PANDORA

Venenos

O clima na mansão Wei tinha mudado e Wangji havia percebido isso, Wen Qing estava circulando pela casa sozinha e apesar de ainda não ter falado diretamente com Lan Zhan ele tinha pegado ela o observando e ele já estava pronto para ir embora, não podia mais forçar sua presença na casa, por mais que seu disfarce de escritor o tenha colocado ali e a fonte de Xichen na editora o estivesse mantendo se tornaria inviável ficar ali com a recuperação de Wen Qing.

Lan Zhan já estava tentando preparar o modo como ia conseguir sair da casa e ainda ser capaz de fazer parte do convívio da família.

Mas ele se surpreendeu quando entrou no escritório e encontrou Qing sentada na cadeira atrás da mesa olhando para ele. Wangji sabia ser frio e não demonstrar reação, mas o rosto de Qing mesmo sério demonstrava muitas emoções e isso o estava deixando desconfortável.

— Wangji, acho que precisamos conversar, sente se. — Ela indicou a cadeira à sua frente para ele.

— Você já se recuperou completamente? — Wangji disse e ela o olhou com um pequeno sorriso.

— Estou... digamos, bem o suficiente para conversarmos. — Lan Wangji sentou- se na cadeira em frente dela.

— Wuxian... ele me disse que você foi escolhido para a sequência de meu livro, eu não vou interferir nisso... eu estou me recuperando de um trauma — ela abaixou a cabeça tentando parecer afetada pelo evento citado, mas Wangji não achou que ela estava sendo sincera.

— Então podemos ao menos discutir a maneira como você quer que os personagens continuem, o verdadeiro assassino e o destino dele. — Wangji queria ver qual era o interesse de Qing nessa conversa.

— Não acho necessário, vou deixar em suas mãos, acho que você pode ser capaz de solucionar o mistério. Acredito que você já deve ter percebido que meus personagens têm 'alma' e se movem no limiar entre a razão e a emoção, não existe o certo ou errado, como na vida... existem escolhas e consequências.

— O final que você tinha em mente, era trágico? — ele perguntou e Qing se levantou e olhou para as janelas.

— Defina trágico? Ser um predador não é um crime quando se vive entre tubarões, não é mesmo? Sobreviver é um desejo justo, lutar para viver é essa a essência da história, ir além e descobrir o que você estaria disposto a fazer para sobreviver.

— Entendo.

Wangji sabia que essa conversa estava indo muito além dos personagens, o que ele não entendia era qual o motivo de Qing estar ali falando isso com ele.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos e antes que voltassem a falar ouviram uma batida na porta, era Yanli.

A mulher estava mais informal hoje do que no dia que Lan Zhan a viu pela primeira vez, ela estava com o cabelo preso em um rabo de cavalo e com um vestido branco com flores lilás.

— Qing, Wangji, espero não estar atrasada — ela disse, abrindo a porta e dirigindo-se para o lugar onde Qing estava sentada minutos atrás. Antes de se sentar, ela pegou nas mãos de sua cunhada, olhou-a de cima para baixo e abriu um sorriso — Você está linda! Vejo que está se recuperando bem. — Elas sorriram amigavelmente, e Yanli se sentou. — Bom, Wangji, eu irei direto ao ponto. Como você pode ver, minha cunhada tem se recuperado muito bem, mas não achamos adequado que ela volte a escrever por agora. Isso pode atrapalhar sua recuperação. Traumas psicológicos podem ser difíceis de serem curados; alguns de nós nunca conseguem se reerguer depois de algo assim, como Qing sofreu. A memória dela ainda apresenta falhas, pedaços apagados. Obviamente, o consciente dela a querendo proteger — Yanli fala cada palavra com muita certeza e sem vacilar nenhuma vez. Realmente deve ser uma ótima advogada; Wangji aprecia essa habilidade.