Fuga

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Não demorou muito para Katrina sair daquela casa, ela ignorou completamente os gritos do seu pai enquanto saía de casa. Já era tarde, e ela não sabia pra onde ir, ou o que fazer, ela só queria estar o mais longe possível de seu pai, ela não aguentava mais as brigas diárias que tinha com seu pai, ela sabia que precisava por um fim nisso.

Katrina vinha de uma família pobre e simples, tudo que ela tinha com ela de valor eram apenas 13 reais. Ela olhava pro dinheiro enquanto pensava no que fazer. Ela andou até o ponto de ônibus próximo da sua rua, e esperou o próximo ônibus, sem saber ainda qual destino iria escolher. Por memória boa, ou por sorte, quando ela viu o ônibus chegar, ela percebeu que era o mesmo ônibus que ela pegava pra ir pra escola, antes de se formar. Isso fez ela lembrar de uma amiga dessa época. Ela entrou no ônibus sem pensar duas vezes. O motorista e os passageiros a olhando com estranheza por conta das malas, mas ela não deu importância.

Katrina não sabia se essa amiga de infância morava no mesmo lugar ainda, ela não tinha o número da menina, e nenhuma rede social pra tentar contato. Depois de se formar, Katrina se isolou mais ainda das pessoas, então ela não era de muitos amigos. Ela cruzava os dedos desejando que a ex amiga ainda morasse lá. Assim que o ônibus chegou, Katrina desceu e caminhou até a casa que ela ainda se lembrava em suas memórias de infância. Ao chegar, sua mão tremeu, mas ela bateu na porta. A casa estava diferente, parecia mais luxuosa do que ela lembrava.

Depois de alguns segundos, a porta se abriu e Katrina viu o rosto que ela não via a anos. _"Katrina??"_ perguntou a menina completamente surpresa _ "É você mesmo?"_ a menina disse enquanto sorria, Katrina ficou grata por ela não ter se mudado.

Depois de muita conversa e um agradável reencontro, Katrina explicou toda sua situação pra sua amiga. _"O seu pai continua o mesmo, mesmo depois da morte da sua mãe!?"_ disse a amiga incrédula_"Infelizmente sim, pelo menos ele parou com as agressões físicas "_ explicou Katrina _"Então o que você vai fazer agora?"_ perguntou a amiga com certa preocupação. _ "Eu..eu não sei"_ ela respondeu enquanto olhava pro chão, fazendo um silêncio tomar conta do local. _"Eu só não quero voltar pra casa do meu pai. Mas eu não tenho emprego, não tenho dinheiro, muito menos alguma formação.."_ ela disse com certa tristeza_"Mas eu prefiro ir morar no inferno do que voltar pra lá"_ ela disse suspirando, fazendo sua amiga por a mão no queixo e a olhar pensativa_"Se nada é pior que a casa do seu pai, e você prefere morar no inferno.."_ ela olhou Katrina como se tivesse um plano diabólico_ "que tal, você ir de fato pro inferno?"_ disse cruzando os braços e com um sorriso, fazendo Katrina a olhar extremamente confusa_ "oi?!"

Não, a amiga de Katrina não estava dizendo "vai pro inferno", na verdade, foi uma metáfora _"O exército, Katrina, e se você se alistar?"_ "Você tá louca?! eu tenho 18 mas não sou homem"_ disse Katrina com indignação a ideia louca de sua amiga _"Então volta pra casa do babaca do seu pai"_ disse dando de ombros _ "Olha, não me entenda mal, mas pensa comigo, lá você não precisa de nenhuma formação pra entrar, você vai ter cama, comida e água, e até um salário por estar lá" _ Katrina a olhou pensativa, e se realmente não fosse tão ruim assim? ela não tinha muitas opções, ou era rua ou voltar pra casa do pai, o que ela não queria nem morta.

A amiga pegou o telefone, enquanto pesquisava algo _"Só homem é obrigatório mesmo, mas.."_ a amiga parou de falar enquanto continua a ler mais. _ "Mas o que?"_ Katrina se levantou curiosa pra olhar o celular com a amiga. _ "De acordo com o substitutivo, as mulheres são isentas do serviço militar em tempo de paz, mas podem prestar o serviço de maneira voluntária, de acordo com suas aptidões. Para isso, é preciso que manifestem a opção no período de apresentação previsto na lei."_ explicou a amiga.

Como as coisas tinham escalado tão rápidas? em uma hora Katrina pensou na possibilidade de ir pro exército de fato, e agora mudar de país? Ela só sabia que ela queria de fato sumir e fugir da situação sobre o pai dela.

_"E qual é o período previsto pela lei?"_ perguntou Katrina curiosa _"o ano que você faz 18 anos, ou seja, você pode"_ explicou a amiga

Katrina a olhava pensativa, enquanto só lembrava de todas as coisas ruins que ela já tinha ouvido sobre o exército, um medo misturado de coragem e adrenalina tomou conta dela

_"eu... eu não sei, Sara"_ disse se sentando

_"olha, os tempos mudaram, é melhor hoje em dia"_ a maior tentou explicar

_"e como você sabe?"_ indagou

_"Katrina, sua memória é realmente ruim não é, meu sonho era ser policial quando eu estava na escola, eu era obcecada por isso"_ Sara explicou

_"O que houve pra você não tentar?"_ a menor perguntou

_"os homofóbicos dos meus pais falaram que lá "não era lugar de mulher" e falaram pra eu escolher algo mais feminino. Bando de cuzão"_ disse Sara olhando o chão com certa raiva. Sara tinha se assumido como lésbica aos 14 anos, mas os pais dela, totalmente conservadores, não aceitaram nada bem,
e faziam de tudo pra "curar" a menina.

 Sara tinha se assumido como lésbica aos 14 anos, mas os pais dela, totalmente conservadores, não aceitaram nada bem, e faziam de tudo pra "curar" a menina

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aparência de Sara feita por IA, pois eu tive preguiça de desenhar, mas futuramente irei fazer fanarts dela

_"eu sinto muito Sara...eu tenho certeza que você seria um ótimo soldado"_ Katrina disse com o olhar triste, mas logo erguendo uma sobrancelha _"espera, Sara. Agora você também tem 18, você responde por si mesma, você pode se alistar se você quiser, e os seus pais não podem fazer nada pra impedir!"_ disse a menor se levantando, fazendo Sara rir um pouco.

_"você não tá errada, mas eu já pensei nisso, mas não sei se consigo"_ disse a loira desanimada

_"Espera, você não pode largar seu sonho assim, e se você se alistar junto comigo? se nós duas formos juntas?!"_ agora Katrina tinha alugado um triplex na cabeça de Sara, que ficou em silêncio por um bom tempo

_"Talvez.."_ disse Sara sorrindo _"Realmente, por que não?"_ disse a loira sorrindo e se levando, as duas começaram a rir e pular juntas de mãos dadas. elas se sentiam como crianças de novo.

pulo temporal

Depois de muita conversa, Sara disse a Katrina que ela poderia ficar até que decidisse o que fazer de fato. Katrina ficou por uma semana na casa de sua amiga, até perceber o quanto os pais de Sara estavam incomodados com a situação. Então elas decidiram que apostariam tudo nisso. Como Katrina estava quebrada, sua amiga pagou tudo que ela precisa. Foi um processo demorado e minucioso até elas de fato conseguirem ser aceitas no exército. Mas diferente dos que elas pensavam, mulheres precisavam fazer concurso pra seguir carreira no exército. Isso de início foi um grande desafios, depois de meses de muito esforço e estudo, elas conseguiram passar no concurso.

Válvula de EscapeOnde histórias criam vida. Descubra agora