O estranho não é tão estranho

21 1 0
                                    

Estava sentada no chão agarrada aos meus joelhos, estava desesperada, meu coração estava quase para fora da minha boca, estava tremendo muito.
- Vai embora, por favor, vai embora.- Eu repetia várias e várias vezes. De repente, ouvi batidas na porta.
- Kiara? Está tudo bem? O que aconteceu?- A voz era familiar, era do meu pai. Abri a porta em segundos, e quando o vi pulei em seus braços.
- Pai, que bom que você chegou, tem um estranho aqui, toma cuidado.
- Do que você está falando? Não tem ninguém aqui. Eu cheguei já tem meia hora, achei que estava dormindo, mas escutei choros vindo do seu quarto. - Como assim já se passaram meia hora? Na minha cabeça não se passaram nem um minuto.
Desço as escadas e a porta que estava com um pedaço faltando perto da maçaneta estava intacta, sem sinais de arrombamento. Como isso é possível? Eu estou delirando?
- Filha, o que aconteceu que você está assim?-
- Nada, Pai. Acho que estou ficando louca.-
- Deve ser o estresse por conta da rotina.-
O lado bom de ter um pai que sempre está bêbado é que ele não liga se você está ficando louca ou vendo coisas, ele está ocupado demais tentando demonstrar que não está bêbado.
Volto para o meu quarto muito, confusa, muito sem entender o que acabou de acontecer, será se estou louca?
Sento na cama me sentindo muito mal, eu estava calma, mas não estava ao mesmo tempo. Quando olho para a janela vejo um post-it colado. Meu coração já acelera só de ver. Me aproximo para ler o que estava escrito. "Posso te ajudar a achar sua mãe, Kiki."
-Kiki? Era assim que minha mãe me chamava quando eu era pequena. Como ele sabe disso? E como ele pode me ajudar?
Quando olho melhor para a rua, vejo que o carro dele está estacionado na rua da minha janela. Uma rua abaixo da que ele estava antes. Eu deveria ir lá? Deveria perguntar quem é ele? O que ele quer comigo? Se quero respostas, acho que é preciso eu ir.
Coloco um casaco, pois já estava frio. Caramba! Já era 2 da madrugada, como o tempo passou tão rápido assim?
Estava descendo as escadas, estava com medo, mas qualquer coisa eu gritava, corria, sei lá. Infelizmente sou bastante curiosa. Não conseguiria dormir essa noite sem pensar nisso.
Estava descendo a rua, ele me viu, começou a olhar diretamente na minha direção. Agora ele não está mais usando regata, está com uma blusa de frio, está usando uma máscara e um boné, não consigo ver nada além dos seus olhos. Agora ele está caminhando em minha direção agora.
Consigo sentir o sangue borbulhar no meu rosto, minha respiração cada vez mais ofegante.
Engulo seco antes de dizer qualquer coisa.
- Quem é você?- Falo encarando ele, apesar de ser alto, e bastante intimidador, tento demonstrar que não tenho medo dele.
- Você está com medo?- Ele pergunta se aproximando e se abaixando para ficar da minha altura.
- Se você quiser encontrar sua mãe, irá precisar ser mais corajosa.
- Como assim encontrar minha mãe? Do que você está falando? E por que você quer me ajudar?
- Você quer achar ela?- Seu tom de voz fica mais ameaçador.
- Sim.
- Então, sem perguntas. Me encontre amanhã às 15 horas da tarde no parque.
- Para quê?
- Não escutou? Sem perguntas.
- Eu não sei se poderei ir a tarde, já tenho planos.
- Então desmarca, não tenho tempo para perder.- Ele fala se virando e indo embora. Corro atrás dele porque sinto que essa conversa não acabou.
- Espera, por que eu deveria confiar em você? Nem seu nome eu sei, por que eu deveria ir?
- Eu irei lhe dizer, mas terá que confiar em mim.
Novamente ele se vira e vai embora. Dessa vez eu o deixo ir, já vi que não vai ser fácil tirar alguma informação dele.
Volto para casa e meu pai já tinha capotado no sofá e roncando, acho que deveria tomar um banho para relaxar, apesar de já estar de madrugada e amanhã não faço ideia que horas irei acordar. Ah, droga, prometi que iria passar o dia com Bryan, ele já está bravo comigo por não dar tanta atenção. Agora, como explico que irei encontrar um estranho que apareceu do nada?
Mando mensagem avisando que amanhã irei trabalhar e não terá como eu o ver, será que não estou confiando demais naquele estranho? E se ele quiser me sequestrar? Vender meus órgãos? Se bem que ele poderia ter feito isso, mas não fez. Acho que posso confiar.
No outro dia acordo 11 da manhã, com 2 mensagens de pessoas que não gostaria de receber, primeira era minha chefe perguntando onde eu estava, e a outra era do Bryan surtando porque não iria me ver e achando que eu estava o traindo. Merda, ele quer me ver hoje as exatas 15 horas.
- Oi, amor? Tá ai?- Repito 3 vezes e não escuto a voz de Bryan. Será se ele está bem?
- Ah, oi, Ki. Infelizmente não poderei às 14 horas hoje, estarei ocupado.- Ele fala todo ofegante.
- Era 15 horas, na verdade, mas tudo bem, iria falar o mesmo.
- Como assim? Está vendo porque digo que não me ama mais? Não tem mais tempo para mim e quando tem inventa desculpas, sério. Tchau.- Ele desliga na minha cara. Não sei se fico estressada ou aliviada por poder conversar com o estranho tranquilamente.
Já eram 14:30, eu estava pronta já. Coloquei uma calça legging e um top de manga branco, básico que funciona. Irei aproveitar para fazer uma caminhada até o parque, faz muito tempo que não sai para andar sozinha e com um fone de ouvido. Tinha esquecido o quão bom era. Sempre saia com o Bryan, e sei lá, por mais que ele seja meu namorado, não gosto muito da presença dele.
Já estava no parque, tinha várias pessoas lá, era sábado, então tinha bastante famílias reunidas. Várias crianças correndo, pulando, sorridentes, como eu amo ver crianças sendo felizes.
Infelizmente não lembro de como era minha infância, mas as poucas memórias que tenho é com minha mãe, lembro que ela me ensinava a pintar. Meus quadros ficavam horríveis, mas ela sempre dizia que eram perfeitos só para ver meu sorriso no rosto. Sem perceber, uma gotinha de lágrima escorreu no meu rosto. Droga, crianças me deixam vulnerável.
Avistei um homem no mesmo porte que o estranho de ontem, todo coberto, de preto, máscara e boné. Nem um pouco discreto diria. Ele está sentado num banco um pouco afastado da multidão, a sombra da árvore faz o lugar aparecer ser bem fresco de se ficar.
Olá!- Falo me aproximando dele.
- Finalmente.- Ele fala olhando o relógio que estava no pulso dele. Ele estava sentado com as pernas abertas e o braço jogado no banco. Mas logo se ajeitou, fechando as pernas e entrelaçando suas mãos e balançando a cabeça para eu sentar do seu lado.
— Então, o que tem para me falar? - Ele fica em completo silêncio após minha pergunta.
- Esqueci de dizer para lhe trazer algumas roupas, iremos ficar alguns dias fora da cidade.
- Oi? Com assim? Você acha que não tenho pai? Namorado? Vida? Você acha que posso simplesmente abandonar tudo para ir para um lugar que nem conheço com alguém que nem sei o nome?
- Acho.
- Você deve estar brincando.
- Na verdade, lhe peço desculpas por não avisar antes, acabei de ter a ideia, Kiara.
- Ah, sim, porque do nada a gente pensa "hum porque não sair da cidade em plena 15 horas da tarde de um sábado qualquer"
-  Vejo ele me encarar mesmo com a máscara e o boné.
- Se você quer saber onde está sua mãe, o que eu quero com você, porque eu sei tudo sobre você, é só me acompanhar.- Ele fala se levantando e indo em direção do seu carro que estava estacionado do outro lado da rua.
Ok, seria maluquice aceitar essa ideia? Ou só seria pura curiosidade de saber onde está a própria mãe? Tá bom, me convenci de que irei.
- Me espera.- Saio correndo em direção ao estranho. O carro dele era uma porshe, não tinha reparado de longe, mas, meu deus, que carro lindo.
Entro no carro e ele me olha.
- Você é sem noção igual sua mãe Diana.- Quanto tempo não ouvia esse nome, ele foi proibido de ser pronunciado assim que minha mãe, Diana, abandonou papai e eu.
- Como você confia tão facilmente assim Ki? Eu nem te mostrei nada e você já está disposta a ir para outra cidade com um estranho?
- Você sabe de coisas que nunca falei para ninguém, só meu pai e eu sabe.
- O nome da sua mãe não é algo tão difícil de se achar assim.
- Estou falando sobre você me chamar de Kiki, só ela me chamava assim.- Ele ficou parado, sem respostas, apenas parado olhando para frente. Até que ligou o carro.

Em busca do meu inimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora