A Liberdade Sumiu Junto da Dignidade

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22 ANOS DEPOIS.
A estrada rochosa deixava a viagem mais insuportável para o rei, sua filha, e um pote de cinzas. Olhando para a janela e vendo o cenário de campo subitamente mudar para outra feira de comerciantes, a jovem princesa reflete se aquilo mudaria alguma coisa: se aquele casamento mudaria quem ela é.

— Como está se sentindo, minha querida? — a voz rouca saía com leveza ao se dirigir para a filha.

— Isso é mesmo nescessário? Eu não... — olhava para suas mãos procurando maneiras de se expressar — Eu não — sua voz falhava — eu não sei se eu quero isso. Um casamento arranjado? Isso não é pra mim, eu nunca nem senti... — é rudemente interrompida por seu pai.

— Qual é o seu problema, Catz? Seu reino pode entrar em falência e você quer falar de amor? — fala com incredulidade, como se o pedido fosse um absurdo.

A garota notava a aspereza na voz do pai. Seus olhos lacremejavam, mas ela não permitiu que uma lágrima caísse.

Tampava a própria boca com a mão, apoiando o braço na janela da carruagem, para que nenhum som saísse de sua boca se uma lágrima acabasse escapando; enquanto acariciava o pote de cinzas que se encontrava sua mãe.

O resto da viagem a jovem apenas continuou à brincar com os retalhos do vazo de cerâmica de cinzas de sua mãe; podia lembrar de quando fez a peça, e podia lembrar do pedido por escrito da rainha que, para quando morresse, após ser cremada queria ficar em seu pote de cerâmica favorito, na tutela de sua filha; não importa a onde você estiver, minha linda quartzo, eu quero estar com você. Ouvia a voz materna incessantemente.

— Como sinto sua falta, mamãe — sussurou para o jarro, enquanto seus dedos seguiam as linhas de cada detalhe, junto às imperfeições, que, na visão da mãe, sempre foram perfeitas; e sem perceber: lágrimas caíam, involuntárias, com as lembranças. — Nosso reino está entrando em falência há décadas — murmurou entre soluços quietos com a garganta latejando de dor.

— Procure não estar tão emotiva quando conhecer seu noivo.

As palavras do pai latejaram na cabeça da mulher quanto mais a carruagem chacoalhava. Emotiva, pensou:
Esse é o dia que vai mudar o resto da minha vida.

Meu pai foi burro de aceitar este acordo. Não entendeu que depois do casamento; o reino, que antes era dele. Passaria a ser meu e de meu futuro marido.

Minha vida vai virar de cabeça para baixo pela estupidez de meu pai. Vai tudo mudar irreversivelmente, e não tem nada que eu possa fazer quanto à isso; minha única opção é ver meu pai afundar cada vez mais na cova que ele mesmo cavou.

Suas ruínas virarão poeira e um castelo com o nome do inimigo será erguido em seu lugar. Nem uma vaga lembrança seu povo o terá; e eu acho que eu estou bem com isso. Não. Eu sei que estou bem com isso.

Sua cabeça parou de pensar em seu pai ao ouvir um dos cavalos relinchar e o balanço da viagem parar.

— Chegamos! — anunciou o cocheiro, descendo da boléia com rapidez, com passos de pouco barulho chegando à porta do rei a abrindo; equanto o sota-cocheiro andava em direção à porta da princesa.

— Eu consigo abrir uma porta sozinho, seu imprestável! — o homem resmungou de forma que pessoas ao redor achariam as palavras incompreensíveis, se tornando apenas os grasnados de mais um velho.

O cocheiro não mostrou desconforto, nem encomodo, sabe que o homem está na idade de falar coisas inconvenientes e sem sentido para demonstrar ter algo a falar.

— O senhor treme mais do que essa carruagem durante a viagem toda, pai! — repreendeu a mulher, enquanto abria a própria porta, açoitando o sota-cocheiro, que ainda estava à meio metro da porta aberta — Precisa de mais ajuda que eu, homem teimoso. —  segurava parte do leve vestido verde que usava, para evitar danificar o tecido de tule verde claro, que sobrepunha a ceda, verde, mais escura. Colocando seu sapato, também em tons de verde, no chão com firmeza. Tendo certeza de que não cairia colocou o outro e desceu completamente da carruagem.

Royalty Can('t) Only Fight BackOnde histórias criam vida. Descubra agora