Capítulo único

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A primeira noite depois da formatura do ensino médio me traz um sentimento estranho de angústia. É claro que estou feliz por não precisar mais acordar cedo todos os dias, mas me sinto triste ao pensar que agora também não vou encontrar com Jihyo na rua principal para pegarmos o ônibus ou almoçar com Momo na Domino's depois do colégio. É estranho perceber que vivi uma rotina por quatro anos inteiros e que ela se encerrou e eu nem ao menos tive tempo de notar isso até agora.

Meus pensamentos estão voando em um tornado de incerteza e saudade quando escuto um barulho vindo da janela do meu quarto, franzo o cenho e encaro as árvores no quintal do lado de fora até que um vulto preto atinge o vidro com tudo e o som que o choque causa me faz me encolher na cama. Na segunda vez, finalmente percebo o que é e, então, um sorriso largo toma conta dos meus lábios. Eu escapo rapidamente da armadilha de cobertores e lençóis que criei na minha cama e corro para alcançar a janela, as treliças ranger quando faço esforço para abri-la e esse som nunca foi tão confortável quanto ele é agora.

Hirai Momo está parada no meio do meu quintal, com seu par favorito de Vans preto - levemente desbotados pelos anos - pisando na grama curta que meu pai aparou ontem pela manhã. Seu cabelo preto está solto e cai por sobre seus ombros largos, a franja perfeitamente arrumada sobre sua testa para não deixar nenhum pedaço de pele aparecer naquela região. Ela parece uma estrela irradiando luz no meio do meu quintal.

Ela está usando um moletom azul escuro, que eu sei que pertence a seu irmão mais velho, e calça de moletom cinza. Parece um look simples e casual, mas Momo consegue transformá-lo em algo digno das passarelas da Fashion Week. Ela simplesmente tem esse poder de fazer as coisas terem mais significado do que normalmente lhe são atribuídas. Suas mãos cheias de pedras minúsculas, que pelo visto ela estava planejando acertar na minha janela para chamar minha atenção, e isso me faz rir.

- Ei! - ela grita e acena com as mãos acima da cabeça assim que me vê, as pedras caem ao seu lado e meu riso aumenta mais ainda. - Pensei que não fosse perceber que eu estava aqui.

- Você sabe que existe campainha, certo? Ah, e uma coisa muito legal chamada celular também!

Momo revira os olhos, mas seus lábios se abrem em um sorriso encantador e brilhante - aquele mesmo sorriso que sempre aparece depois que trocamos um abraço apertado.

- Onde está o seu romantismo, Nabong? - Ela pergunta, me encarando com seus lindos olhos redondos. E mesmo de longe, eu consigo sentir a intensidade desse olhar. - Vem, desce logo! A gente tem muita coisa pra fazer antes que o dia amanheça!

São três e meia da manhã e Momo está parada no meio do meu quintal, jogando pedras na minha janela para chamar a minha atenção ao invés de usar o celular ou tocar a campainha, me chamando para sair em mais uma aventura com ela. Eu poderia lhe dar mil argumentos para não aceitar, mas eu nem ao menos penso duas vezes antes de correr para o armário e buscar um casaco grosso de moletom. Momo nunca precisou de muito para me convencer a fazer alguma coisa, não seria agora que as coisas iriam mudar.

Desço as escadas correndo enquanto visto o casaco, minhas meias felpudas arrastam no carpete bege da sala de estar e o atrito quase me faz ir ao chão, mas me mantenho firme até chegar na porta. Não me preocupo com o barulho que faço ao descer, nem em abrir a porta com calma. Meus pais estão em uma viagem de negócios e tenho a casa livre para mim desde ontem a tarde, quando minha irmã mais velha decidiu passar a semana com o namorado no pequeno apartamento dele no centro da cidade.

Os braços fortes e largos de Momo me apertam em um abraço aconchegante assim que passo pela porta de entrada, ela me aperta contra seu corpo como sempre faz e isso me arranca um sorriso. Durante todo o ensino médio, o posto de capitã do time feminino de futebol do colégio foi ocupado por Momo, então, quando ela não estava nos treinos com bola no campo, estava na academia com seus enormes pesos, por isso ela forte como um touro e tem um abdômen duro como pedra.

Long Way Home  • oneshot namoOnde histórias criam vida. Descubra agora