Quando a Fúria Desperta

161 17 2
                                        

Lena Pov's

Kara e eu permanecemos por alguns instantes simplesmente desfrutando da presença uma da outra. O silêncio compartilhado era um consolo depois da tempestade de emoções. Quando finalmente descemos, nossos amigos ainda estavam por ali. No entanto, os pais de Kara e Alex logo estariam em casa, e sabíamos que não podíamos nos demorar. Ou melhor, eu não podia.

— Nossa, já estava prestes a ligar para a polícia — comentou Sam, estirando os braços em um exagerado bocejo, fazendo-me rir. Kara, por sua vez, ficou tão corada que poderia se confundir com uma lanterna de emergência.

— Nós... nos distraímos — respondeu minha loirinha, baixando os olhos com uma timidez enternecedora.

— Distração, é? Sei bem que tipo de "conversa profunda" vocês tiveram — provocou Alex, arqueando uma sobrancelha em direção à irmã.

— Alex! Dá um tempo — retrucou Winn, rolando os olhos.

— Ué, só falei a verdade. E a culpa não é minha se as paredes aqui são finas — replicou Alex, soltando tudo de uma vez só.

Dessa vez, quem quis se enterrar fui eu.

— ALEX! — exclamaram Sam e Winn em uníssono, repreendendo-a com olhares indignados, enquanto Alex cruzava os braços, fingindo-se de injustiçada.

— É... acho que já está na minha hora — murmurei, desconfortável com o rumo da conversa.

— Não, Lee, fica mais um pouquinho — pediu Kara, segurando meu rosto com delicadeza, os olhos suplicantes. Fazia beicinho.

— Oooh, minha bebêzona — brinquei, arrancando risos do grupo. Kara sorriu também, mas foi um sorriso travesso e contido. — Logo seus pais estarão em casa, amor. Não posso estar aqui quando isso acontecer.

Ela bufou, contrariada, mas desfiz seu bico com um beijo na ponta do nariz.

— Desculpa por isso, Lee — disse ela, envolvendo-me num abraço apertado. Permanecemos assim por um momento precioso, até que me afastei suavemente.

— Está tudo bem, loirinha.

— Nós vamos com você, Lena. Só deixa eu achar meu casaco — disse Sam, já se levantando.

— Anda logo, Sam. Vai anoitecer a qualquer momento — resmungou Winn.

Caminhei até a porta, sentindo Kara me seguir logo atrás. Coloquei a mão na maçaneta, mas, subitamente, o mundo escureceu. Um som estridente cortou meus ouvidos e, por um instante, tudo se tornou ruído. Quando meus olhos se abriram novamente, o caos havia se instaurado.

Kara lutava com um homem empunhando um machado. Ele a feria — e ela sangrava.

Kara Pov's 

Eu estava logo atrás de Lena quando percebi sua aproximação. Tarde demais.

— LENA, NÃO...! — gritei, mas minhas palavras foram engolidas por uma explosão.

Instintivamente, lancei-me sobre ela, protegendo-a com meu corpo. O impacto lançou destroços por toda a casa. Quando ergui o rosto, a entrada e a sala já não existiam. Alex e Winn correram até mim. Não vi Sam em lugar algum.

— Kara, levanta agora! — bradou Alex, puxando-me pelos ombros.

— Ajudem ela... — consegui murmurar, apontando para Lena.

E então ele surgiu, sua presença gelando o ar ao nosso redor.

— Pequena Zor-El, achou mesmo que eu não faria o dever de casa? — zombou Vartox, com o sorriso sádico de quem saboreia o medo.

— O problema é comigo. Deixe os outros em paz — respondi, firme.

— E perder a minha melhor vantagem? Não hoje, pequena Zor-El — rosnou, avançando em direção aos meus amigos.

Interceptei-o antes que se aproximasse. Lancei-o para fora da casa com força, fazendo-o atravessar uma parede.

— Saiam daqui! — ordenei, virando-me para os demais.

— Não vou te deixar enfrentar isso sozinha! — retrucou Alex, obstinada.

— Não mesmo! — acrescentou Winn.

— Chamem Hank. Eu o manterei ocupado até o DOE chegar — pedi, e vi o medo em seus olhos. — Eu consigo.

Toquei o braço de Alex e me voltei para o inimigo.

— Parece mais forte do que da última vez, pequena Zor-El — comentou Vartox, erguendo-se entre os escombros.

— Não deixarei que toque neles — declarei, firme — Hank e o DOE vão contê-lo.

— Só há um modo de me parar: é cessando os batimentos do meu coração — disse ele com um brilho insano no olhar.

— O DOE não vai te matar.

— Tão ingênua... — ele riu, sombrio. — Apenas você ou seu primo poderiam me deter. E seu primo? Um covarde. Mas você... eu vi em seus olhos o que é capaz de fazer.

Ele ergueu o machado e correu em minha direção. A luta recomeçou.

Fui arremessada contra o chão, mas reagi. Acertei-lhe um soco no rosto — inútil. Meus poderes ainda estavam debilitados. Vartox retaliou com brutalidade: joelhada no estômago, depois no rosto. Sangue escorreu pela minha boca.

— Vamos, pequena Zor-El! Mostre do que é feita! — provocava.

Chutou meu rosto com força. Ouvi um grito — Lena.

— Lee... não... — tentei falar, mas a dor me impedia.

— Ela? Seu ponto fraco? Vamos ver se matando seus amiguinhos você reage.

Tentei impedir. Segurei seu pé.

— Isso é um sim para mim — zombou.

Ajoelhou-se, agarrou meus cabelos e bateu minha cabeça contra o chão. O estalo do nariz quebrando ecoou em meu crânio. Cuspi sangue. Ele continuou.

— Fraca... será divertido ver seu rosto enquanto esfolam seus amiguinhos humanos.

Agarrei sua blusa.

— Isso, pequena Zor-El, lute por eles — ele riu e me empurrou novamente. — Agora assista.

Então, algo em mim se partiu. Ou renasceu. Uma voz ancestral, selvagem e imperiosa gritou em minha mente:
"Mostre a esse verme o que você nasceu para ser."

Senti o fogo tomar meu corpo. Os sentidos se aguçaram. O tempo parou — ou pareceu parar. Cada molécula do meu ser vibrava com energia. O sangue queimava em minhas veias. E com essa força renovada, ergui-me.

Lena gritava. Vartox avançava com o machado. Vi todos caídos: Sam no chão, a chave do carro em mãos; Winn desacordado; Alex tentando se erguer; e Lena, nas garras dele.

Mas eu já estava lá.

Interpus-me entre Lena e a lâmina. Segurei o machado com tanta força que quebrei a mão de Vartox. Lançei a arma longe, fazendo-a cravar-se em uma árvore a metros dali.

Ele largou Lena.

Mas eu já não via mais nada. Apenas ele.

— Sua... desgraçada! — exclamou, com dor.

— Desgraçada? Não. A tua sentença — respondi com frieza.

Acertei-lhe um soco. Não todo o poder — ainda não.

— Não era isso que queria? Vamos brincar — caminhei até o machado, arranquei-o do chão e atirei-o de volta — Mostre como vai esfolar meus amigos agora.

— Você vai morrer, sua maldita kryptoniana! — gritou, correndo em minha direção.

— Veremos — murmurei, imóvel, com os olhos em brasa.



O Medo De Amar - SupercorpOnde histórias criam vida. Descubra agora