Interlúdio (MatchaBlossom)

Todas as histórias de amor

E essa grande confusão teve início numa simples tarde depois da aula.

Dois melhores amigos espalhados pelo quarto do esverdeado, se distraindo assistindo vídeos no YouTube e lendo alguma comic antiga que já estava na estante de Kojiro há mais de um ano.

Não é de se esperar que dois garotos de dezessete anos estejam brincando, gritando ou fazendo bagunça quando estão juntos. Estavam só matando tempo e aproveitando a companhia enquanto o sol lá fora se escondia, e essa cena tinha se tornado algo bastante comum nas últimas semanas.

Nanjo estava sentado no chão do próprio quarto, apoiando as costas na cama enquanto assistia um vídeo de algum skatista gringo treinando manobras, mesmo sem entender nem mesmo o básico do inglês. Achava legal observar e tentar reproduzir depois, o esverdeado sempre gostava de aprender manobras novas... Principalmente manobras que julgava serem boas o suficiente para impressionar Kaoru.

O rosado, por sua vez, ocupava a cama do melhor amigo, passando os olhos desinteressadamente por um gibi que já havia lido outras vezes enquanto ouvia o áudio do vídeo que Kojiro assistia. Geralmente Sakurayashiki se dava bem com aquela dinâmica de passarem tempo sozinhos e em silêncio, mas, recentemente, tinha algo que vinha ocupando sua cabeça.

Sem conseguir prestar atenção no gibi e sem interesse para assistir o vídeo, Kaoru olhou para Kojiro, que definitivamente não conseguia ver seu rosto por conta da forma que estava sentado. Diante disso, o rosado fechou o pequeno livro e deu com o mesmo na cabeça do esverdeado, que por sua vez se voltou ao mais velho, fazendo cara feia.

- Hey!! - Nanjo reclamou, mudando a posição em que estava sentado e dirigindo um olhar revoltado ao mais velho.

No entanto, Sakurayashiki não respondeu à provocação. Apenas olhou para o melhor amigo com um semblante incômodo e perguntou em um tom de voz relativamente baixo:

- Eu... Eu posso te contar uma coisa? - ele falou com calmaria.

Vendo que aparentemente se tratava de algo sério, Nanjo desligou o celular, cessando o som do vídeo, e se sentou de modo que pudesse ver o rosto do melhor amigo com facilidade.

- Claro. - ele respondeu, tentando passar um ar de maturidade e confiança. - Pode me contar qualquer coisa.

Kaoru desviou os olhos, ponderando se deveria contar ou se seria melhor deixar 'pra lá. Uma pequena reflexão foi feita até que o rapaz se decidisse. Sem muita coragem de olhar o esverdeado nos olhos, Sakurayashiki confessou entre os dentes:

- Eu acho que eu estou gostando de um cara. - ele admitiu, embora não parecesse estar nada entusiasmado com aquilo.

Kojiro arregalou levemente os olhos, sentindo seu coração acelerar ao ouvir aquelas palavras. Ele gostava de garotos, também?! Isso era uma notícia maravilhosa, até porque... Bom, sim, isso vai soar meio óbvio mas... Kojiro era um garoto. E esse revelação de que Kaoru poderia apresentar interesse romântico por garotos elevava suas chances com o rosado de "absolutamente zero" para "algum número bem pequeno, mas maior do que zero"!! E Kojiro estaria mentindo se não dissesse que havia ficado feliz diante dessa notícia.

E estaria mentindo mais ainda se dissesse que não era completamente apaixonado pelo rosado há meses...

Mas Kojiro nunca tentou nada. Nunca comentou sobre o assunto, nem mesmo pensou em se confessar. Sabia que Kaoru não o enxergava daquela maneira, mas não se deixava abalar por conta disso. Uma parte de Nanjo realmente acreditava que seria só questão de tempo até que ele conquistasse o rosado. E Kojiro estava disposto a esperar, independente de quanto tempo demorasse.

Mas até lá, o esverdeado se contentava em demonstrar seu amor de outras formas mais sutis. Elogiar as roupas que o rosado vestia; mandar mensagem todos os dias; cozinhar 'pra ele; cuidar dos machucados; assistir as corridas de skate; torcer mais do que qualquer um na torcida... Nanjo tinha dezenas de formas de expressar seu amor, mas sabia que não poderia forçar Kaoru a amá-lo de volta. Até lá, o esverdeado apenas prezaria pela felicidade alheia, e, 'pra ele, aquilo já bastava.