1º Ato

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A respiração de Alice era ofegante e não era possível esconder seu nervosismo quando Levi abriu a porta de entrada da casa. A madeira rangia sob seus pés enquanto ela e seus amigos entravam, um a um, com passos lentos e receosos. O rolê havia sido marcado a muito tempo, os 5 amigos queriam comemorar o aniversário de Cecília com algo que ela gostava — Casas assombradas.

Alice particularmente não gostava muito dessas coisas, preferia mil vezes ficar em casa e ler um livro de romance, ou assistir vídeos sobre psicologia humana. Mas como esse era um dia importante para sua amiga, concordou que uma vez só não podia ser tão ruim assim. Ela sabia que Cecília gostava muito dessas coisas de terror. Era muito comum quando as duas se encontravam e iam até a casa de Maitê para assistirem os novos filmes que lançavam, já que a outra amiga tinha praticamente um cinema em sua casa.

— Ok, pessoal. — Levi chamou a atenção de todos. — Estamos oficialmente dentro da casa com o maior número de assassinatos reportados na história.

Cecília sorriu e abraçou o amigo.

— Meu deus eu estou tão ansiosa pra explorar tudo! — Ela soltou o abraço e deu alguns pulinhos. — Eu trouxe algumas coisas pra gente fazer, acho que vai ser legal! — Apontou em direção à Miguel, que carregava uma mochila nas costas.

O garoto sorriu, tímido. Todos sabiam como Miguel era o medroso do grupo, desde que se conheceram no ensino fundamental, ele era o único que recusava brincar com coisas de espírito, assistir filmes de terror e até escutar sobre os casos de crime verdadeiro que Alice e Cecília traziam todas as vezes que se encontravam.

— E eu trouxe algumas coisas mais legais ainda... — Maitê piscou para Levi e os dois tiraram suas mochilas das costas para mostrar seu conteúdo, várias garrafas de cerveja e sacos de salgadinho. — Afinal, isso é uma celebração e não podia faltar.

Cecília não conseguia conter sua felicidade, batendo palmas e soltando gritinhos de empolgação.

— Feliz 20 anos pra mim! — Ela exclamou, com um sorriso gigante de orelha a orelha, jogando suas duas mãos para o alto.

— Vamos ver se essa casa tem uma sala, ou uma cozinha pra gente colocar essas coisas. — Disse Levi, que olhou à sua volta e começou a andar em direção ao interior.

Maitê colocou sua mochila de volta nas costas e fechou a porta, que rangeu como se reclamasse e nos avisasse que aquilo não era certo. Então todos foram atrás de Levi, que liderou o caminho pelo corredor.

A casa era antiga, mas parecia muito bem conservada. O piso de madeira rangia com os passos de todos, os papéis de parede definitivamente precisavam de um retoque, mas parecia bem mantida. Não havia um sinal de poeira em cima dos quadros, que Cecília fez questão de passar a mão para checar. Miguel andava encolhido como se cada item daquele lugar fosse engoli-lo, mas mantinha o ritmo da sua respiração com os exercícios que sempre fazia quando se sentia nervoso. Passaram pelo lado de uma escada que levava para o andar superior, com uma porta na base que, pela localização, provavelmente fosse a entrada para o porão. Levi tentou abrir, mas ao girar a maçaneta a porta não se moveu.

— Tá trancado. — Ele olhou pro resto do grupo e deu de ombros. — Mas tudo bem, a gente vê se consegue entrar depois.

O corredor finalmente havia chegado ao fim, e dois arcos abertos na parede mostravam a sala e a cozinha uma ao lado da outra.

— Nossa que lugar chique. — Disse Maitê, seguindo Levi para o cômodo e deixando sua mochila no chão ao lado da mesa de centro. — Nem parece assustador.

— Pois é... Achei que fosse ser pior. — Miguel colocou a mochila prontamente ao lado da outra e começou a andar pela sala, olhando seus móveis atentamente. Parecia mais relaxado.

Levi se jogou em um dos sofás e abriu sua mochila, pegando uma das cervejas, enquanto o resto do grupo andava pelo cômodo e investigava o local.

— Vou ver se consigo colocar as bebidas na geladeira pra gente, pra não ficar muito quente. Alguém quer beber agora?

Todos levantaram a mão, então ele deixou uma garrafa para cada em cima da mesa de centro e foi em direção à cozinha com a bolsa.

— Peraí, eu também tenho umas coisas na minha que podem ir na geladeira! — Exclamou Maitê, correndo para pegar sua mochila e ir atrás dele.

— Vocês precisam de ajuda? — Alice perguntou.

— Não, tá de boa. Vou só colocar tudo na geladeira e a gente pode começar a festa. — Respondeu Levi, que acenava com a cabeça para Maitê. — Anda, praga, quero explorar o resto da casa ainda hoje.

— Calma demônio, tá pesado aqui! — Ela respondeu, andando o mais rápido que pôde com a mochila nas mãos.

Levi e Maitê eram irmãos, a troca de ofensas era constante, mas os amigos já estavam acostumados. Estranho seria não ouvir os xingamentos 'carinhosos' entre eles. Os dois foram até a cozinha enquanto o resto do grupo analisava a sala.

O cômodo era composto de dois sofás, uma mesa de centro, a lareira, uma janela grande com cortinas gigantes transparentes que deixavam a luz do dia invadir o cômodo inteiro, alguns quadros antigos nas paredes e uma lâmpada. O piso de madeira, e os papéis de parede eram os mesmos do corredor. Tudo estava tão bem cuidado que se eles não soubessem a história daquela casa, jamais imaginariam que pessoas pudessem ter morrido ali.

Alice vai até a mesa de centro, pega uma das garrafas de cerveja que estava fria — mas não gelada como ela gostava — e abre com o chaveiro na mochila de Cecília (que Miguel carregava antes), os dois outros amigos na sala vem em sua direção para fazer o mesmo. Levi e Maitê voltam para o cômodo e também começam a beber, a antecipação daquele dia era grande e todos estavam ansiosos — e um pouco nervosos — para explorar a casa.

— Que tal uma musiquinha? — Cecília estava muito animada com a sua 'festa'.

Ela pegou sua caixinha de som em sua mochila e colocou sua playlist favorita para tocar. Segurou na mão de Maitê e as duas começam a dançar com suas garrafas como duas menininhas felizes.

— Vamos aproveitar porque temos o dia todo aqui! — Disse Levi, levantando sua garrafa ao ar — E a noite também! — Miguel, Alice, Maitê e Cecília vieram para perto e todos tocaram suas garrafas em um brinde.

As duas amigas voltaram a dançar e Alice resolveu juntar-se a elas rindo e mexendo o quadril de lado a lado no ritmo da música. Quando seu olhar cruzou com o de Levi conversando com Miguel do outro lado do cômodo, que sorriu de lado e piscou em sua direção, fez com que ela imediatamente olhasse para o outro lado enquanto corava. Ainda dançando para tentar disfarçar sua vergonha — ainda não tinha bebido suficiente pra isso.

Alice tinha um crush em Levi já a algum tempo, porém entre olhares, risinhos e piscadas nada nunca teria acontecido, devido ao seu receio de ter algum tipo de relação com o irmão da sua melhor amiga. O que ela não queria era que, caso não desse certo, seu relacionamento com Maitê deteriorasse e elas acabassem se distanciando. Era difícil manter a razão quando os olhos verdes do Loiro se encontravam com os seus. Ela sempre teve uma fraqueza por olhos claros, mas seguiria firme e forte mesmo se tivesse que lutar contra todas as probabilidades — e o álcool — para manter sua amizade intacta.


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Olá, e bem vindos ao meu continho de dark romance.

Este conto vai consistir de 5 capítulos, e será postado duas vezes por semana.

Espero que gostem ♥

Moonlight  | Dark RomanceOnde histórias criam vida. Descubra agora