Chapter LXV

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Episode: dog and... you?

Suppasit parou o carro, encarando as mãos pálidas pousadas friamente no volante escuro. Moveu os dedos devagar, abrindo-os e fechando-os vagarosamente, na tentativa falha de expulsar a dormência que parecia deslizar por baixo de sua pele.

Quando percebeu que de nada adiantava, soltou uma respiração cansada e jogou a cabeça para trás, fechando os olhos e implorando internamente para que tudo aquilo sumisse.

Ele respirou mais uma vez. Dessa vez de forma lenta, concentrando-se somente no som do seu pulmão enchendo-se de ar e expelindo-o lentamente.

Ergueu sua mão, abrindo novamente os olhos, e finalmente desligou o motor do carro, encarando ligeiramente o rádio que a dias não era ligado. Mew Suppasit sentia falta da música. Sentia tanta falta que lhe apertava o coração e sufocava os pensamentos.

Ele balançou a cabeça, desviando o olhar para fitar a porta fechada da casa de Erich, perguntando-se mais uma vez se havia tomado uma decisão racional ao seguir até a casa do veterinário ou apenas tinha cedido a um impulso agitado que preencheu sua mente caótica.

Naquela manhã, quando acordou de mais um sono frágil, abrindo seus olhos com pesar, envolto naquela sensação de inércia, tentou inutilmente melhorar seu humor com a péssima decisão de preparar o próprio café da manhã – mesmo quando sequer sentia vontade de comer. – Mas, quando viu que os ovos que tentou cozinhar estavam crus e o bacon havia sido queimado, frustrou-se consigo mesmo.

Suppasit jogou tudo, sem cerimônias, dentro da lixeira em seu quintal com uma expressão cansada. Falando para si mesmo que não era algo importante, que se frustrar com um erro não era o bastante para lhe afetar, mas quando sentou-se no sofá, acompanhando do silêncio ensurdecedor da sua sala, sentiu o peito se apertar em uma sensação perturbadora de afogamento.

Mew Suppasit era ponderado. Ele era calmo, gentil e racional. Ele não se estressava com um café da manhã que deu errado, ele definitivamente não chorava por causa disso, e ele não sentia que estava prestes a hiperventilar somente ao pegar o celular para mandar uma mensagem para a irmã e perceber, com seus dedos trêmulos, que não conseguia decidir o que escrever.

Escrever para Jom era seu mantra, era seu lugar seguro. Porque, mesmo sem resposta, era acalentador saber que ao menos poderia ter a ilusão de que estavam sendo enviadas.

Afinal, no fim, ele supostamente conhecia Jom Jongcheveevat o suficiente para saber como ela responderia cada uma de suas mensagens.

Mas aquela situação... Aquela situação era uma variante fora da linha, uma peça que não encaixava no quebra cabeça.
Mew não sabia o que Jom lhe diria, não conseguia supor qual seria sua opinião sobre o jovem professor.

O músico estava sendo invadido por essa sensação avassaladora de que não conhecia a irmã profundamente. Que havia perdido uma parte importante dela.

Sentia que havia muito dela que ele não reconhecia, que não havia enxergado.

Não apenas o seu fim, mas tudo o que a levou até ele. Suppasit tinha essa ideia de que, pelo vínculo que criaram durante a vida, isso o tornava aquele quem mais a conhecia. Então porque, subitamente, sentia que havia tanto que nunca foi lhe dito?

Jom havia saído da ilha afirmando precisar pegar algo importante. Dizendo que precisava cuidar de algo. Ela não comentou que visitaria a antiga fraternidade, nunca mencionou amigos que gostaria de ver. Jom sequer tivera visitas de amigos da faculdade, durante sua internação.

Mew sempre supôs que, quando repetia continuamente sobre a necessidade de sair da ilha para resolver algo importante, ela referia-se a Chopper, seu presente surpresa. Que a viagem fora unicamente para busca-lo.

The Blue Of Your Voice • Fanfic MewGulfOnde histórias criam vida. Descubra agora