PANDORA

Uma questão de confiança

— Ele vai trair você.

— Confiar em alguém é um jogo de aposta única. Um jogo justo e equilibrado 50 a 50, você nunca sabe até o momento exato em que as cartas são jogadas à sua frente.

— Eu prefiro eliminar as probabilidades de falha.

Wangji mal havia dormido naquela noite; a agitação da festa; o ciúmes que ele sentiu ao ver Wuxian com seu amante e sua esposa. Todo o ódio que ele teve de si mesmo por se colocar nessa situação, uma raiva por precisar se conter, por ter que ir além dos limites que ele sempre estabeleceu para si mesmo.

Quando ele levantou Wuxian ainda estava deitado, das noites em que eles dormiram juntos ele acha que consegue distinguir um pouco das feições do homem. As vezes ele acha que ele não parece estar realmente dormindo, mas é como se ele estivesse ao menos relaxado, como se ele estivesse seguro e Wangji sente que quer se apegar realmente a esse sentimento. Ele quer ter certeza que pode manter esse homem seguro mesmo que seus sentimentos não sejam correspondidos na mesma intensidade, mesmo que ele nunca o tenha como ele deseja. É estranho pensar que ele pode se contentar com tão pouco, mesmo que esse pouco seja o suficiente para transformar a sua vida, e por pensar nisso é que ele se odeia mais ainda.

— Wangji, eu preciso que você me informe cada passo dado dentro dessa casa durante a manhã toda, qualquer um que ousar entrar ou sair daí.

— Lan Huan, isso é arriscado. — Wangji disse para o irmão com certa cautela, mas o mesmo ignorou.

— Estamos nos preparando para invadir a casa. Eu tenho certeza que o Wuxian sabe sobre o irmão, prendendo ele podemos chegar ao irmão dele e finalmente finalizar esse caso. As câmeras de segurança dos arredores do apartamento de Su She mostraram uma movimentação suspeita por dois dias na semana da morte do homem. Um carro se aproximou do local e estacionou em frente a uma pequena floricultura por aproximadamente duas horas. Ninguém entrou ou saiu do carro, a placa também não foi localizada. Provavelmente uma placa fria.

— Mas como isso pode se ligar a Wei Ying?

— No dia da morte de Su She a mesma van ficou parada no mesmo local, porém nesse dia alguém desceu da van. Em um descuido a pessoa olhou para uma das câmeras de cctv de um dos carros estacionados e a busca no banco de dados correspondem a um possível Jiang Cheng.

— Irmão.

— Isso é completamente possível. Eu sei que ele desapareceu há anos, mas e se ele estivesse esse tempo todo na sombra limpando o caminho para o irmão.

— Talvez.

— Estamos em busca da arma do crime e de Jiang Cheng. Wuxian não teve nenhum comportamento diferente ou recebeu mais alguém em casa?

— Na verdade, aconteceram algumas coisas...

O dia na mansão começou mais agitado do que o comum para os preparativos da coletiva de imprensa. Yanli e Huaisang estavam coordenando os funcionários da casa para deixarem preparada a sala livre com uma mesa central e algumas cadeiras para receberem os jornalistas.

Um dos motivos utilizados para que a coletiva fosse no próprio lar era na estratégia deles, mostrar que não havia interesse em esconder nada, afinal as portas da sua casa abertas significam que você está pronto a receber quem quer que seja. Segundo Huaisang e Yanli isso demonstra familiaridade. Wuxian estaria se expondo para explicar algo dentro de sua casa, ao lado de sua esposa ainda doente após ser vítima de um cruel assassino e assim eles teriam a receita perfeita; as pessoas estariam prontas para acolherem a sua dor.