Conexão

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Gabriela Davies

Estava sentada ao lado de Joy no banco do pátio quando observei Melina parada em um pilar, com o olhar fixo em nós.

- Ela é lésbica? - De repente, Joy indagou, simplista.

- Lésbica? - Gargalhei - Não, ela é hétero e ex namorada do meu irmão.

- Ah, entendi - Pareceu envergonhada depois da resposta. Levantou o olhar e fixou Melina - É que dez do começo das aulas ela não tira os olhos de mim, pensei que fosse.

- Você é bonita e inteligente, todos olham, mas ela é assim mesmo - Observei alguns garotos que estavam jogando vôlei na quadra colorida - Daqui a pouco passa.

Observei um homem alto e de cabelos pretos se posicionar na quadra. Seu braço direito era coberto por tatuagens e seus olhos brilhavam em alguns tons misturados de verde, tinha também um piercing no lábio inferior. Quando a bola chegou em seus dedos a repassou para o outro lado da rede, com uma força inexplicável. Pasmei e arregalei minimamente os olhos. Que tapa intrigante.

- Imunda - De repente, ouvi o soar da voz de Blake - Você não vai acreditar - Ele mirou meus olhos e logo ficou os de Joy. A secou de cima a baixo - Ah, prazer, Blake.

- Prazer, Joy - Sorriu aberto e apertou os dedos de Blake, em forma de cumprimento.

- Esse é o meu irmão Joy - Simplifiquei e observei Blake sentar em minha esquerda, ficando entre mim e a ruiva.

- Derik veio falar comigo - Arregalei os olhos e observei a feição de Blake se tornar árdua - O filho da puta achou que eu não soubesse da traição.

Joy olhou pra mim e arregalou os olhos. Ela juntou os pontos, pensei - Não acredito - Levei a mão direita nos lábios.

- Desgraçado. Nem entrei na quadra pra jogar vôlei hoje, ele está lá.

- Não vai jogar por causa dele? Divida as coisas, não seja assim.

- Não estou com cabeça pra olhar pra ele - Fechou forte os olhos e suspirou pesado - Vou à biblioteca, pego você na saída.

Afirmei com a cabeça e mirei Blake sair, cabisbaixo.

- Melina traiu seu irmão com esse tal de Derik? - Joy questionou. Ela realmente era esperta e juntou os pontos. Fiquei meio em dúvida se rebatia ou não, mas como percebi alguns minutos atrás, parecíamos irmãs a mais de anos, como uma conexão forte.

- Sim.

Sua expressão agora era de dúvida - Quem trairia o seu irmão? - A olhei com dúvida e percebi suas bochechas se avermelharem - Quero dizer-.

Sorri e a interrompi - Ok, já entendi que gostou do meu irmão.

- O que? Não! - Desesperada e envergonhada, buscou uma justificativa - Eu quis dizer que tipo, que tipo de mulher faz isso, entende?

- Uhum, entendo - Gargalhei baixo e senti um soco leve em meu ombro.

O horário de intervalo se encerrou e voltei para a classe, ao lado de Joy. Durante as três aulas que restaram fomos conversando mais um pouco, era surreal a maneira de como nos completávamos e gostávamos das mesmas coisas. Gostei dela. Não tinha tantos amigos ali dentro, talvez seria uma nova oportunidade de tentar.

- Prove o uniforme e veja se ficou bom, caso não, a gente troca amanhã. Pode ser? - Indaguei e vi Joy confirmar com a cabeça. Blake apareceu em minha direita, com a vestimenta amassada e os cabelos embaralhados. Ajeitou a mochila nos ombros - O que aconteceu com você?

- Não tô afim de conversar. Estou no carro - Bufou e caminhou rapidamente.

- O que será que-?- Joy questionou.

A interrompi novamente - Não faço ideia, mas eu converso com ele. Até amanhã.

- Até amanhã - Ela acenou com as mãos e caminhou na direção oposta.

Caminhei até o carro e quando entrei, Blake estava fuzilando o volante com os olhos. Tirei a mochila dos ombros lentamente.

- O que aconteceu? - Arregalei os olhos. Nunca tinha visto ele daquela forma. Não obtive retorno, então indaguei novamente - Blake, o que aconteceu?

- Derik, Derik aconteceu - Abaixou a cabeça e bufou. Fechou os dedos e tornou os punhos fechados, como se estivesse querendo socar algo.

- Tudo bem - Joguei a mochila para o banco de trás - Sai.

- Sai da onde, tá louca?

- Você não está em mínimas condições de dirigir, Derik Davies. Sai daí.

Sai do assento do passageiro e esperei Blake sair do motorista. Saiu batendo os pés e bufando, se jogou no banco passageiro. Agarrei leve o volante e dei partida.

- No que você se meteu? - Com o foco no trânsito, questionei.

- Aquele filho da puta não sabe comer direito uma mulher e veio de gracinha pro meu lado - Suspirou lento e desviou o olhar, para a paisagem fora da janela.

- E porque a roupa amassada?

- Trocamos alguns minutos de empurrões no vestiário.

- Só isso?

- Só isso.

Engoliu em seco e brincou com os dedos por cima das coxas. Estacionei o carro na garagem de casa e quando Derik desceu, o agarrei pela manga da blusa.

- Deixa eu ajeitar essa tua roupa, se não a mamãe vai te matar - Passei os dedos pelos lugares amassados os deixando "alinhados" e ajeitei minimamente os fios de cabelo de Blake.

-Mãe? - Após ultrapassar a porta, Blake questionou, mas não obteve retorno - Acho que saiu - Subiu os degraus da escada e se trancou no quarto, eu sabia que seu ódio naquele momentoera maior do que tudo.

Caminhei até o meu quarto e retirei a mochila dos ombros, coloquei-a na escrivaninha. Mirei a cortina vedada aberta e por trás dela a janela da outra casa. Me parecia um quarto, porém ainda bagunçado, cheio de caixas e roupas espalhadas, as paredes eram pretas. É compreensível, já que acabaram de se mudar. Observei por cima de uma pequena escrivaninha, uma camiseta masculina preta, presumi que aquele fosse o quarto do tal irmão de Joy.

Mirei a bagunça por mais alguns segundos até que a luz foi apagada. Assustei e desviei o foco. Ia retirar a vestimenta para entrar no chuveiro, quando ouvi a voz doce de mamãe vocar meu nome.

- Gabriela? - Ouvi os passos fortes da mulher nas escadas. Abriu a porta do quarto - Como você está, querida?

- Estou bem - Sorri aberto - Conheci a nova vizinha hoje, na faculdade.

- Jura? Isso é bom - Fechou a porta e caminhou para dentro do quarto, sentou-se na esquina da cama.

- Juro - Sentei-me em seu lado - Ela é diferente. Parece que nos conhecemos há anos. É estranho.

Ela gargalhou - Não é estranho, querida. É conexão - pegou minhas duas mãos e deixou ali, uma carícia. Mirou meus olhos - Agora me diga, onde está seu irmão?

- Está no quarto, provavelmente.

- Ele me contou tudo o que aconteceu com Melina, só queria averiguar se ele já melhorou em relação à isso, ele gostava muito dela, e eu também.

- As vezes as aparências enganam, mãe.

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Essa Gabriela vendo a bagunça dos outros KAKDKDKSKSK

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