Estou na sala de jantar, sentada ao lado da minha mãe e do meu irmão. Meu irmão, com uma expressão travessa, brinca com a comida e joga-a em mim. Minha mãe lança-lhe um olhar severo, e ele logo entende a mensagem, baixando os olhos para o prato.
Hoje o dia está escaldante; consigo ver pela janela o sol brilhando intensamente, fazendo as árvores balançarem suavemente ao vento. Meu pai acaba de chegar, trazendo consigo uma brisa de novidade.
— Oi, amor — diz minha mãe, com um sorriso caloroso. — Sente-se conosco — convida-a.
— Você soube das notícias? — diz papai, com um brilho nos olhos. — Amanhã terá uma festa em comemoração ao aniversário da nossa cidade.
— Então iremos — digo em tom sarcástico, revirando os olhos. Acho isso uma grande besteira. Olho para minha comida, os legumes parecem dançar em meu prato, sinto que terei uma crise. Levanto da mesa e subo ao meu quarto.
Chegando lá, sento-me na beira da cama e abro a gaveta da mesa de cabeceira. Meus dedos trêmulos encontram o frasco de vidro com pílulas, o qual seguro como se fosse um amuleto. Esses comprimidos são minha força em um mundo que, para mim, havia perdido as cores. Pego um livro e começo a ler... e acabo dormindo.
Acordo e saio do quarto. Desço as escadas e chego na sala, que está vazia. Acho que dormi um pouco demais. Sinto um cheiro estranho de fumaça e ouço uma voz suave atrás da minha nuca. Olho e não vejo nada. Encosto as duas mãos na parede, parece que meu coração vai explodir. Começo a vomitar sangue e caio no chão.