Sonhos de sangue

6-ressuscitando os mortos

O tempo parecia ir mais devagar dessa vez.

Eu não conseguia parar de pensar oque deveria estar naquele caixão

Eu preciso deixar isso em segredo

Se só de sair de um hotel com meus dois melhores amigos já estão achando que eu tô noiva dos dois ou que eu sou uma puta, imagina se descobrem que vou abrir o caixão do meu falecido irmão

Acho que Aline no mínimo me deixava internada

Agora estava no carro já indo para o cemitério

E novamente minha mente se perde em meus pensamentos

Aquilo foi só um sonho como todos os outros, mas então por que aquilo me incomodava tanto?

Aquele era mesmo o meu irmão?, mas como?

Ele morreu, eu vi o caixão

Ele realmente teria me matado se aquilo não fosse um sonho?

Coloco minha mão em meu pescoço aliviada de não ter minha cabeça rolando pelo chão

Ele estava derretendo que nem a criança que me salvou do fogo? Mas se ele também estava no meu sonho, então quer dizer que os outros sonhos que eu tivera estão ligados?

O mar, a varanda, o fogo, aquele quarto, a ilha, o colar, o caixão, e ele

Isso é algum enigma? Mas para onde isso me levaria?

Oque teria no X do mapa?

Antes que pudesse pensar em mais alguma coisa, ouço alguém me chamar incansavelmente

- Senhorita Sinclair! Senhorita Sinclair!

- Eu já ouvi caralho

- A senhora anda muito desatenta hoje, aconteceu alguma coisa? Essa sua visita para o cemitério tão inesperada é meio estranha

Falou Aline já se soltando de seu cinto de segurança

- Eu já lhe disse Aline, eu só quero confirmar uma coisa, fique no carro, pretendo ser breve

Falei já saindo do carro, mas sem olhar em seu rosto

- Não posso deixar você andar sozinha por aí, ontem mesmo você já estava quase noiva de duas pessoas

- Pare já com isso, e oque eu falei não foi um pedido, foi uma ordem... Não me siga

Falei em um tom de voz sério

Aline apenas assentiu com a cabeça de foma positiva e se virou para seu tablete

Assim que entro posso ver um senhor que já deveria ter por volta de seus 65 anos numa cadeira de plástico adormecido

Me aproximo colocando minha mão sobre seu ombro o acordando

Assim que o senhor vai acordando e percebe que tem mais alguém no lugar toma um susto se levantando da cadeira

- Me desculpe, não queria ter lhe assustar

- Eu que sinto muito senhorita, não recebemos muitos visitantes, então eu achei que você fosse uma assombração, eu sinto muito

Falou o velhinho se encolhendo

- esta tudo bem, eu vim aqui para ver uma coisa meio absurda, mas é algo que eu realmente preciso fazer

- Acho difícil aqui não é um shopping onde possa comprar roupas ou uma loja cara se é que me entende

- A não vim comprar nada, eu quero desenterrar um corpo

Ouve um momento de silêncio e tenção depois de minha última fala

- Desculpe, acho que entendi errado, a senhorita quer desenterrar oque?

- Um corpo, mas especificamente o do meu falecido irmão

- Isso deve ser um sonho, eu vou voltar a dormir

- A não, isso não é um sonho, é eu realmente preciso desenterrar o meu irmão

O velho apenas se senta e coloca um chapéu de palha meio velho sobre seu rosto tampando a luz

Bati o pé me virando para as covas procurando a de Lian sinclair

Já fazia uns 10 minutos que eu olhava aquelas lápides sujas e algumas estavam quebradas e até pichadas

- Nem os mortos tem sossego nos dias de hoje

Após andar mais um pouco consigo ver uma lápide meio rachada, mas que mesmo assim dava para ler

LIAN SINCLAIR
1997-2013

Ali estava

Em um momento penso bem se realmente deveria fazer aquilo

Eu deveria consultar alguém antes, mas como posso dizer isso?

Não posso simplesmente dizer que vou desenterrar um corpo

Eu não queria e nem quero fazer isso

Mas algo dentro de mim me diz que eu tenho que fazer

Em uma cabana pequena casa de madeira muito feia onde havia uma pá, pego e logo começo o trabalho

Para minha sorte era que o velho da porta ainda se encontrava adormecido, mas para meu azar eu estava em a baixo de um sol escaldante de 15:00

Apenas parando para tomar água e retomar o folego ainda não havia encontrado nada

Comecei a me perguntar se não haviam retirado o caixão para cremar o corpo ou algo do tipo

Depois de um longo tempo ainda escavando já podendo ver que a cova já estava ficando cada vez mais profunda do que eu que tenho 1,66

Talvez eu esteja certa, talvez realmente tenha algo por trás disso tudo Como alguém enterraria um garoto de 16 anos sem ter nada esconder

Um barulho da pá batendo em algo solido me fez se afastar de meus pensamentos

Eu bati novamente e o mesmo som soou pelo ar

Estava ali, o caixão dele

Meu coração começou a bater ainda mais forte e rápido do que nunca

Senti o desespero tomar conta de mim

Minhas mãos não paravam de soar e de tremer

E agora?