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-"Mas espere... Vão ter de ficar duas pessoas num camarote, já que não cabemos todos em dois."


-"Oh, a minha filha Violet não se importa, Anne."- A minha mãe praticamente empurrou-me para a porta do camarote que sobrava.


Céus, como ela me ama.


-"Ótimo, então meninos, qual de vocês vai?"- Anne perguntou aos filhos.


-"Oh não! Não, não!"- Harry barafustou quando a sua mãe queimou o seu olhar.


-"Faz o que te mando e entra!"- Ela ordenou.


Oh não. Não, não. Isto não estava a acontecer. Podia ter sido Gemma, podia ter sido Ethan, e quem raio ela vai escolher? O senhor desagradável! Vai ser tão divertido, meu deus.


Coloquei a minha cadeira do lado oposto da dele, no camarote. Sentei-me, um pouco nervosa e irritada, e esperei que dessem início ao espetáculo.


Olhei para Harry, senhor desagradável, conhecido pelo meu subconsciente. Ele estava a rir para o telemóvel, o que me trouxe um pouco de apetite para o espancar. Reparei nos seus caracóis. Nas suas bochechas um pouco rosadas e nas covinhas que se formavam de cada vez que ele sorria. Ele era realmente atraente. Controla-te ,Violet, controla-te. 


O espetáculo finalmente começou, o que me fez dar um longo suspiro de alívio.


Harry continuava atento ao telemóvel, e aquela porcaria de luz estava a irritar-me seriamente.


-"Importas-te de desligar isso?"- Sussurrei gentilmente.


-"Importo."


-"Desliga isso, estás a irritar-me e estou a tentar ver o espetáculo."- Sussurrei rudemente.


-"Tu a seres rude e mandona!"- Ele falou sarcástico.-"Adoro."


-"És impossível."- Levantei-me e saí dali.


A verdade era que a minha bexiga também não estava nos seus dias, e o refrigerante de manga e ananás que tinha ingerido à pouco, não estava a ajudar.


As luzes do corredor estavam fracas e não dava para ver quase nada. Sabia que para a direita havia uma escadaria enorme, e eu me recusava a descê-la com esta escuridão e estes saltos, por mais pequenos que fossem. E para a esquerda... Bom, para a esquerda eu não sabia, mas decidi dar início a uma exploração, que nomeei de "Caça à casa de banho.". Não me julguem, quando estou assustada invento coisas idiotas na minha cabeça.


Primeira porta: Trancada.


Segunda porta: Trancada.


Terceira porta: "Oh, peço imensa desculpa!"-Pedi depois de um casal idoso reclamar comigo.


Quarta porta: "Vocês sabem onde é a casa de banho?"- Perguntei amavelmente a duas crianças, que chamaram a mãe antes de começar a chorar.


Quinta porta: Casa de banho masculina.


Sexta porta: Casa de banho feminina.


Bem que podiam ter avisos na porta.


Suspirei de alívio e entrei. Depois de fazer as minhas necessidades e lavar as mãos, peguei na mala e deixei o espaço.


Assustei-me quando percebi que a pouca luz que existia à bocado, havia desaparecido.


Ok, tem calma Violet. Ninguém te vai assaltar. Ninguém te vai violar.


Andei cuidadosamente pelos corredores sombrios do velho edifício. Estava assustada a uma percentagem bastante elevada, sem razões compreensíveis.


As fotografias assustavam-me.


Os quadros assustavam-me.


As paredes assustavam-me.


Talvez até tivesse algumas razões, pensei.


Hoje não estava nos meus dias, presumi quando senti os olhos que um quadro a perseguir-me.


Eu podia jurar que os olhos estavam a seguir-me.


-"AHHHHHH"- Gritei quando senti uma mão no meu ombro.


-"Calma, bebé."- Oh não. Aquela voz rouca só pode ser do meu companheiro de camarote.


-"Ugh! O que raio estás a fazer aqui?!"- Gritei.


-"Não grites!"


-"Não me dás ordens!"


-"Chata."-Murmurou.


-"O que raio estás a fazer?"


-"Nunca mais aparecias, e não podia perder se estivesses a ser assaltada."- Sorriu presunçosamente.


-"Conheço-te à quinze minutos e odeio-te."- Cerrei os dentes.


-"Será que odeias?"- Aproximou-se de mim e eu recuei.


-"O que raio pensas que estás a fazer?!"


-"Nada."- Ele aproximou-se mais. E o que raio eu fiz? Eu pus em prática o plano que aprendi com Bonnie numas aulas de defesa, o ano passado. Eu puxei-o para mim e dei-lhe um pontapé lá em baixo. Eu dei-lhe um pontapé lá em baixo!


E senti-me orgulhosa.


-"Ah, foda-se!"-Ele gemeu de dor.-"Que raio foi isto?"


-"Eu tenho namorado!"-Menti.


-"Em primeiro... Tu não tens namorado. Segundo, achavas mesmo que queria alguma coisa contigo?"


-"Morre longe."- Estalei e saí dali a correr.



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