Um estranho na minha casa

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Tem sido uma semana bastante ocupada desde que comecei a trabalhar na cafeteria, sair da faculdade e já ir direto para o trabalho não é nada fácil.
 - Mais alguma coisa, senhora?- Perguntei a senhora fofa que desde que comecei a trabalhar aqui não faltou nenhum dia.
 - Não, minha filha, boa tarde lindinha. - Uma fofa ela.
 Estou sendo encarregada de ficar no caixa e limpar as mesas, é um trabalho tranquilo, só que hoje irei ir embora sozinha, meu pai não poderá me buscar, hoje é sexta, dia de se embebedar. 
 - Com ou sem açúcar? - Perguntei sobre o café da outra cliente.
 - Sem açúcar, por favor.- Uh, café sem açúcar é horrível.
 - Kiara.- Escuto minha chefe me gritando do fundo, espero que não tenha feito nada de errado.
  Finalizo o pedido da moça e vou a até minha chefe. Quando chego na despensa vejo várias caixas fechadas, droga! Irei ter que colocar tudo isso no lugar.
 - Sei que o nosso combinado foi às 20 horas, porém, hoje você só irá sair assim que ajeitar tudo isso.
 - Tudo bem. - Tudo bem, nada, ela acha que amanhã acordo meio-dia? Tenho que acordar 5:30 para estar na faculdade 7 horas. 
 - Tenha uma boa noite, senhora. - Muitas pessoas idosas vêm nessa cafeteria, não vejo nenhum jovem da minha idade, apesar de que numa sexta-feira uma jovem de 21 anos não estaria numa cafeteria 18:00 horas da tarde, e sim se arrumando para uma festa.
 - Você aceita sua via?
 - Não, eu irei querer mais um café, por favor, e um croissant.
- Ok, deu 18 reais no total.- Finalizo o pedido e já pego um pano para poder limpar as mesas, já estamos quase começando a limpeza da loja em geral, e eu irei para a dispensa organizar todas aquelas caixas.
 - Kiara, esfrega mais essa parede, está muito gordurenta, e depois quero que reponha mais açúcar nas mesas, e também repõem mais pão de queijo nessa bandeja. 
 - Sim, senhora.- Sinto meu celular vibrar dentro do meu bolso. Era o Bryan, meu namorado, não pude atender na primeira chamada, pois estava muito ocupada torcendo o pano. Oh meu deus! Uma barata morta!
 - Alô, Bryan? Desculpe não atender, estava ocupada.
- Você sempre está agora né? Agora seu trabalho é sua prioridade, antes era só a faculdade, agora o trabalho.
 - Bryan, eu estava limpando o chão, por isso não te atendi, e agora estou falando com você, não precisa disso. E você sabe que te amo, e você sempre será minha prioridade.
 - Não parece, preciso te ver.
 - Ótimo, hoje meu pai não vai me buscar, você pode me levar.
 - Ok, me fala as horas que estará fora desse lugar e eu te busco.
 — Irei te esperar naquele ponto de ônibus, certo? - Desligo em seguida, minha chefe já estava me encarando. 
 - Pode organizar o estoque enquanto eu finalizo a limpeza do salão da frente.
 Eram 10 caixas, algumas tinha farinha, outros cafés para vender, café em pó, massa dos pães de queijo, sucos, massa de bolo. Tinha muita coisa, mas eu gosto de organizar, me traz tranquilidade, é o que preciso para enfrentar meu namorado, e depois um pai bêbado, e ainda, sim, ter que fazer atividades da faculdade e estudar.
 Faltava apenas uma caixa quando vejo duas ligações perdidas de Bryan, ah droga!
 - Oi, Bryan, desculpe não ver suas ligações, eu estav…- Ele me interrompe.
 - Ocupada? É isso! Você não está tendo mais tempo para mim!
 - Eu estou no trabalho, Bryan. Não tem como eu conversar com você 24 horas.
 - Esse é o problema, eu não consigo passar nem 10 minutos sem falar com você, sem pensar em você, parece que você não valoriza o namorado que você tem.
 - Tá bom, desculpe me. Como recompensação, amanhã não irei trabalhar e passarei o dia todo com você, o que acha?
 - O mínimo.- Ele desliga o telefone. Eu queria muito vim trabalhar, mas, ele realmente está demonstrando que quer me ver e estar comigo, é injusto não ficar com ele, é só um dia, ele é meu namorado.
 Termino de arrumar as caixas e agora finalmente posso ir embora. Já eram 22:45 quando sai da cafeteria.
 - Olá? Bryan? Onde você está? Já sai do serviço, estou te esperando.- Mandei mensagem, mas não chega, eu ligo, mas só cai na caixa postal, que droga. Não quero ir sozinha, estou com medo.
 O caminho estava tranquilo, estava um frio bem de leve, parecia que ia chover, amo quando o clima está meio nublado e fresco.
 Já se passaram 20 minutos e nem sinal dele e muito menos no celular dele. Ok, irei sozinha, é melhor do que ficar aqui esperando alguém que talvez nem venha. Minha casa é 30 minutos daqui indo a pé. Vamos Kiara, você consegue.
 Faltava mais ou menos 10 minutos até chegar em casa, até que percebo um carro preto me seguindo, já tinha alguns quarteirões que ele me seguia. Tentei caminhar mais rápido, virei algumas ruas cortando caminho, mas ele continuava me seguindo. Estava perto de casa, então apressei mais o passo.
 Cheguei em casa desesperada, fui em direção ao quarto de meu pai, porém, ele não estava, ligava e ligava para Bryan e ele não atendia. Olhei pela janela e o carro continuava lá. Eu não sabia o que fazer. Talvez ele more aqui por perto, veio visitar alguém. Ou posso estar delirando por conta do medo de andar sozinha. Mas eu continuo sozinha nessa casa, sem proteção alguma, sem ninguém para me socorrer. Droga.
 Vejo a porta do carro abrir, um homem sai de lá. Merda. Ele é alto, conseguiria facilmente me mobilizar com um braço só. Seus músculos são perceptíveis através da regata que está usando, um look bastante informal para matar alguém. Ele está parado. Agora pegou o celular e começou a digitar alguma coisa. Escuto meu celular vibrar. Meu deus. Eu deveria ir ver? Deveria sair da visão dele? E se quando eu for pegar o celular ele não tentar entrar? Eu deveria...?
 Saio da janela, lentamente, e caminho até a direção do meu celular que está na mesa ao lado do sofá.
 - Me desculpe pelo atraso.- DROGA, era o Bryan. Não! Espera! QUE BOM! Ligo imediatamente para ele. Atende! Atende! Atende!
 - Alô? Bryan? Estou precisando da sua ajuda, venha para minha casa agora!
 - Oi? Como assim? O que aconteceu?
 - Acho que tem alguém me observando.
 - Pode ser o vizinho, calma.
 - COMO ASSIM CALMA?
 - Ei! Por que está gritando comigo? Não sou eu quem está te observando, se acalma ki. Não é nada de mais.
 - Tá, pode não ser, mas venha para cá. Estou com medo.
 - Relaxa, não vai acontecer nada. Não posso ir agora.
 - Oi?! Por que não?
 - Tenho que..que.. De..desligar. Boa noite ki.- Merda. Por que ele parecia estar tão feliz? Ele nem se importou comigo, merda!
 Desligo o celular e me sento no sofá, fiquei tão estressada que esqueci que ainda poderia ter um estranho aqui por perto. Escuto batidas na porta. Ai meu deus! Subo as escadas velosamente até o quarto do meu pai e procuro pela arma escondida dele. Ela estava na caixa de sapatos dele, nunca mudou o esconderijo.
 Pego a arma e desço até a porta, ainda se ouvia batidas na porta e as batidas do meu coração cada vez mais fortes e aceleradas. 
 Nunca puxei o gatilho. Será a primeira vez?
 Estou caminhando até a porta. Estou perto. Estou com a mão na maçaneta. Antes, olho pelo olho vivo, ele está de máscara.
 - QUEM É?- Grito tentando não demonstrar desespero na voz, mas falho em sair toda tremida.
 Não ouço resposta, pergunto novamente. - Quem é? Irei chamar a polícia se não responder!-
- Acho que seu pai está muito ocupado bebendo para lhe proteger. Kiara.- Finalmente ouço uma resposta, e é o suficiente para gelar todo o meu corpo. Uma voz rouca, intensa e inexpressiva. Ele parecia calmo. Como ele sabe meu nome? Como ele me conhece?
 - Por favor. Vai embora.- Com a voz trêmula e quase chorando, eu implorava para ele ir embora. Eu estava com medo, muito medo.
 - Precisamos conversar antes, não irei lhe machucar. Mas se você não quiser me ouvir, talvez eu irei machucar as pessoas que você ama. Abre a porta por favor.
 - Não. Não. Não.- Falo tão baixo que soa como um cochicho.
 - Não me faça pedir novamente Kiara. Não serei educado da próxima.
 - Por... por.. fa... favor... vai embora.-
 Escuto murros fortes na porta, me afasto rapidamente. Com apenas um chute ele quebra uma parte da porta. Eu corro desesperadamente para meu quarto e tranco a porta. Eu sei que ele já entrou, ele está aqui dentro de casa. Preciso ligar para a polícia, mas deixei meu celular na sala. Merda.

Em busca do meu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora