Don't be scared - Emi&Benito

DOIS

NARRADOR ON

   Depois daquela noite se tornaram melhores amigos, no dia seguinte mesmo, Emi se propôs a falar um pouco sobre ela, e aí Benito descobriu que sua cor favorita era rosa, e que ela adorava gatos, e que tinha uma boneca no Brasil chamada Gabi...ela descobriu muito sobre ele também, ele não tinha uma cor favorita, e tinha alergia a gatos, adorava filmes de ficção científica e nunca tinha sido médico de verdade, havia se formado, mas nunca se empolgou o suficiente para seguir carreira, tudo foi mais por uma questão de honra. Para uma garotinha de 12 anos Emi foi suficientemente compreensiva e disse que ele não precisava ter medo, logo depois lavou os pratos e, dessa vez, teve ajuda do homem para traduzir algumas palavras que não se assemelhavam tanto ao português.
De noite jantavam juntos, até Benito precisar voltar a trabalhar no hospital, estava tão nervoso nesse dia que achou que vomitaria. Mas não aconteceu, na realidade, Emi lhe entregou um desenho muito mal feito — ele não lhe contou isso —, e por mais mal feito que fosse ele havia adorado. Depois daí passaram a dar prioridade ao jantar, já que não tinham tempo de manhã.

Um dia de madrugada, Benito ouviu um choro abafado do quarto ao lado, temeu ir, mas se preocupou o suficiente pra ignora-lo. Encontrou a garota encolhida em um canto, enquanto fungava, provavelmente um dos pesadelos. Mal surgiu na porta e ouviu um murmúrio arrastado.

— Papa? — ela disse pausadamente por conta dos soluços, então o doutor congelou. Não tinha entendido em todo aquele tempo o que era para a menina, nada causará impacto suficiente para além daquela palavra tão simples vindo da pequena Emília

— Sim...— respondeu receoso de que ela tivesse se confundido, e se corrigisse por ali, mal sabia ele que ela tinha medo de que ele não gostasse também — porque não foi lá no quarto? — caminhou em direção a cama com o forrado rosa e se sentou na beirinha

— Você trabalha amanhã cedo — justificou — eu tenho 12 anos, não quero te incomodar — ele negou repetidamente, tocando na mão da mais nova com carinho

— Você nunca me incomoda Hija, nunca mesmo!! — ela sorriu involuntariamente, ele não conseguiu ver por conta do ambiente escuro, mas sorriu de volta quando percebeu o que havia dito — Não sofra sozinha certo? Estamos juntos nessa — não parecia nada o Benito que lhe deu a notícia que seu pai havia morrido, ele disse que mudaria. E mudou.

Por ela.