Parte 1

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Eu estava apavorada. Eu não sabia há quanto tempo eu me escondia em meu quarto, fingindo não existir, fazendo com que minha presença não fosse notada. Phil havia voltado para casa com seus amigos, bêbados e drogados, mais uma vez. Eu sabia que se eu não me escondesse, que eu seria feita de empregadinha servindo-os de cerveja barata e drogas, acender baseados para eles era uma das coisas que eu era obrigada a fazer, e logo depois de ser humilhada e de ser chamada de nomes terríveis, viria o pior... Eles abusariam do meu corpo e se eu tentasse fugir ou escapar eu teria uma arma apontada para a cabeça de minha mãe ou da minha própria, enquanto eles me obrigavam a me subjugar a suas vontades. Phil olharia tudo aquilo com seus olhos mortos com sorriso sombrio e nojento, esperando pela sua vez.

E minha mãe estaria drogada demais para se importar, ou para tentar impedi-los de me fazer de objeto.

E quando eles fossem embora, se eles fossem, eu me arrastaria até o chuveiro, me encolhendo como uma bola embaixo da água fria, para lavar os machucados e tentar limpar minha alma.

Como eu vim parar aqui?

Há cinco anos eu era uma garotinha de 11 anos feliz. Eu tinha um pai e minha mãe sorria toda vez que o via, e o sol parecia brilhar mais forte naqueles momentos. Charlie, era como meu pai se chamava, ele era chefe de policia e um dia ele foi chamado com urgência em sua folga, ao que parece estava tendo um tiroteio no banco central de Los Angeles. Ele nunca mais voltou para casa depois daquele dia. Minha mãe desmaiou em seu funeral. E eu era apenas uma garotinha desesperada que não entendia porque aquilo havia acontecido com seu pai.

Um ano depois mamãe bebia todos os dias e eu havia assumido a responsabilidade de cuidar dela, e no dia seguinte ela não saia de seu quarto, eu sabia que ela dormia com a camisa favorita do meu pai, afinal ela não havia deixado jogar nada que foi dele. Em um desses dias algo havia mudado, ela havia voltado para casa acompanhada por um cara estranho de cabelos cumpridos e bigode sujo.

Então depois desse dia minha vida virou de cabeça para baixo, literalmente. Aos 13 fui obrigada a experimentar todos os tipos de drogas pelos amigos de minha mãe e do Phil, como um animal de laboratório, enquanto todos assistiam chapados e riam. Desde então não havia um único dia em que eu não fosse estuprada.

Aos 16, depois que todos foram embora e Phil e mamãe estavam desmaiados de tão chapados que estavam, fugi de casa. Como eu nunca mais havia ido à escola, e nem mais havia visto nenhum parente desde o funeral de Charlie, eu não conhecia mais ninguém nesse mundo. Eu não sabia para onde ir, estava sozinha, com frio, fome e sede. Eu era mais magra que o normal e todas as minhas roupas eram largas em mim.

Andei por muito tempo, sem um lugar exato para onde ir, fui parar na frente de um grande e bonito hotel. Ele era bem elegante, coisa de gente rica mesmo, e ali na escuridão me encolhi em um canto, perto do beco onde o lixo era jogado fora, eu já era mais do que acostumada com o cheiro de podridão e de comida em decomposição, aquele era um cheiro presente em minha vida, pois quando eu não estava servindo os amigos do Phil eu ficava trancada em meu quarto, e minha mãe passa mais tempo chapada do que sã para se preocupar em limpar a casa ou fazer comida, o que eu comia eram restos das festas que eram dadas em casa. Fiquei observando pessoas entrando e saindo do hotel, devia estar tendo algum tipo de festa ali, pois todas as pessoas que estavam naquele local eram muito bem vestidas. Fiquei ali parada imaginando como poderia ser minha vida, se naquele dia meu pai não houvesse saído de casa, talvez eu teria uma vida perfeita, a vida que toda garota de 16 anos sonhava em ter.

-Olá. -ouvi uma voz rouca me chamando, eu não havia sentido a aproximação de ninguém então me assustei, encolhendo-me mais ainda em meu canto. -Calma menina não vou te machucar.

Fiquei olhando para cima apavorada, pensando em correr o quanto antes dali. Olhei para os lados, apavorada procurando uma saída. Encolhi-me mais um pouco já sentindo as lagrimas escorrendo.

Destinos CruzadosOnde histórias criam vida. Descubra agora