Luto Nacional

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Quatorze dias de luto nacional

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Quatorze dias de luto nacional.

De maneira triste, o funeral foi lindo. 
Mais de cem presidentes, chefes de governo e membros da realeza de todos os continentes do mundo participaram da cerimônia de funeral de Estado dos reis.
Morte de membros reais já causava comoção, mas uma morte desse porte conseguiu fazer ainda mais. 
Houve seis minutos de silêncio, uma grande salva de tiros dos militares e muitas lágrimas.
Quando chegamos à capela do palácio, o caixão ficou posicionado no centro da área do coro, junto com a coroa, o cetro real e o globo religioso entregues no início da cerimônia. 
No final, após a nova versão do hino nacional, agora com os dizeres "Deus salve a rainha" foi tocado na missa, encerrando a cerimônia.
Tentei não pensar no que aquelas palavras significavam.
Por fim, o sepultamento foi feito apenas na presença dos membros da família real, incluindo meus avós, tios e tias e primos.
Menos de 48 horas depois, meu nome foi anunciado como a nova rainha da Espanha.
Foi me dado quinze dias de paz antes que viessem ao meu encalço, instigando-me a fazer o primeiro discurso ao público como soberana.
Mesmo que a cerimônia de posse fosse apenas daqui um ano, eu já assumia parcialmente os deveres.
Meus avós decidiram ficar no palácio comigo, principalmente agora que eu estava sozinha e precisava admitir que era muito nova para tudo que tinha que enfrentar. Achei que o povo fosse achar ruim, já que meu avô Juan Carlos I havia abdicado do trono há alguns anos por conta de ter se envolvido com corrupção do dinheiro público. Para minha sorte, aparentemente eles entenderam ou deixaram passar. É claro que eu tinha a mesma opinião do meu pai, deixando meu pé atrás com o vovô, mas o que eu poderia fazer?
Nos primeiros meses, mesmo tendo sido criada desde sempre para ser rainha, eu estava negando isso. Principalmente devido as circunstâncias que precederam essa coroa. Ignorei as ordens e exigências do parlamento e me tranquei em meu quarto sem sequer sequer comer. Nada me fazia querer sair dele, a não ser quando minha avó invadiu, três meses depois e ordenou que eu levantasse a cabeça.
Depois que a ignorei, ela disse a primeira coisa que me atingiu. 
— Você já foi ver como está sua irmã? Eu sei que você está sofrendo, Leo. Mas você é a mais velha e precisa ser forte porque tem um país que precisa que você seja forte e uma irmã também. Sofia está igual a você e como podemos querer que ela haja diferente se sempre seguiu seu exemplo? Você é a rainha, Leonor!
— Eu não quero ser rainha. — foi o que respondi. 
— Você sempre soube que um dia seria. Porque está agindo assim agora? Eu sei que as circunstâncias foram muito piores do que imaginamos, eu também perdi meu filho, mas esse é o preço que pagamos. Não temos direito ao luto, não temos direito de escolher o que queremos. Não temos…
— Eu quero abdicar. — respondi, apertando a almofada contra mim e encarando o lado de fora da janela do meu quarto. Pelo silêncio, quase imaginei que estava sozinha e que ela cogitou me ouvir.
— Abdicar? Você não pode!
— Vovô abdicou. — insisto, ouço seus saltos pelo quarto até ela parar à minha frente.
— E vai abdicar pra quem? — pergunta — Pra garota de dezesseis anos a alguns quartos do seu que mal consegue ficar em pé? Leonor, você foi criada para ser rainha. Você. Quer mesmo que sua irmã passe pelo o que está passando com muito menos preparo? Você sabe o que fazer, ela não! Além disso, você mais do que ninguém sabe tudo que seus pais passaram para garantir que você fosse governante mesmo sendo uma mulher. Não pode jogar tudo isso fora assim.
Naquela noite, depois de muito discutir com minha avó, fui até o quarto da minha irmã. Já não me lembrava a última vez que nos vimos direito; da mesma forma que me excluí do mundo ela também o fez. 
Sofia estava horrível. Sua aparência estava péssima, como se não dormisse a dias e parecia ter emagrecido muito em apenas três meses.
Minha avó disse que ela se recusava a comer e odiava que abrissem as cortinas. Ela mandou alguns médicos para vê-la e disseram que se continuasse assim logo ficaria doente de verdade. 
Sentindo-me completamente culpada, a abracei e naquela mesma noite jurei que não importava minha dor, eu faria de tudo por ela. 
Não deixaria todo o peso sobre seus ombros e não deixaria que me visse jogada pelos cantos. 
Conversamos por horas, eu disse que jamais esqueceríamos essa dor, mas aprenderíamos a lidar com ela juntas. 
Não foi fácil, mas dia após dia me levantei e comecei a cumprir meus compromissos, arrastando Sofi para tudo que eu podia. No início, ela não quis, mas logo a garota extrovertida que vivia dentro dela começou a querer sair para brincar.
Dois meses depois, eu podia ver como ela estava melhor e devia concordar com minha avó que ela precisava de mim para se reerguer. 
Nós fizemos a viagem que eu havia adiado, visitando as principais cidades da Espanha como nova rainha. 
Depois de um tempo percebi que sorrir e fingir que estava tudo bem ficava mais fácil com o tempo. Fazer discursos e afirmar ao mundo inteiro que estávamos bem era bom, eu quase podia acreditar em mim mesma. A não ser durante as madrugadas, sozinha no meu quarto onde eu podia chorar e chorar e até mesmo achar que não conseguiria dar conta de tudo.
Eu não podia dizer isso a minha irmã, ou chorar na frente dela. Ela logo perceberia o quanto tudo que eu estava fazendo era de fachada e poderia ter um recaída.
Na aproximação do aniversário de seis meses do atentado, recebi a notícia que policiais franceses estavam aqui no palácio para conversar comigo. Apesar de ter estranhado, não exitei em ir ao encontro deles.
— Vossa Majestade! — o que estava a frente deles, que devia ter cerca de cinquenta anos diz, com um sotaque carregado. 
Além dele, havia mais três homens vestidos a caráter.
— Eu sou Andrea Moretti, chefe do departamento de DGSE, uma agência de inteligência e contraespionagem da França e estou aqui porque trago informações sobre o terrível acontecimento da noite de 27 de Novembro. — assinto, assumindo a postura de "está tudo bem". 
— Sentem-se, por favor. — sugiro, já que estávamos na sala de reuniões do castelo. Eles assim o fazem e a medida que me aproximo da cadeira da ponta da mesa meu coração parece palpitar. Vi meu pai sentado aqui milhares de vezes, mas nunca me sentei no lugar dele antes. 
Para minha sorte, além de mim, meu avô estava na cadeira ao meu lado, o que me dava certo alívio e confiança. Nunca fomos próximos, depois da discussão entre ele e meu pai, Juan se afastou da família e do país completamente, mas eu precisava admitir que durante esse tempo estava sendo de grande ajuda.
Olho para Andrea, incentivando que comece.
— Desde que... aquilo aconteceu, no final da copa do mundo, tivemos investigando. No início, a polícia de Paris alegou que era um problema com os fogos de artifício, mas isso se provou nulo e completamente idiota, embora tenham feito o mundo acreditar nisso. Quando precionados, disseram que era um problema na fiação, mas também não fez sentido. Não entendemos o porquê das mentiras, mas imaginamos que poderia ser algo proposital já que o estádio que sedia os jogos é extremamente protegido. Conseguimos permissão nas buscas e ao analizarmos em baixo do palco, soterrado, encontramos resquícios de uma bomba. — ele estende sobre a mesa fotos do gramado, eles haviam realmente escavado o estádio inteiro. — Bombas explosivas. O que comprova que realmente se tratou de um atentado terrorista. Apartir disso investigamos cada pessoa responsável pela organização, mas isso não nos levou a lugar nenhum. No entanto... — ele tira mais fotos do envelope, parecia se tratar de areia preta dentro de um vidro. — Nós analisamos a pólvora que encontramos no gramado e descobrimos que esse tipo de pólvora só é encontrado no norte da Espanha. O que muda completamente o rumo das investigações. 
Parece um soco no estômago. Informações demais. 
Para minha sorte, meu avô quem diz:
— Porém como descobriram que pode ter relação com nosso país e está fora da sua jurisdição, precisam do aval da rainha. — eles concordam. A atenção se voltando para mim.
O que eles queriam que eu dissesse? Tudo que eu conseguia era olhar para aquelas fotos e ver o que dilacerou meus pais e parte do time espanhol.
Agora, Andrea me diz que tem relação com a Espanha e ainda espera que eu tenha algo para dizer?
Olho meu avô e evito o rosto dos outros homens na sala. Ele também queria uma resposta.
— Leonor, você precisa… — não espero que termine, ao invés disso levanto-me, saindo o quanto antes daquela sala. Eu preciso de espaço.
Sozinha, do lado de fora, percebo como o ar estava denso ou, provavelmente, era eu que não estava conseguindo respirar direito. 
Caminho apressada pelos corredores, querendo voltar o quanto antes para meu quarto e ficar sozinha, porém, na metade do caminho, uma figura loira vem saltidando em minha direção. 
— Leo, Leo, Leo! — exclama, parando a minha frente — Você não sabe! 
— Não, não sei. — respondo categoricamente.
— Em homenagem aos reis e aos jogadores mortos, a seleção espanhola vai vir para Madrid. 
— Ah, sério? — tento demonstrar algum entusiasmo. 
Eles ainda estavam me esperando na sala?
— Você ama futebol, Leo. Não é incrível? Vamos conhecer os jogadores. O parlamento está organizando uma cerimônia!
— O parlamento? — ela assente. Porque eles fariam isso? Confusa, balanço a cabeça. 
— Não está feliz? 
— Estou. — respondo, claramente mentindo. Eu não conseguia parar de pensar no que me foi dito. Talvez acreditar em um acidente era melhor do que acreditar em um assassinato.
E eu não podia ouvir falar de futebol agora.
— Vamos conhecer os jogadores! Todos eles. Isso é incrível. — fazia meses que eu não a via tão animada com alguma coisa, por isso, por poucos segundos que fosse, até fiquei feliz.
Madrid receberia os atletas mais famosos do mundo atualmente e embora isso não me anima-se nenhum pouco, poderia ser bom para tirar um pouco o foco de mim.

Jogo Real - Gavi and Princess LeonorOnde histórias criam vida. Descubra agora