1. Piloto

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Nascer, servir e crescer em um castelo, sendo filho de uma dama de companhia, não era nada fácil para Levi.

Sua mãe, Kuchel Ackerman, servia a rainha com dedicação, e o amor entre elas era genuíno. Tudo começou quando Mary, a rainha, estava grávida e entrou em trabalho de parto prematuro durante uma trilha com o rei e sua escolta, longe do castelo. Os cabelos claros quase brancos da rainha estavam sujos de terra e ela gritava de dor e desespero.

- Majestade, o que faremos? Nenhum de nós aqui sabe como fazer um parto. - disse o capitão da guarda ao rei, que segurava a mão da esposa.

Sem que sequer notassem sua presença, uma mulher de cabelos negros como a noite apareceu, segurando pilhas de gravetos. Ela se inclinou em respeito e seus olhos acinzentados encontraram o rei.

- Senhor, se me permite dizer, posso ajudar com isso. Sua majestade não aguentará até chegarem ao castelo com a criança.

O rei Kasimir alternou o olhar entre a esposa pálida e a mulher de cabelos negros e olhos destemidos. Então, ele colocou a espada no pescoço dela, não com força suficiente para cortar.

- Pela vida da criança que está chegando, permitirei que você ajude, mas qualquer gesto anormal e sua cabeça não permanecerá em seu corpo.

Sem tempo para concordar, a mulher ajoelhou-se entre as pernas da rainha e rasgou parte de seu próprio vestido fino para ajudar Mary.

- Ponha força, mas não tenha pressa, está muito próximo de nascer.

A loira balançou a cabeça em concordância, sem forças para falar naquele momento. O homem segurava sua mão e afastava seus cabelos do rosto, mas sua atenção parecia não convencê-la a ir mais devagar. Os guardas pareciam espantados, olhando para a mulher de cabelos negros e para a rainha que gritava sem parar.

Foi então que a loira apertou ainda mais a mão do marido e permaneceu em silêncio, até que todos ouviram o choro agudo e estrondoso do bebê que veio ao mundo. Kuchel tomou o bebê nos braços e observou o pequeno com madeixas loiras ensanguentadas.

- É um menino, meus parabéns. - entregou o bebê aos pais, que sorriam com os olhos brilhando pela vida que agora tinham. Mais tarde, eles foram até a casa da mulher, que se apresentou como Kuchel Ackerman.

- Ackerman dos orientais? - perguntou o rei Kasimir enquanto a acompanhava até sua pequena casa.

- Não, apenas... Ackerman.

Kuchel os acolheu, alimentou e cuidou, tanto da criança quanto da mãe, durante o resto da noite para que pudessem seguir caminho pela manhã e esquecer sua existência.

Assim que amanheceu, a coroa e sua corte deixaram Kuchel sozinha de maneira silenciosa. Ela imaginou que nunca mais precisaria vê-los, principalmente tão de perto. Entretanto, exatamente um mês depois, ouviu batidas estrondosas na porta de sua casa. Ela a abriu às pressas e encontrou um grupo de soldados.

- Kuchel Ackerman se encontra? - um deles perguntou, e a morena concordou com a cabeça, sentindo nervosismo. - Em nome do rei e da rainha Smith, a senhora está sendo convocada para o Palácio, a pedido da coroa.

- Posso recusar? - ela perguntou, mas a expressão dos homens deixou claro que não era uma opção.

Hesitante, Kuchel começou a caminhar em direção à carruagem, seguindo os grandes homens vestidos de couro à sua frente. O caminho foi silencioso, sem troca de palavras, como se temessem que ela quebrasse o silêncio. Ao chegarem à enorme estrutura do palácio, Kuchel foi levada por uma série de corredores até chegar diante de dois grandes tronos enfeitados. Sentados neles estavam o rei Kasimir, que parecia estranhamente imponente, e a rainha Mary, segurando o filho nos braços. Kuchel fez uma reverência exagerada, temendo o que estava por vir.

- Kuchel Ackerman, aproxime-se. - disse a rainha.

Ouvir seu próprio nome soou pesado para os ouvidos de Kuchel. Tremendo, ela ergueu a cabeça e caminhou cinco passos em direção ao casal. Mary, a rainha, levantou-se e se aproximou dela. Kuchel nunca havia visto uma mulher tão alta.

- Veja, esta é a criança que um dia governará você, eu, esta e as próximas gerações de pessoas em Paradis. Seu nome é Erwin, e graças a você, tudo isso acontecerá. - Mary sorriu e tocou o ombro de Kuchel. - Guarde minhas palavras, Kuchel.

Então, Mary voltou para o trono, caminhando com graça e dignidade. Quando o rei Kasimir se levantou do trono maior, sua coroa brilhante refletiu a luz, tornando-a quase irreal.

- Eu, Kasimir Smith, rei do país de Paradis, ofereço a você, Kuchel Ackerman, o cargo de Dama de Companhia como agradecimento pelo que fez por nossa família. - declarou o rei com firmeza.

Houve um segundo de silêncio, um suspiro, e Kuchel afastou os cabelos negros do rosto antes de responder, cansada pelo que estava por vir.

- Eu aceito.

- Então, que lhe sejam fornecidas acomodações, lazer e tudo o que precisar para servir sua rainha com dedicação enquanto viver.

A partir desse momento, Kuchel e Mary nunca mais se separaram.

Não demorou para que Kuchel se acostumasse ao ambiente do castelo, e logo todos sabiam seu nome, saudando-a com flores e sorrisos alegres. Os outros empregados sentiam-se felizes sempre que viam a mulher passear pelo jardim ao lado da loira, mesmo que as separasse uma grande diferença de status e importância. Isso não as impediu de desenvolver uma singela amizade.

Com apenas alguns meses servindo no castelo, um guarda conseguiu conquistar o coração de Kuchel, e um belo romance começou a florescer ali. Até que um dia, enquanto estava nos aposentos da rainha, bordando para o pequeno Erwin e ouvindo o que a outra tinha a dizer sobre seu dia, uma necessidade avassaladora de vomitar tomou conta de seu corpo. Ela largou as coisas que estavam em seu colo em qualquer lugar e correu para o banheiro, vomitando o que quer que estivesse em seu estômago.

- Kuchel... isso não é normal, é a segunda vez em três dias. - Mary segurou os cabelos de Kuchel enquanto acariciava suas costas. Os sons e o cheiro tornaram-se rotineiros, fazendo a rainha lembrar dos próprios sintomas durante sua gravidez.

Quando Kuchel finalmente terminou, lavou o rosto e a boca, parecendo exausta e com a pele mais pálida do que o habitual.

- Me perdoe por isso, majestade. - disse com uma reverência curta enquanto suas mãos tremiam.

- Kuchel, preciso que seja sincera. - Mary baixou a cabeça para olhar nos olhos da Dama de Companhia. - Você está grávida?

A morena demorou a responder e suas bochechas coraram, mas depois tocou a própria barriga e afirmou com a cabeça.

- Sim, senhora.

Mary sorriu e abraçou Kuchel com força, deitando a cabeça na dela. A morena ficou surpresa no início, mas logo abraçou a rainha de volta.

- Eu fico muitíssimo feliz por você, querida. Mas e quanto ao casamento de vocês? Vocês ainda não se casaram - disse Mary, finalmente soltando Kuchel e segurando suas mãos.

- Ele me pediu em casamento esta semana, mas as coisas saíram um pouco do controle.

- É notável. - Mary riu, uma gargalhada forte que fez Kuchel acompanhá-la.

Não demorou muito para que os preparativos de uma pequena cerimônia fossem feitos, a pedido do casal. Por insistência da soberana, um vestido sob medida para Kuchel foi confeccionado, e eles se casaram em meio às lágrimas da loira.

Oito meses depois, um bebê pequeno e cabeludo veio ao mundo. Com cabelos negros e pele pálida como a mãe, o bebê conquistou o coração de todos no palácio com sua delicadeza.

 O Distinto Real: Paixão e Dever na Corte- EruriOnde histórias criam vida. Descubra agora