Introdução

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Introdução

Por quanto tempo uma briga pode durar? Por quantas gerações uma vingança pode se manter? E quantos precisam morrer para que o fim de uma guerra aconteça? De todas as brigas entre famílias, sem dúvidas, a guerra entre a família Ferrer e Diniz foi a mais sangrenta que o meu clã presenciou.

Duas famílias que se odeiam a quase oito gerações. Um ódio que começou por causa de uma disputa de terras, dinheiro e poder. E é sempre esse motivo fútil. De verdade não sabemos quem estava certo ou errado. Essa história já foi passada por tantas gerações, tantas versões diferentes que no fundo desconhecemos a verdade. E depois de sete gerações eu fico me questionando, será que ainda existe uma verdade? E se ela existe é tão importante?

Essa é a opinião de uma humilde Xama, mas acho que depois de tanto tempo o motivo real da guerra se perdeu. Nem eles mesmos sabem porque estão brigando. Na sexta geração tudo se tornou um pouco mais civilizado. As duas famílias dividiram a cidade no meio e o respeito foi mantido.
Então vocês devem estar se questionando, e os civis que moram na cidade? Eles aprenderam a conviver no meio dessa guerra. Respeitam as leis e sabem que não podem cruzar a linha. Quem negocia com os Ferrer não negocia com os Diniz e assim tentam seguir em paz.

A última geração que quase destruiu a cidade foi a quarta geração. Era comporta por homens loucos, sedentos por poder e com filhos que acompanhavam isso. Foi a pior fase que essa cidade já viveu. Eu não era nascida, é claro. Mas meus ancestrais viveram aqui.

A história que contam é que em uma noite a guerra foi anunciada. Casas começaram a pegar fogo, pessoas corriam para fora desesperadas. Lojas foram saqueadas, pessoas foram queimadas vivas na praça da cidade. Religiosos diziam que era o fim do mundo.

Quando o sol nasceu a cidade era um caos. Tudo estava destruído. Não tinham uma casa em pé, metade da cidade foi morta. Ao final do dia a praça da cidade que antes era um local de festas, se tornou espaço para os corpos. Foi o pior cenário já visto.
Depois disso um tratado foi assinado. A cidade foi dívida no meio. Os civis tiveram a opção de se mudar para o lado da cidade que preferissem. E então os patriacas com o seu poder e dinheiro foram descontraindo a cidade. E a quarta geração foi chamada da Geração Sangrenta.

A quinta  geração manteve o tratado sem mudar nada. Eles viram a cidade pegar fogo e os corpos. Mesmo sendo novos, crianças ou adolescentes, eles presenciaram tudo. Então essa foi a geração de paz. Claro que os pais não ficaram totalmente satisfeitos, mas não eram mais eles que comandavam. Eles já estavam velhos. E por uma geração nenhuma guerra aconteceu.

A sexta geração. Os netos dos sangrentos, filhos dos pacíficos resolveram fazer algumas mudanças no tratado flexibilizar um pouco. Dar mais liberdade ao povo para que eles pudessem viver sem medo. E então essa geração sentiu pela primeira vez o peso do sangue e de tanta morte em duas vezes. O karma chegou e veio cobrar tudo o que os antepassados fizeram.

Se a quinta geração não teve dificuldade para ter filhos. Vinham como as gerações anteriores, sempre muito numerosas. A sexta geração tinha filhos aos montes, mas perdia na mesma proporção. Tudo acontecia. Os bebês morriam na barriga, nasciam mortos ou não passavam dos 5 anos, como se fosse uma mensagem dos deuses para os patriarcas da família.

E no final. A sexta geração conseguiu manter apenas um filho cada. Esse foi o recado dos deuses. Guerra acabaria ou seria o fim das famílias. Nenhum sangue mais poderia ser derrubado. Nenhum corpo apareceria mais na cidade em uma cova rasa. Tudo isso precisava acabar.

Os homens da sexta geração sentiram o peso dos feitos dos seus ancestrais. Primeiro porque na cidade e nas cidades vizinhas corriam uma história sobre uma maldição que tinha caído sobre os homens das famílias, todos eram inférteis ou tinham problemas para gerar sucessores. E depois que conseguiam um casamento, suas esposas sofriam para ter filhos.

E então assim viveram suas vidas com apenas um filho, morrendo de medo de perde-los. E então apelaram para o nosso clã. Primeiro vieram os Ferrer, sempre foram mais religiosos. Queriam saber como fariam para ter a benção da fertilidade em suas vidas de novo. Eles temiam pelo fim da família.

Quase um ano depois veio os Diniz. Sempre foram mais teimosos. O patriarca Miguel não gostou da resposta dos deuses. Mas ele estava no limite. Já tinha perdido cinco filhos. Três eram homens, todos nasceram mortos. Miguel estava desesperado.
Então para tentar salvar a família o tratado foi rasgado. Cada família reduziu seu espaço as suas terras e nada além disso. Cada família vivendo no limite da cidade sem interferir no meio dela. Os civis estavam livres da divisão. E nenhuma guerra seria feita para as próximas gerações. Nenhum sangue derramado, nenhum corpo sem vida.

E depois de anos, tratamentos e tentativas. As famílias conseguiram ao mesmo tempo seus herdeiros. Leonardo Ferrer e Hugo Diniz. Os cinco primeiros anos foi de extrema tensão. Os meninos não saiam de casa, viviam sendo assistidos por médicos. Se conseguissem passar dos cincos anos teriam alguma chance de chegar a vida adulta.

E cada ano a festa era maior e mais animada. No aniversário de cinco anos das crianças, comemoradas no mesmo dia, foi uma grande festa na cidade. Comércios foram fechados, presentes chegavam aos montes nas duas casas, familiares chegando para comemorar.

No dia seguinte foi a primeira vez que Miguel e Gabriel sentaram frente a frente em um bar no centro da cidade e tentaram ter uma conversa pacífica. Quem presenciou conta que tinham certeza que uma nova guerra começaria. Mas não, eles beberam em silêncio por alguns minutos, até que começaram a conversar sobre o alívio de ter filhos com cinco anos. Era algo que eles entendiam. Eles sentiram pela primeira vez o sangue saindo das mãos, o peso indo embora. Tudo poderia ficar bem.

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