Mato Grosso, 28 de abril de 1987
Eu pergunto a mim mesmo o do porquê escrevo essa carta, e igualmente me questiono para quem escrevo, mas isso não vem em questão, apenas digo e repito, eu enfim fiz algo que já deveria ter feito a muito tempo, o maior planejamento de toda a minha vida... que poderia ser perfeito..., mas infelizmente não foi por certas razões, o que importa é: matei os malditos pássaros de meu desgraçado pai. Mas antes que alguém me julgue ou até mesmo demonize a minha imagem, serei claro o do porquê o meu ódio contra aquele estupido senhor e de seus pássaros canalhas.
Mato Grosso, 18 de agosto de 1959
Toda hora que penso nesse dia, eu penso no que deu de errado para ser um grande fardo para meu pai, na verdade, seria uma junção de muitas coisas que tornaram para ele esse dia ser um dos piores de sua vivência na terra, talvez o seu primeiro
fracasso de uma de suas pesquisas sobre os animais da divisa de Goiás e Mato Grosso, se sua repetida tentativa de fazer a receita de arroz apiamontese da nossa família foi novamente falha por conta de muito sal ou até mesmo se ele brigou com o dono de seu bar preferido, mas obviamente que não seria um motivo tão fútil como este... as 17:09 em uma terça-feira nasce quem vos fala, Miguel Batista de Fátima, um bebê fraco sem a mínima esperança de algum sucesso futuro, vindo bem após a morte de minha mãe, Helena Batista de Fátima, foi nesse fatídico momento que tudo começou a dar errado pode até soar pessimista, mas só o fato de eu ter saído do ventre de minha mãe e ter lhe causado complicações no parto, já foi motivo o suficiente para eu me tornar o maior fardo de Augustus Juliano Batista de Fátima, aquele que traria grandes bençãos em minha vida como uma eterna negligência sobre minha pessoa. Passando por minha mente até me recordo que essa foi a única coisa que meu pai me deu, um simples nome que mal pode ser considerado uma ideia original, pois eu me lembro até hoje que quando perguntei a ele sobre meu nome ele me respondeu.
Seu nome? Bom, Miguel foi a única coisa que aceitaram ao invés de “fardo", "peso”, “incômodo” e “estorvo”, então deram a opção de Miguel, e assim foi escolhido seu nome, mais alguma pergunta far… Quero dizer, Miguel? Aquele medíocre velho dizia isso sempre, enquanto ria de maneira debochada...
Até hoje me recordo de um momento em
que está profundamente eternizado em minha cabeça, como a cicatriz de uma ferida que mesmo tentando, nunca conseguiu se fechar por completo, eu não me lembro em si de como foi o dia, é claro eu tinha apenas 4 anos, mal tinha discernimento do que estava acontecendo ou do que era certo e errado, mas se tem algo que eu consigo me recordar perfeitamente é daquela bendita frase. Meu pai estava discutindo com alguma pessoa sobre o fato de eu ser tão maltratado e de como eu merecia o mínimo de respeito de meu pai pôr o obvio motivo de eu ser o filho dele, parando para pensar, essa deve ter sido uma das poucas pessoas que viram valor em minha vida, de alguma forma eu me sinto bem sabendo que um dia pelo menos uma única pessoa enfrentou meu pai sobre sua negligência quanto a mim, mas qualquer
esforço de quem quer que seja foi completamente inútil, meu pai então já enfurecido com aquela discussão que ele julgava ser tolo e vazio, gritou em alto e em bom-tom a frase:
PREFIRO CUIDAR E CONTINUAR TRATANDO DE MEUS PÁSSAROS DO QUE DAQUELA CRIANÇA
De alguma forma eu nunca consegui desapegar dessa frase, ela sempre rodeava e sempre rodeou minha cabeça por anos e mais anos a minha vida toda foi construída a base disso, com futuramente eu percebendo que sua exclamação não era apenas um blefe. Algo dentro de mim gostaria que fosse uma mentira, que fosse uma simples brincadeira de mal gosto, imagino que se fosse apenas isso e que no final desse
tudo certo como em um célebre conto de fadas, minha vida seria verdadeiramente boa, uma vida digna, sendo tratado com respeito pelo menos pelo meu próprio pai, mas nem isso tive a sorte de experimentar de algum jeito.
Eu fingia não me afetar por seus comentários, mas nem tentar fingir que gostasse de minha presença ele fazia, sinceramente ele não se esforçava nem um pouco em demonstrar sua insatisfação quanto a existência de minha pessoa em qualquer recinto que ele estava, era grosseiro, era rude e arrogante comigo de diversas maneiras, tenho marcas em minha memória até hoje sobre todas às vezes que ele demonstrou essa repulsa contra mim, eu era apenas uma criança alguém indefeso que apenas queria um ombro protetor ou algum colo aonde eu poderia descansar e pedir ajuda, eu só queria ajuda para respirar, um abraço que ao invés de me deixar desconfortável me fizesse sentir seguro, me sentir abrigado por um sequer momento, mas desse sentimento... eu nunca tive uma única oportunidade de sentir tudo por causa daqueles malditos demônios alados, daquelas desprezíveis criaturas com pequenas, aqueles vermes em forma de pássaros!
Goiás, 12 de fevereiro de 1943
Podemos considerar esse ano o ponto de ignição para sua verdadeira fixação pela biologia, algo que eu e com certeza mais pessoas consideram ser um de seus maiores vícios, sendo o ano em que aquele velho facínora se matriculando em uma renomada e grandiosa universidade, a Universidade Federal do Matogrosso, e foi aí aonde tudo começou, não apenas uma porta de entrada para enfim a sua especialização sobre o tema que ele mais amava em vida, ou felicidade por conhecer pessoas que possuíam interesses de muita semelhança, mas sim foi quando ele conheceu minha mãe, no começo os dois não iam muito com a cara um do outro, mas como em um grande romance clichê os dois formaram uma amizade, e dessa amizade um romance teve seu surgimento, é como se minha mãe tivesse algo que meu pai não tinha e talvez quase nunca tivesse sentido em sua vida, ela o amava de verdade, amava o meu pai como nunca amou um homem, cada parte de seu corpo cada traço da personalidade único e fria de meu pai ela amava inconscientemente, e meu pai amava essa sensação, amava o sentimento de encontrar alguém que gostasse dele mesmo com seus aparentes defeitos... será que minha mãe também teria esse mesmo amor, esse enorme amor que ela tinha por meu pai, ela teria também por mim?
Mato grosso do Sul, 24 de julho de 1920
Posso não ter conhecido minha mãe, mas descobri muitas coisas sobre ela e sua relação com o homem de onde eu vim, sei disso por causa de cartas e fax que meus pais enviavam um para o outro e também por meio de outros familiares e amigos dela, por fotos era perceptível uma exorbitante beleza um rosto de bela forma e contraste, dessa forma percebe de onde veio tanta beleza do Crejoá, lembro também de que sua beleza não vinha apenas a partir de seu rosto ou corpo, mas sim de um ótimo e justo caráter, queria que ela tivesse compartilhado seu caráter com meu pai quando viva, sendo o meu sonho de encontrar ela, um dos mais recorrentes em minhas noites de sono, muitas vezes eu dizia no próprio sonho que eu não queria acordar que eu não gostaria de enfrentar novamente aquela realidade. Quando ainda tinha esperanças de algo em minha vida, eu ficava pensando se minha mãe me via de qualquer lugar onde ela estivesse no momento, pensava que mesmo ela morrendo devido a complicações para me trazer ao mundo, ela ainda me amava inconscientemente, eu sempre me apoiava nesse pensamento quando me sentia
sozinho, quando me sentia culpado, mesmo eu sendo inocente, quando me sentia frustrado por além de ter trazido a morte de minha própria mãe, eu não nasci muito forte que nem a Ema, esbelto que nem o Crejoá ou até mesmo inteligente como a Coruja de Igreja.
Mato Grosso do sul, 3 de setembro de 1923
O nascimento de meu pai eu particularmente considero algo conturbado, vindo de uma família de grande nome no estado, sendo de todas as formas utilizado como um exemplo, seus pais Virgulino Batista de Morais e Mariene Souza de Fátima eram conhecidíssimos professores de grandes academias e faculdades da região do centro oeste, com minha avó Mariene sendo uma incrível e renomada médica enquanto meu avô Virgulino um grande psicanalista, entretanto desde pequeno meu pai demonstrava uma extrema curiosidade sobre a vida principalmente a que reinava os céus, as aves, guardo memórias dele se vangloriando por sua extensa coleção de livros sobre a vida nos ares, com seu maior orgulho sendo o primeiro livro que ele leu em sua vida “A vida e a cultura dos seres alados” contrariando muitas crianças que pediam livros de ação e aventura, meus avós sempre pesaram e pressionaram meu pai para que ele tivesse uma educação impecável, sendo reprimido de atividades essenciais para uma criança, como sair e se divertir com amigos, uma idade que é tão privilegiada por sua simplicidade, por ter um jeito tão incrível de se viver, normalmente rodeado por mimos e compaixão do próximo por te considerarem inocente e merecedor de qualquer prêmio apenas por escrever seu próprio nome, meu pai trocou tudo por anos e mais anos de árduos estudos, lendo e lembrando dos comportamentos de meu pai vejo como essa falta de uma infância nas ruas, sempre à procura de fazer novos amigos e se divertir com traquinagens fez com que sua personalidade fria e até mesmo às vezes sádica foi criada.
Goiás, 27 de abril de 1948
Um dia que meu pai sempre considerou ser o melhor dia de sua vida, o dia que ele sempre esfregou em minha face, o dia que ele sempre lembrou e sempre lembrava quando tinha a oportunidade de citar ele a alguém o seu casamento com minha mãe, ele sempre dizia o quão lindo tudo estava nesse dia o qual perfeito o local era, sendo organizado na igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, atualmente, considerada a mais antiga igreja remanescente de Cuiabá, com meu pai pagando e sendo um dos principais financiadores de sua reforma, mas isso nem vem ao caso, além do fato de minha mãe estava maravilhosa, escrevendo essa carta percebo como eles aparentavam tanto ser um casal realmente perfeito, mas isso não vem ao assunto, mas sendo sincero, esse detestável velho podia ter compartilhada um pouco desse amor com seu próprio filho, não é?! Com aquele que muitas vezes ignorou um simples abraço ou até mesmo algum tipo de carinho!... me perdoe, me exaltei um pouco enquanto estava preso nessas memorias, eu acho que eu sou horrível em fingir e esconder meus sentimentos... péssimo em tentar cobrir tudo de ruim que passei, que eu sofri na mão de minha própria família, eu realmente nunca consegui segurar tudo isso que sinto sobre eles.
Goiás, 6 de junho de 1952
Eis aqui a data do nascimento de um dos primeiros pássaros de meu odioso pai com minha mãe, uma Ema macho, um grande orgulho para meu pai, mesmo que ele esperasse um grande gênio em ciências ou matemática a ema nasceu forte e saudável de grandes e atléticas patas e fortes asas, com total certeza a mais forte ave de meu pai em questão de força física e a mais velha entre todas, lembro-me de que quando era criança tínhamos uma forte relação, ela sempre me tentou incluir diversas vezes em suas brincadeiras mesmo que muitas dessas vezes me excluíssem ele nunca parou de tentar me incluir... O porquê essa sua carismática personalidade sua ter se perdido, até hoje me intriga Ema. A Ema era uma ave que mesmo muito ingênua e às vezes tonta, era perceptível um nobre e justo coração em seu peito, tentando ser melhor e aprendendo coisas novas a cada dia que passava, ela realmente era uma ave muito astuta tristemente essa personalidade não perdurou por muito tempo, quando a Ema começou a crescer e sentir essa falta de minha mãe, ela começou a ser fria e rígida, começou a ter os mesmos pensamentos que meu pai possuía de mim, aquele velho fez a pobre Ema de gato-sapato muitas vezes, meu pai considerava que um homem forte tinha que ter um caráter feito à base de aço, considerava que um homem não necessitava de empatia, pois por palavras dele.
- A única coisa de que um homem necessita é de trabalho, rigidez e força, empatia é algo que homens fracos criaram para que ajudassem homens sem esperanças -
Mas minha mãe sempre apoiou o Ema em qualquer aspecto, sempre esteve lá para ajudar ele até mesmo quando o motivo por seu choro era meu próprio pai por causa de sua dura personalidade... contudo com a morte de minha mãe e a falta de alguém para que pudesse o escutar e conciliar, essa personalidade foi consumida por ódio e indignação de mim, consumida por uma apática personalidade. Me relembro como se fosse ontem de quando ela começou a me tratar dessa forma, fiquei me perguntando o dia... a semana... o mês inteiro... se tinha algo de errado comigo, ou com minha aparência e até com o meu jeito de ser, o que tinha de errado em mim, o que tinha de errado com a minha existência... foi uma das noites que eu mais chorei em minha vida.
Goiás, 7 de julho de 1953
O dia em que marca a vinda de uma Coruja-da-Igreja que meus pais tiveram, o segundo pássaro de minha família e um verdadeiro orgulho para meu pai, um verdadeiro gênio no mundo dos céus, nunca vi alguém que conseguiu superar sua inteligência e capacidade de raciocínio rápido, seu único pecado foi possuir um fraco corpo dentre todas as aves, desde pequeno demostrou um grande fascínio pelos mesmo assuntos que meu pai, a coruja era a ave mais próxima de meu velho ele sempre viu algo a mais nela, um brilho diferente do que qualquer outro de suas aves uma clara relação de favoritismo dentre seus pássaros, a coruja nunca foi alguém de se simpatizar com o outro sendo muitas vezes antipático sem querer, e com a morte de minha mãe e a aproximação de meu pai, o tornou alguém de extremo orgulho e egocentrismo, sempre preferiu fazer tudo sozinho não aceitando a ajuda de qualquer um que seja, nossa relação era infelizmente baseada nisso, por muitas vezes eu não conseguir me dar bem em atividades que exigiam raciocínio, eu não conseguia passar das primeiras fases com ele sempre me ultrapassando e me menosprezando e até mesmo todas as outras aves, no começo a Ema sempre me protegia de seus comentários e me apoiava e ajudava, mas com o acontecimento que vocês já devem imaginar o que seja, ele parou de me ajudar e proteger dos comentários ignorando totalmente, me pergunto se em alguma outra vida ele já possuiu empatia por alguém, nunca gostei dessa desgraçada de manto branco, será que se ela não tivesse sido engolido por esse mar de egocentrismo e meu pai, ela seria alguém melhor? Alguém com compaixão até mesmo por pessoas menos favorecidas que ela.
Mato Grosso do Sul, 9 de setembro de 1957
O nascimento de sua terceira ave e uma das que minha mãe mais adorava por palavras de meu pai, Crejoá era um pássaro lindo e formoso, poderia até mesmo não ser um grande exemplo de inteligência ou astúcia, sendo o menos inteligente dentre os animais de meu velho, mas sua formosura era inigualável, penas que mais pareciam ter sido pintadas pelos anjos mais habilidosos de Cristo, de um azul-escuro como uma pedra de lápis-lazúli e um vermelho tão forte como a cor de um vinho, minha mãe sempre adorou o arrumar e tornar ele seu pequeno modelo, tendo diversas fotos dele no álbum da família com diferentes penteados, um verdadeiro modelo da família, por sua beleza sempre se destacou no meio dos outros e era o mais popular da família, só infelizmente sua ruína foi igual a de seus outros "irmãos" o crescimento de seu exacerbado orgulho sobre sua aparência, se tornando uma ave que se diga de passagem, muito irritante e incomoda, igualmente não tínhamos uma relação boa nem no começo ou meio de nossas vidas, ele sempre me tratava com indiferença e sempre dizia que se minha mãe tivesse viva e me visse, a primeira coisa que ela faria era ter um balde de estimação, para não ter que procurar um sempre que me visse e fosse vomitar de desgosto... Aquele maldito ser de manto azul e vermelho, quem ele pensa que é para falar daquele jeito sobre a minha mãe?! Quem é ele para falar sobre ela dessa forma?! Nunca gostei daquele insuportável ser de penas... E me deixa mais irritado e frustrado admitir que muito desse ódio se dá pela minha inveja sobre sua enorme popularidade, a ideia de alguém como ele, um pássaro orgulhoso e endurecedor, ser alguém tão popular e ter tantas pessoas a sua volta... Se eles me escutassem estariam do meu lado, e não do dele...
Mato grosso do Sul, 10 de outubro de 1958
Só de pensar de que forma eu irei escrever sobre essa data, surge em meu rosto um bobo sorriso, nasce o falcão-peregrino o último pássaro de meu pai e seu menos predileto, a situação em que o Falcão se encontrava era muito semelhante à minha, mas ao contrário de mim ele sempre encontrou uma maneira de conseguir se levantar não importa a circunstância, sendo um falcão de pequeno porte e possuindo autoconhecimento disso, ele desenvolveu uma grande esperteza, ou malandragem para os mais íntimos, se alguém tentava o colocar para baixo ele sempre possuía alguma resposta contra ele de alguém o batia ele revidava de algum jeito, sempre me inspirei nele em momentos que me encontrava desiludido e triste, quando necessitava de um ombro amigo ele estava lá para me fazer companhia, quando necessitava de proteção era ele quem cuidava de mim e me defendia, pois ele não deixou que o grande orgulho do resto de seus "irmãos" engolisse de alguma forma, ele era o único animal de meu pai que eu verdadeiramente me sentia conectado o único que eu sempre dizia ser o meu verdadeiro irmão… eu sinto muito por ter acontecido isso justamente com você... você era o único que não deveria ter sofrido de forma alguma com isso...
Mato Grosso, 10 de fevereiro de 1972
Com o passar do tempo, eu enfim consegui idade o suficiente para frequentar a escola, me recordo que em meus primeiros anos escolares tudo era perfeito, já que na época meu pai decidiu colocar cada filho em uma escola diferente a partir de seu perfil, me impressiona ele ter tido a decência de me colocar em uma escola particular ou invés de alguma escola pública qualquer caindo ao pedaços, isso deve ser algo passado de família a partir de meus avós que sempre presavam por uma boa e esforçada educação de meu pai. As escola era uma espécie de refugiu para mim, um lugar aonde eu sabia que o único "julgamento" que teria sobre mim seria o meu erro sobre chamar a cor laranja de vermelho claro, entretanto, isso só durou até eu chegar na 6° série que foi na época em que o dinheiro da família começou a decair muito, meu pai então decidiu colocar eu, o Crejoa e o falcão em uma escola de grande nome na cidade de Cuiabá a Liceu Cuiabano, sendo uma das primeiras escolas do Mato Grosso, aonde a Ema e a Coruja-da-Igreja começaram a trabalhar, a partir desse momento minha vida na escola começou a ser praticamente a mesma do que em casa, Crejoa por ser alguém atraente, chamou a atenção de muitas pessoas naquela escola o tornando popular em poucas semanas e foi a partir daí que todo mês ele inventava algo de mim, qualquer tipo de termo pejorativo sobre minha aparência e até mesmo personalidade dizendo que meu cabelo fedia, que meus rosto era tão oleoso que dava pra fazer uma venda de pastéis usando ele, que meu corpo era horroroso e fino de tão magro, eu era uma verdadeira piada em minha sala... Mas tinha uma única pessoa que não se importava com qualquer comentário sequer, uma pessoa que sempre ignorava qualquer mentira sobre mim e nunca ligou para nenhuma falácia do Crejoa... Uma das únicas pessoas que eu amei de verdade em minha vida...
Goiás, 5 de março de 1959
Ela... Ela era incrível... Eliana era o seu nome... desde os primeiros dias de aula ela sempre foi uma pessoa que gostava de se comunicar não importa com quem quer que seja, sempre à procura de novos amigos e conhecidos, sempre que o professor chamava alguém para responder uma questão, mesmo que ela não soubesse a resposta certa e errasse na maioria das vezes, ela nunca deixou de experimentar todo tipo de situação nova e diferente
- A vida é tão curta, por que deveríamos ter medo de tentar coisas novas? Por que esse medo tão grande da falha? É dessa forma que o mundo deveria funcionar Miguel, mesmo que exista a chance da falha, pelo menos tentamos e é isso que é importante!
Era o que ela sempre dizia a mim quando eu tinha medo de apresentar algum trabalho de escola, falar em público ou até mesmo me apresentar a colegas novos. Até mesmo a forma que nos conhecemos foi por esse pensamento dócil dela, como eu sempre ficava no canto da sala praticamente um fantasma da sala, então ela construiu um enorme questionamento em sua mente sobre quem era eu, como eu era de verdade, inclusive ela falava que já havia ouvido coisas de mim a partir de amigos do Crejoa, aqueles fofos elogios que o carinhoso e nada egocêntrico pássaro que meu pai tinha, aquele babaca de manto azul e vermelho, então ela se aproximou de mim e começou a puxar todo tipo de assunto para ver se algum dava certo e eu sempre respondia de maneira curta e seca qualquer investida de assunto, não me entenda mal, eu sempre fui alvo de todo tipo de linchamento e comentários ruins então eu nunca sabia quem de verdade queria ser um amigo meu, ou só queria fazer perguntas sobre o Crejoá e zombar de minha cara, até que chegamos em um assunto em que eu particularmente gostava muito de imaginar e pensar sobre a medicina, ela disse que quando pequena foi adotada por uma família totalmente ligada a profissões na área de saúde, sempre me interessei por medicina por causa das pesquisas de minha avó, normalmente ela sempre deixou eu ler suas gigantes planilhas mas com o aviso de que eu deveria arrumar tudo depois, eu e Eliana passamos o dia inteiro conversando sobre isso, foi um dos melhores momentos de toda a minha vida, a sensação de conhecer alguém que não lhe julga de primeira ao olhar sua aparência essa sensação é algo simplesmente impagável, nós continuamos a conversar e se encontrar sempre que o passar dos dias, a cada momento que passava e eu a observava mais eu percebia o quão perfeito era tudo nela, o quão extraordinário era seu rosto, o quão fabuloso era sua calma voz e principalmente a fato de como eu me sentia tão bem em sua presença e como eu me sentia calmo e seguro só de ver seu rosto... foi nessa época que eu percebi que de forma natural e sem que eu percebesse eu me apaixonei por ela, no começo eu fiquei extremamente amedrontado a perceber isso pois eu não fazia ideia de que decisão tomar, eu não sabia se eu tentava chamar ela para algum tipo de encontro, mas por sorte eu tinha com quem contar naquele momento, o falcão me ajudou do início ao fim me encorajando o máximo possível para que eu conseguisse chama-la para um encontro, até que surgiu uma luz no final da caverna, um grande baile que a escola iria fazer, com o direito de poder chamar alguém para dançar junto, essa era a minha chance de ouro, esse era o meu momento de coragem!
Mato Grosso, 20 de abril de 1972
Era apenas questão de tempo para que enfim chegasse esse baile que a escola estava organizando, e não era apenas a escola que estava se organizando para algo grandioso, lembro-me que estava fazendo todo tipo de preparativo para poder chamar Eliana ao baile, escolhi a dedo minha melhor roupa e planejei por muito tempo uma carta para ela... Mas parecia que a cada vez que o dia do baile se aproximava, as piadas e conversas sobre mim que o Crejoá inventava aumentava cada vez mais, antes apenas riam da minha cara, mas de repente começaram a me olhar com raiva e nojo de minha face, com pessoas colando avisos em minha cadeira com dizeres como
- VOCÊ REALMENTE ACHA QUE ELA IRA TE ACEITAR COMO PAR NO BAILE? MAS QUE GRANDE PIADA
De começo pensei que era apenas mais um comentário ruim sobre mim entre milhões de outros, mas esses atos começaram a crescer mais e mais, me afogando a cada dia que passava eu me sentia um pedaço de porcelana no meio de enormes e destrutivos gigantes, tenho memorias de me sentir sufocado em minha própria sala de aula de me sentir inseguro em qualquer lugar que eu estivesse, eu tinha virado uma grande bomba de nervos e que a qualquer instante eu poderia estourar em um grande surto de desespero... e no final das contas aconteceu algo que eu já imaginava... enquanto eu estava em meu quarto, lendo e estudando um pouco mais sobre passos de valsa para treinar minha dança, eu escuto uma discussão na sala de estar, temos um grande casarão aonde a sala e a cozinha ficam na parte de baixo e todos os quarto encima, meu quarto não era muito grande mas eu o considero bastante aconchegante honestamente... e principalmente possuía paredes finas poderiam até escutar qualquer ruido vindo de meu quarto... mas isso também contava para mim e conversas na sala de estar, eu escutei uma conversa entre eles... entre os pássaros que meu pai diziam e tentava fazer de tudo pra colocar na minha mente que era meus irmãos... com certeza uma cicatriz em minha memoria
- DROGA QUE ODIO DAQUELE PALERMA MALDITO, ELE REALMENTE ACHA QUE CONSEGUE CORTEJAR UMA DAMA TÃO LINDA COMO ELIANA, ME DIZ O QUE A GENTE FAZ HEITOR – Crejoá
- Para de gritar seu imbecil berrante, eu disse que já cuidaria disso com você e o João Pedro – Coruja-da-igreja
- Exatamente, e o plano B é algo simples, pressão psicológica sobre ela seus idiotas é algo tão básico, de acordo com a sua fama enorme na escola se ela não aceitar a sua mão, você pode tornar a vida dela um completo inferno não é Davi? - Ema
- SIM... vocês estão certos, me perdoe irmãos eu estou me preocupando atoa com aquele energúmeno - Crejoá
- Eu sei bem que você está com inveja, você não consegue enganar a gente de forma alguma – Coruja-da-igreja
- CALADO VOCÊ TAMBÉM, É CLARO QUE EU NÃO IRIA ACEITAR ALGUEM COMO AQUELE ERRAQUITICO FICAR COM UMA MUSA TÃO LINDA COMO ELA - Crejoá
Eu nunca me senti tão enojado como naquele momento... nunca me senti tão enjoado, com toda ânsia de vomitar tudo que tinha em meu estomago, eu mal consegui comer algo depois disso e o que mais pesou naquele instante foi a ausência de meu querido falcão que estava em um passeio para as olímpiadas de matemática de nossa aula naquele ano
Mato Grosso, 30 de abril de 1972
5 dias antes do baile consegui a coragem para chamá-la, mesmo com aquela conversa dos pássaros, eu não desisti por nada, eu já havia chegado muito longe para simplesmente desistir naquele momento prometendo a mim mesmo que a protegeria a qualquer custo. Naquele dia de aula levei um buque de Canela-de-ema para ela, e enfim consegui entregar a carta que eu tanto planejei, eu pesquisei e li tanto sobre as flores de minha região que eu até comecei a me interessar sobre o assunto, mas enfim, quando ela recebeu o buque vi em seu olhar um brilho tão enorme que encheu meu peito de esperanças, e no final do dia eu consegui a minha tão sonhada resposta e ela aceitou! Eu fiquei tão feliz, tão alegre, eu não conseguia parar de comemorar a minha vida enfim começou a dar certo!
Chegou o horário do baile, fui vestindo uma camisa cinza usando um blazer azul escuro, uma moda bem ressente para falar a verdade, quando eu cheguei no local da festa tudo estava incrível e perfeito, eu então encontrei com Eliana, ela estava magnifica e graciosa com um belo vestido florido vermelho, eu a convidei para dançar e utilizar todo aquele estudo que eu fiz sobre os passos de dança eu não queria sair daquele momento por nada, a música relaxante e lenta e eu e ela juntos... era um sonho se tornando realidade... mas de repente surge uma emergência e a Coruja-da-igreja me chama para ajudar a Ema a carregar alguma coisas, eu peço para que ela espere e então vou em direção as caixas para levar a uma tal dispensa que o ema falou sobre, enquanto levava a última caixa e ia em direção a porta ela de repente se fecha e emperra, eu tentava fazer de tudo mas não conseguia abrir a única coisa que escutei através da porta foi alguém dizendo
- O que é teu... sempre esteve guardado -
Depois de 20 minutos eu consegui enfim abrir a porta, e corro o mais rápido possível para a pista de dança..., mas quando eu vejo... Eliana não estava me aguardando... e sim acompanhada com outro alguém... sendo esse alguém o Crejoá e quando ela me percebe e tenta ir em minha direção dizendo que não era o que parecia... Crejoá a pega pela cintura e força um beijo em Eliana, eu tomado por ódio tento avançar contra aquele desgraçado com penas para golpeá-lo na cara mas ele já havia planejado tudo... antes que eu conseguisse chegar perto, 5 alunos do grupo daquele pássaro ridículo me cercaram e começaram a me espancar, eles rasgavam meu blazer... cuspiam em minha cara... e chutava minha barriga... eu nunca me senti tão humilhado como naquele dia, fiquei sentado na porta da escola enquanto chorava e aguardava um ônibus para poder voltar para casa, Eliana até tenta vir e conversar comigo de alguma forma e explicar o que aconteceu, entretanto por minha mente estar tomada por uma fúria, por uma raiva estrondosa... respondi a pobre coitada de maneira grosseira e disse que nunca mais queria ver a cara dela em minha vida que infelizmente veio a se concretizar... com ela trocando de cidade por esse acontecimento do baile.
Quando voltei para minha casa, fui direto a meu quarto e me joguei totalmente em minha cama, eu também chorei muito naquele dia... como em todos os outros que os pássaros de meu pai já me fizeram mal..., mas daquela vez não eram lagrimas tristes ou ansiosas... não, não... com certeza não era... naquele momento eu decidi de uma vez por todas... eu decidi que daqui em diante me focar em uma única coisa... destruir... matar... massacrar aqueles malditos pássaros de uma vez por todas!
Mato Grosso, 20 de março de 1985
12 anos... 10 meses e 21 dias... esse tempo foi o necessário para meu preparo físico e mental, estudando medicina em uma das melhores universidades de Goiás a UFG em Goiânia e experimentando a teoria de que tudo que pode fazer o bom, ajudar e curar as pessoas também poderia ser utilizado para o total contrário, pelo visto aquelas frases clichês de que o bem e o mal são faces da mesma moeda não estavam tão erradas, da mesma forma que me usaram e se aproveitaram de mim, fiz com que provassem de seu próprio veneno, tudo estava conforme os planos.
Os pássaros já estavam em uma idade muita avançada, Ema já não era mais tão atlética como antes, sendo agora muito facilmente ultrapassada por grandes promessas mais jovens, a coruja-da-igreja já não conseguia mais tantas descobertas enormes e nem mais vagas em grandes universidades de Campo Grande, tendo que se contentar com simples escolas, e o Crejoá já estava ficando velho, mesmo tentando fazer diversos procedimentos estéticos de nada adiantava além do fato do falcão tinha se desacoplado dos batistas a muito tempo, e digamos que a família batista estava perdendo sua fama tendo agora o codinome de “família quase morta”, e eu sendo o mais jovem e o único que continuo conectado e próximo deles, comecei a fazer com que voltassem a reconhecer os batistas por meio de minhas pesquisas sobre vacinas, me tornando até referência no brasil inteiro, dessa forma não teve outro jeito se não me aceitarem e engolirem de que eu me tornei a nova promessa dos batistas, eles não tinham mais escolha, eu esperei o perfeito momento para que não tivessem nada no que se apoiar e conseguir resquícios de fama além de mim, agora eu era a base dessa família, eu me tornei o verdadeiro chefe desses patifes, algo que mesmo que não gostassem deveriam acreditar que é a sua nova realidade.
Todavia precisava agora me aproximar emocionalmente de meus parentes, precisa criar confiança, criar um laço que mesmo por minha parte ser mais falso do que um tucano mamífero, decidi conquistar seus corações com festas e mais festas, banquetes enormes e com mais batistas possíveis se alguém precisasse de um médico eu estaria lá sempre de bom grado para ajudar, era tão bom ver que cada vez mais eles necessitavam de mim, que cada vez mais eles se tornavam dependentes de minha existência... e então... eu enfim dei início ao que eu queria desde o início...
Mato Grosso, 10 de outubro de 1986
Quando ainda estava no início de meu plano, sempre imaginava executar os pássaros da maneira mais rápido possível e fugir de alguma forma, podem me julgar eu realmente não estava utilizando muito de minha razão quando mais novo, então decidi, por que não tornar isso um grande show?
Mesmo com a Ema beirando seus 36 anos, ela ainda possuía um forte porte atlético, e como forma de homenagem ao falcão e seu grande coração, no dia de seu aniversário decidi fazer uma corrida beneficente com apoio da Ema, uma clássica de 100 metros rasos e eu sendo um caridoso parente, decidi adicionar coisas a mais no shake de meu corredor, ingredientes leves e simples, nada demais... mas achei estranho nos primeiros 5 metros ele parecer doente e cansado... de repente ele começa a cambalear e desmaia no meio da pista, urgentemente sendo um bom medico vejo que se trata de uma parada cardíaca, e peço para que peguem urgentemente uma seringa de adrenalina em uma bolsa de primeiro socorros que havia me preparado para situações como essa, consigo reanima-lo utilizando a seringa e massagem cardíaca e levo ele para uma cabana de cuidados médicos e então decido me afastar para continuar assistindo a corrida enquanto a Ema descansava, eu contei exatamente 15 minutos para que agisse... e para minha alegria... foi o suficiente para mime... quando retorno encontro a pobre Ema deitada na maca, já sem vida mas dessa vez devido a um ataque cardíaco... acho que exagerei um pouco na dose e fiquei triste em saber que ele não conseguiu aproveitar a mistura, me empenhei tanto pra achar 50 gramas de cocaína pura para misturar com crack... mas com certeza o mais impagável foi a face de meu pai... ele parecia tão triste, só não senti dó naquele momento por que a vontade de rir era maior.
Mato Grosso, 10 de janeiro de 1987
Tristemente tive que pular uma das numerações das aves, aquela maldita coruja é muita astuta, não duvido nada que poderia sobreviver dos meus ataques, mas pelo menos um deles era tão inteligente quanto uma porta, me perdoe Crejoá mas você nunca foi um exemplo de inteligência.
E foi justo ele que me ajudou a dar o próximo passo... em uma festa em comemoração a um papel grandioso em uma renomada novela que estava estreando, sendo o protagonista, com bebida e comida a vontade para todos os convidados... e foi aí que tudo começou... o pobre do Crejoá começou a passar mal por causa dos enormes barris de vinha, então por que não o ajudar?
O levei para casa o mais rápido possível e ele começou a tentar puxar assunto e decidi então entrar no assunto, por que não?
- Pois é não é Miguel? Você enfim fez algo de útil na vida, se tornou um médico importante, achei que ia ser um grande peso morto - Crejoá
- Concordo Crejoá... a arte da medicina sempre foi algo bastante curioso... é interessante imaginar que alguém que pode trazer a cura também pode matar alguém facilmente – eu respondia
O desgraçado de penas azuis e vermelhas responde com uma risada de nervosismo
- Pois é ne..., mas você não faria isso com seu irmão, não é? Alguém que você tanta ama... você sabe que aquelas brigas já passaram ne? Era só coisa de criança não se apegue a um passado bobo Miguel
Me segurando ao máximo pra não matar ele usando uma seringa como faca, calmamente começo a injetar algo que ele não esperava...
- Claro... você tem toda a razão “irmão” ..., mas você está esquecendo de algo importante sabia?
- E do que seria?...
- O que é seu sempre esteve guardado...
Antes que ele pudesse reagir seu corpo começa a ficar dormente, até que o Crejoá apaga de uma vez por todas e lá decido fazer um procedimento estético que ele já estava precisando a muito tempo, utilizando a linha de um pescador, costuro seu bico, desfiguro seu rosto por completo e arranco as maiores penas de suas asas para fazer um lindo colar de penas, combinou muito com minha pele.
Quando ele acordou, começou a tentar gritar de desespero, mas isso não podia mais, quando percebeu que estava praticamente sem rosto ele até tentou tocá-lo e sair de lá com suas asas..., mas era tarde demais, foi necessárias apenas 3 balas em seu peito e meu trabalho estava feito.
E da mesma forma que seu rosto e seus dedos de repente sumiram, eu decidi fazer igual e sumi completamente do mapa.
Mato Grosso, 10 de março de 1987
Foi verdadeiramente difícil matar essa bendita coruja..., mas tenho que ser sincero que me diverti brincando com sua mente de todas as formas, mandando fotos dele pelos correios enquanto ele estava em sala, enquanto se divertia no parque, e até mesmo fotos dele fumando em sua varando de noite, ele começou a pensar duas vezes antes de sair..., mas acho que dessa vez ele não raciocinou direito.
Me aproveite desse terrível vicio e o nocauteei utilizando um taco de madeira, o levei para sua querida casa e o amarrei, quando acordou ele ficou muito nervoso e começou a falar coisas como: “ME DESCULPA POR FAVOR, “TUDO QUE EU FIZ CONTRA VOCE NUNCA FOI POR MAL”, “PERDOA SEU IRMÃO POR FAVOR”
É tão bom ver aquele que te fez chorar tanto cair em desespero ao ver sua imagem..., mas enfim, decidi continuar meu trabalho, calmamente me virei a ele e disse
- Você sempre foi tão inteligente... um verdadeiro gênio orgulhoso da casa... sempre teve a atenção de seu “papai” ... vamos ver se você se você vai continuar tão inteligente -
E lá mesmo, utilizando uma agulha e um martelo, eu lobotomizei a coruja santa, eu até gostaria de ver ela continuar sendo prisioneira do próprio corpo, mas perderia a graça se alguém encontrasse ela e salvasse sua pele e então... 2 tiros... Dessa vez foi mais rápido, não é?
Enfim chegamos a esse fatídico dia, não tinha mais ninguém para eu cobrar além de meu querido e amado pai, entretanto com a morte de seu três pássaro o velho já estava completamente paranoico, algo que complicou muito para mim, como eu iria voltar ao meu antigo lar com agora policiais que sabem de mim rodeando a casa inteira?
Mas eu estava preparado pra tudo, igualzinho aquele velho, levando meu revólver amigo e escondendo meu rosto utilizei uma identidade falsa de enfermeiro para entrar em minha antiga casa, só de passar por ela e sua estrutura, já me dava uma grande nostalgia de tudo que eu já passei ali, de tudo que eu já sofri debaixo daquele maldito teto algo que se assemelhava mais a uma prisão pessoal do que uma casa...
Então eu o encontrei na cozinha, lendo o que parecia ser jornais velho e passado, perguntei sobre o que eram e com uma voz triste ele disse que eram de grandes feitos de seus filhos que faleceram a pouco tempo devido a um psicopata... aquele velho idiota enciste em continuar chamando aquelas aves de filhos e novamente a me renegar colocando a minha nomenclatura de psicopata, juro que tentei me segurar mas daquela vez, daquela única vez foi o momento que tudo que eu estava segurando dentro de mim sai como um vulcão em erupção, tirei minha máscara e comecei a gritar.
- EU ESPEREI POR ESSE MOMENTO TODA A MINHA VIDA, EU PLANEJEI ESSE JUSTO DIA POR 12 ANOS DE MINHA VIDA, TUDO ISSO POR VOCÊ, O QUE ACHOU PAPAI?!
- MIGUEL POR FAVOR SE ACALME, PODEMOS CONVERSAR SOBRE ISSO MEU FILHO
- CLARO, PARA VOCÊ VIR AQUI E ME HUMILHAR COMO SEMPRE, PARA VOCE GRITAR COMIGO E ME CHAMAR DE FARDO, PESO, ESTORVO E INCOMODO, ESTOU CERTO?
- Filho você sabe que aquilo era uma brincadeira, eu sempre tive orgulho de você e sempre te amei
- MENTIRAS, MENTIRAS E MAIS MENTIRAS, VOCÊ SO COMEÇOU A ME AMAR POR CAUSA DE MINHA FAMA DE MEU SUCESSO, SE NÃO FOSSE POR MIM ESSA FAMILIA ESTARIA AOS PEDAÇOS COMPLETAMENTE ESQUECIDA, VOCE NUNCA ME AMOU DE VERDADE SEMPRE PREFIREI SEU PÁSSAROS MALDITOS
- Filho não chame seus irmãos de aves, eles eram mais que isso e você sabe, eles também te amavam
- VOCÊ FIQUE CALADO, VOCÊ NÃO SABE DE ABSOLUTAMENTE NADA SEU VELHO PATIFE, E MESMO QUE QUANDO EU TE MATE, ME DESPEDACEM COMO PUNIÇÃO, EU ESTAREI NO INFERNO COM A CERTEZA QUE TE ENCONTRAREI LA
Antes que eu pudesse fazer algo e atirar de uma vez por todas em meu pai, escuto o som de uma porta se abrindo, e uma voz familiar dizendo:
- MIGUEL?! O QUE SIGNFICA ISSO?! ENTÃO... ENTÃO SEMPRE FOI VOCÊ? - Falcão
- FALCÃO? POR QUE VOCÊ ESTÁ AQUI, PENSEI QUE TINHA SE SALVADO DESSA FAMILIA CORRUPTA
- Eu sei, mas eu voltei para cuidar de nosso pai..., mas a única coisa que eu lhe pergunto é... por que disso irmão?... por quê?
- VOCÊ SABE MUITO BEM O PORQUÊ, DEPOIS DE TUDO QUE NOS PASSAMOS NAS MÃOS DESSES DESGRAÇADOS, DEPOIS DE TODO O SOFRIMENTO E VOCE AINDA ME PERGUNTA O PORQUÊ?
- SEI DISSO MIGUEL, MAS MATAR TODOS OS NOSSOS IRMÃOS E NOSSO PAI TRARÁ ALGO DE VOLTA, O QUE NISSO VAI MUDAR EM NOSSAS VIDAS IRMÃO
- A JUSTIÇA ENFIM ESTARÁ FEITA FALCÃO, ENFIM TEREMOS LIBERDADE, TEREMOS ESSAS AMARRAS QUE NOS COLOCARAM TIRADAS PRA TODO SEMPRE
- ISSO NÃO FAZ SENTIDO, POR QUE MATAR? POR QUE COMETER DESSA SELVAGEM JUSTIÇA, VOCÊ NÃO PERCEBE QUE MESMO QUE VOCÊ MATE TODOS, QUE VOCE CONSIGA A SUA TÃO SONHADA VINGANÇA, ISSO NÃO VAI RECUPERAR O QUE PERDEMOS, NÃO VAI REMOVER TODOS AS ZOBAÇÕES E XINGAMENTOS, MESMO QUE VOCÊ COMPLETE SUA SACHINA ISSO CONTINUARA SENDO EM VÃO, POR QUE VOCÊ SE ENTREGOU MEU IRMÃO? POR QUE JOGOU SUA VIDA FORA?
Suas palavras me deixaram extremamente pensativo... me fizeram refletir sobre o que eu estava fazendo... mas algo que fez eu principalmente repensar sobre meus atos foi ver caírem lagrimas daqueles olho... muitas pessoas dizem que as piores dores no mundo é levar uma facada, tomar um tiro de espingarda ou ser atacado por um leão não as culpo por ter essa ideia, mas um fato que indubitável é que não existe dor pior do que ver os olhos que você um dia viu cheios de alegria e harmonia, que passava uma imagem de segurança só de olhar... Caíssem em lágrima de puro medo e angústia ao ver algo que um dia foi você.
Tive que fazer um dos maiores sacrificios de minha vida... o falcão não merecia viver com o fardo de um irmão assassino, e novamente... 4... 4 tiros foram o suficiente para que eu acabasse com seu sofrimente... todos mereciam aquilo de verdade... mas você não falcão... você não... eu queria ter asas, eu penso que se tivesse... minha vida seria verdadeiramente perfeita... uma vida digna de se viver... mas não... não foi o meu caso
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Eu também queria ter asas
Short StoryNa região Sul brasileira, vive uma nobre família os "Batista de Fátima", com grandes nomes em áreas almejadas como Biologia, Medicina e psicanálise. A história segue a visão de um dos membros dessa família, Miguel Batista de Fátima, que carrega o fa...