Kael olha profundamente nos meus olhos, sua expressão carregada de preocupação e determinação.
— Cada porta leva a um mundo diferente e cada vez mais desafiador — diz ele. — Você tem certeza, Susan?
Eu olho para a porta à nossa frente, onde algo vermelho parece escorrer por baixo dela, e sinto um calafrio percorrer minha espinha. Sei que não será fácil, mas a busca pela verdade e pela oportunidade de voltar à vida normal é forte demais para ignorar.
— Sim, tenho certeza — respondo, tentando soar confiante.
Eryk acena para mim. — Vou com você.
Isso me surpreende, pois mal o conheço e nem sei se confio nele. Dou um passo até a porta e entro.
Estou em uma floresta. A luz é fraca e filtrada pelas folhas densas das árvores, criando um ambiente sombrio e misterioso. Andando, olho para Eryk.
— Você não acha que está na hora de me explicar? Quem é você, você também está morto?
— Sim... sim, estou — fala Eryk, hesitante. — Olha, é complicado. Vou tentar resumir. Kael é a própria morte. Ele criou esse universo... não sei se você iria querer voltar.
— Por que acha isso?
— Você não iria aguentar a verdade.
— Que verdade?
Somos interrompidos por um som forte. Um ser está em pé à minha frente, seus olhos amarelos e chifres retorcidos me dão arrepios. Ela vira a flecha em minha direção e dispara. A flecha passa raspando minha cara e acerta um ser de quatro chifres e negro que até agora não tinha visto. Acho que é um tipo de gado deste mundo. O ser com olhos amarelos olha para mim com um misto de surpresa e determinação.
— Quem é você? — pergunto, minha voz trêmula.
— Não importa. Saia da frente da minha comida se quiser viver — ela responde friamente.
Ela passa entre mim e Eryk. Vejo que até Eryk está tenso, sua expressão revela preocupação. A criatura se abaixa perante a caça e crava seus dentes, vejo o sangue espirrando. Ela levanta novamente e dá alguns passos até mim. Sua boca ainda suja de sangue, ela fala com uma expressão cautelosa.
— Sou Lyra. E você está em minha aldeia. Fale o que quer ou morra.
Sinto um arrepio percorrer minha espinha, mas tento manter a calma.
— Estamos aqui em busca de respostas e de uma maneira de voltar para casa. Não queremos causar problemas.
Lyra nos observa por um momento, seus olhos amarelos brilhando com uma intensidade desconcertante.
— Respostas, é? Hmmm muito bem.
Ela se vira e começa a caminhar, gesticulando para que a sigamos. Eryk e eu trocamos um olhar rápido antes de seguir Lyra pela floresta sombria, prontos para enfrentar o que quer que venha a seguir.
Eu e Eryk estamos a alguns passos atrás dela. Olho para Eryk.
— Você sabe mais do que quer me dizer.
— Na hora certa você saberá.
— Diga agora — eu ameaço com meu olhar.
As plantas parecem molhadas.
Ele suspira e diz... — Eu estou morto, porém sou o parceiro de Kael... posso lhe dizer algumas coisas, porém não tudo. Sobre os remédios, não sei quem te matou, mas sei de uma coisa: sua casa foi incendiada. Porém, sua família conseguiu escapar, mas você... não teve sorte. E sim, foi o remédio que matou você, não o fogo.
— Chegamos — Lyra fala ao se virar para nós.