma grande sede por conhecimento e havia descoberto sua paixão por plantas e fungos ainda muito jovem. Devido a isso, e ao grande histórico de pesquisadores de sua família, a jovem raposa havia lido rapidamente todos os livros sobre o assunto na biblioteca de sua casa. E agora, alguns anos depois, quando havia iniciado suas próprias pesquisas, não havia lugar melhor para conseguir o conhecimento que precisava do que a própria Academia.
Esse havia sido seu principal motivo para ter voltado tão cedo naquele ano. Ou, ao menos, um dos principais; seu outro motivo o odiava e dividia o mesmo quarto consigo há quase sete anos.
Sem saber quanto tempo havia se passado, Tighnari apenas estava concentrado nas amostras de fungos dispostas sobre a antiga mesa de madeira quando ouviu a porta de vidro da estufa ser aberta. Não se preocupou em olhar quem havia chegado, e sua atenção apenas desviou dos seres de sua pesquisa quando uma cesta foi depositada em sua frente.
Ergueu as orbes bicolores, e a primeira coisa que avistou dentro da cesta foram vários pãezinhos e alguns biscoitos de nata. Olhando mais adiante, Tighnari se deparou com a última pessoa que ele esperava ver naquele dia.
Parado do outro lado da mesa, Cyno lhe olhava um tanto acanhado enquanto tinha as mãos enfiadas nos bolsos da calça jeans. O cabelo branco estava preso, fazendo com que a raposa tivesse uma clara visão do pescoço altivo do outro garoto.
Com um resmungo, a raposa voltou sua atenção para os fungos na mesa e rapidamente passou a guardá-los em potes de vidro.
— O que faz aqui?
De soslaio, pode ver Cyno se afastar alguns passos da mesa após vê-lo mexer com os cogumelos. Rapidamente, uma expressão descontente se formou no rosto do rapaz.
— Vim te trazer comida — apontou para a cesta, sem muito interesse. — já que você anda pulando as refeições.
Tighnari olhou da cesta para o garoto, dando de ombros antes de virar as costas, quebrando qualquer contato visual com o outro.
— Obrigado, mas eu não quero.
— O que você tem feito aqui?
A raposa se voltou para o outro após terminar de organizar seu material. Se apoiou em um balcão, este que estava cheio de plantas exóticas, antes de dizer:
— Estou concluindo uma pesquisa, por isso voltei mais cedo — disse frio, tentando não se mostrar afetado pela presença do colega de quarto ali. Onde eles estavam sozinhos. Juntos. — Mas nada que seja da sua conta.
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Incendiar
FanfictionOnde Cyno odiava seu colega de quarto, Tighnari, e era correspondido na mesma intensidade. Mas, como já diziam as más línguas, do ódio ao amor era apenas um pulo certo?