O que havia de melhor naquele mato

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Dentro do casarão da fazenda, os velhos discutiam detalhes do natal que teriam por ali e pediam para que Luciano fosse de um lado ao outro, levando e buscando coisas de um lugar ao outro para eles.

Às vezes ele passava pela varanda e via Daniela sentada numa poltrona de bambu com estufado verde sobre sua armadura. Lia um livro grosso e parecia gostar. Pelo menos parecia concentrada. O sol estava no meio do céu quando a reparou ali, e ela ainda estava lá quando o sol começava a sumir no horizonte.

O rapaz já não tinha mais o que fazer, quando decidiu sentar-se num sofá do mesmo jogo da poltrona, só que de dois lugares, e encarar o que se podia avistar da fazenda dali.

Antes dos matagais e árvores baixas, havia uma cerca baixa de madeira sem pintura que dividia a floresta dum terreno limpo e arenoso, onde se estacionavam os carros da fazenda e, mais para perto, uma grama bem verde forrava as bordas de um calombo de terra que era onde o casarão da fazenda fora construído.

Daniela sorriu, vendo que o primo ficou por ali por um tempo, pousou o dedo indicador sobre a palavra que parara de ler e o encarou. As escleras dos olhos estavam vermelhas.

— Você lê — ele comentou um tanto abismado.

— Não é tão difícil. É só juntar "B" com "a" e formar "ba" e pronto. A mágica acontece depois disso — ela brincou.

— Não, eu digo... — Luciano apontou para o livro sobre o colo da moça. — Você gosta de ler.

Ela lhe ergueu uma sobrancelha e o olhou com uma expressão no meio do caminho entre: "eu vou te dar um tapa" e "eu não sou totalmente a pessoa que ouviu falar que sou".

— Bom... — Ela fechou o livro. A ponta de seu dedo indicador não saiu do lugar. — Eu não leio há um tempo, mas sim... — Acenou com a cabeça. — Eu costumava gostar muito quando não tinha o que fazer. — E então corrigiu: — Antes de eu ter algo a fazer.

— E o que seria esse "algo"?

Daniela pensou e não achou a resposta de imediato. Não existia nada exatamente para mudar esse "algo" para outra coisa.

— O namoro, por exemplo? — ele sugeriu e ela tenteou com a cabeça, indecisa.

— É... Deve ter sido. — A moça se ajeitou sobre a poltrona e passou uma perna sobre a outra. — E a festa lá? Como estão os arranjos?

— Indo. — Ele respirou fundo e esfregou com força as palmas das mãos na calça jeans azul escura. Ele gostaria de rir por perceber a não sutil mudança de conversa.

— Vai precisar de ajuda?

— Não. Não. — Balançou a cabeça. — O povo lá está dando conta. E você já ajudou o suficiente organizando a festa.

Ela deu de ombros.

— Eu não fiz nada de mais. Só sugeri a quantidade de bebidas, quais bebidas, arranjei o som e o que comer.

— Bom... — Ele deu meia risada. — Ao meu ver, parece que você fez a parte mais importante. — Depois apontou para o livro. — O que está lendo? — Ela virou o livro, já que a contra capa é que estava para cima e visível. — Romeu e Julieta? — ele ergueu as sobrancelhas e, com elas, o olhar se encontrou com os da moça. — Cristo, você não... — Balançou a cabeça. — Esquece.

— Eu não o quê, Luciano? — Ela fingiu desgosto e alterou o tom da voz.

O rapaz primeiro lhe deu um risinho desconfiado e apontou para o livro pouco antes de começar a falar:

— Não me bata. Mas você não me parece o estilo de mulher que leia Romeu e Julieta. Esse até eu sei que é exageradamente meloso.

Ela se ajeitou na poltrona e aproximou mais seu rosto do dele.

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⏰ Última atualização: Oct 07, 2023 ⏰

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