“Você está morto.”
Foi a primeira coisa que ouvi desde o dia que abri os meus olhos neste mundo.
Ao meu redor havia um gramado, estendendo-se ao horizonte, onde uma floresta de árvores brócolis bloqueava a minha visão do que havia ao leste.
Ao oeste, havia uma montanha de lava cujo uma única nuvem pairava sobre, despejando cubos de gelo no caldo fervente, tão estranho, mas tão irrelevante.
Caído sobre o chão, estava de braços abertos, trajado apenas com uma única bermuda cinza, bem limpa, mas eu não lembrava que ter vestido ela.
Depois que me levantei, olhei para o chão e percebi que a grama era diferente do que "grama" deveria ser, ela era verde — como grama é — mas com certeza não era feita do que grama deveria ser feita, o que era?
— É metal. — uma voz respondeu-me, carecendo de gênero, serena como a brisa do vento.
— Metal? — Perguntei de novo, virando-me para a direção da voz, olhando para sua origem. — Sim, metal. — A Voz respondeu-me, encarando os meus olhos de volta.
Silêncio. Entre nós, era o que havia, mas durou pouco tempo. Olhei aos seus olhos e olhou de volta aos meus, olhos meus que eram sem cor — translúcidos — incomparáveis a qualquer outros, olhos teus que eram negros, obscuros — nunca haveria escuridão maior que o abismo que era o teu olhar.
— Quem é você? — Eu, que não sabia quem era Eu, perguntei ao abismo, que sabia muito bem o que era.
— Silêncio. A Saudade, A Falta... O Esquecer, O Cessar... A Escuridão, O Abismo, O Fim... isto é quem sou. —
— E o que tu és? — O Abismo perguntou, intrigado com a criatura perante ele mesmo.
— Não sabe quem sou? Se é o Fim, deveria tudo conhecer, pois, tudo tomará para si, não é? — Perguntei eu, intrigado com a dúvida do abismo, que olhou para mim de volta. Podia eu ver toda a sua extensão. Ilimitada e absoluta, capaz de engolir desde a grama de metal até a última luz brilhante nos céus. O Abismo não podia observar o todo Eu?
— Tu não sabes o que é, nem eu sei o que tu é, mas com certeza não há como haver algo que não tomarei. Desde o sonho mais puro, a alma mai perversa ou a história deste livro, tudo terminará no mesmo lugar. — Sem forma, o Abismo Obscuro desta vez desviou o olhar, falhando em chegar a meu âmago. Eu havia entendido naquele momento que, pela primeira vez, a dúvida chegou aquele que levaria todas às respostas.
— Nos veremos no final desta história, não é? —
Tendo a resposta comigo, dei um passo a frente, na direção oposta ao Abismo que sumiu como a névoa.
— Até breve, Herói. —
*****
Caminhando pela grama de metal, notei que os meus pés não sofriam ferimento algum. Talvez o meu corpo fosse forjado de maneira diferente do que eu pensava, embora eu tivesse a certeza que — sem dúvidas — este era um corpo humano.
A minha pele era pálida, tão pálida quanto uma folha de papel, isto é, não natural. Os meus cabelos talvez fossem a parte mais estranha de mim, junto a minha pele... Eram como fios de metal, cada um prateado, um milhar de espelhos como se fossem a forma pura do ferro. Cabelos de Prata, extraordinários por si só.
Indo na direção oposta a floresta de Brócolis, encontrei um rio cujo líquido era vinho. Sem sede, mas curioso para experimentar, bebi do líquido e deliciei-me, embora se falta o paladar.
O Vinho era a melhor bebida que havia tomado até o momento, além de ser a única também.
Caminhando a sua margem pelo chão — que antes grama, mas agora pedra — encontrei no horizonte um reino, embora destruído e parecendo vazio.