Capítulo 1

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Mia Alves

Eu estava no meu lugar preferido, a cozinha da nossa padaria. Estava fazendo as nossas famosas balas de coco. Os sabores do dia seriam morango, avelã, limão siciliano e amora. Essas eram as balas preferidas da cidade. Eu demorei muito para chegar no ponto certo, as balas que são vendidas em outras cidades são duras, esfarelam, a minha derrete na boca. Como os clientes faltam “ É uma passagem para o paraíso”.

Eu amo a confeitaria. Amo desenvolver as receitas e amo essa pequena cidade. Muitas coisas ruins já aconteceram aqui. Já vivemos climas de guerras, assim minha tia conta. Eu na verdade não vivi nada disso, só escutei falar. Vim morar aqui quando tinha dez anos. Minha mãe morreu no parto e eu era criada pelo meu pai com a ajuda da minha avó e algumas tias.

Mas ele não sabia como criar uma menina. Minha avó era muito ocupada com outros netos e minhas tias tinham a vida delas. Meu pai começou um outro relacionamento e tudo foi ficando mais difícil. Então minha tia, que era irmã da minha mãe começou a se aproximar depois de muita insistência.
Ela nos visitava sempre que conseguia e em todas as vezes era uma briga. Ela dizia que eu estava largada e mau cuidada. Que mesmo meu pai começando outra família, que ele tinha que cuidar de mim porque eu também era filha dele, mas meu pai estava cego.

Então quando eu completei dez anos minha tia me trouxe para morar com ela. Me lembro de chegar na cidade e ficar encantada. Tudo era lindo, a cidade era calma diferente do lugar que eu morava. Todos se tratavam bem. A cidade era como uma grande família. Me lembro que foi a primeira vez que me senti em casa.
Então vim morar com a minha tia e decidi nunca mais sair daqui. Ela tem uma confeitaria no centro da cidade, de frente para a praça, o que torna a visão da porta uma linda paisagem. É daqui que sempre saem os bolos de todos os eventos.

Minha tia me ensinou tudo o que sei, mas tenho que dizer que eu tenho uma mão boa para doces, são sem dúvidas os meus preferidos. Comecei a fazer doces come ela no mesmo dia que eu mudei, não como obrigação. Mas porque minha tia precisava trabalhar, eu queria ser útil e acabei pegando gosto pela confeitaria. E para ser sincera, minha tia transborda paixão pela culinária, quando você convive com ela, não precisa de muito para se apaixonar também.

Tudo aqui me encanta. A cidade é linda. Tem uma praça linda no centro, muitas flores e árvores, o ar é mais puro. Tudo é muito bem cuidado. A cidade é perfeita. Minha tia conta histórias horríveis sobre o passado, mas vendo tanta beleza, fica difícil de acreditar.

O clima nem sempre é tranquilo. Quando Leonardo e Hugo estão na cidade tudo costuma ficar mais tenso. Minha tia conta que até os cinco anos eles viviam traçados dentro de casa por causa da maldição. Eu não sei se acredito, mas a história que contam é que por causa de tanto sangue que as famílias derramaram no passado eles acabam carregando um fardo enorme até hoje.

Tem gerações que a guerra acabou. Nenhum sangue foi derramado. Mas a maldição esta viva até hoje. Então até os cinco anos eles viveram dentro de casa com os melhores médicos e especialistas do mundo cuidado deles. Minha tia conta que o aniversário de cinco anos foi uma grande festa. Durou um dia todo. Era literalmente a celebração da vida.

Aos dez anos eles andavam livremente na praça, mas sem de olhar. Leonardo e Hugo nunca se aproximaram, nunca se falaram, nunca tentaram fazer amizade. Aonde um estava o outro não estava. Foram ensinados desde os primeiros dias de vida que deveriam se odiar, mas que nunca deveriam começar uma guerra.

Eu não sei como eu conseguiria viver dessa forma. Odiar alguém sem conhecer. Um ódio gratuito, apenas porque as pessoas antes de seus tataravôs se odiavam. Eu acho que na verdade eles nem sabem mais porque se odeiam. Eles se odeiam e pronto.

Quando completaram quinze anos os dois saíram da cidade. Foram estudar fora. Em outro estado eu acho. Foi no mesmo ano que eu cheguei. Então não pude conhecer os dois. Fiquei anos ouvindo as histórias pela minha tia e amigas dela e vendo fotos antigas. Até que quando completaram vinte anos, os dois voltaram. Essa sincronia era até engraçada. Os dois chegaram com alguns dias de diferença.

Leonardo chegou primeiro. Me lembro de ver os pais andando com ele no centro da cidade. Era uma família feliz e com um ar leve. Falavam com todos na cidade. No início eu achei que eram políticos. Dias depois foi a vez da família Diniz. Hugo estava apenas com o pai. A mãe andava destacada sempre.

Miguel e Hugo. Dois homens extremamente sérios e frios. Parece que aonde eles passavam o sol ia embora. Era uma sensação horrível. Eles não sorriam pra ninguém as vezes cumprimentavam com um aceno discrerto de cabeça e continuavam conversando baixo. Enquanto isso, Sara, estava andando e falando com todos. Contando o quanto era maravilhoso ter Hugo de volta em casa, da saudade que ela estava do filho.

Sara não se encaixava, ela era engraçada, carinhosa. Era um raio de sol no meio da escuridão dos dois. E mesmo assim ninguém nunca ouviu ela reclamar deles. Eu as vezes achava que ela vivia em outro mundo.

Me lembro da primeira vez que falei com Leonardo eu fiquei encantada com a educação dele, parecia alguém da realeza falando. Leonardo é alto, não muito forte, tem o cabelo castanho claro muito bem arrumado, sempre impecável. Está sempre com roupas comuns e um belo sorriso no rosto. O humor dele contagiava o ambiente. Era uma pessoa extremamente agradável.

As pessoas da cidade preferem a família Ferrer sem pensar duas vezes. Mas isso nunca vai ser dito em voz alta. Eles são mais carinhosos, a senhora Olívia e o senhor Gabriel são extremamente carinhosos principalmente com as crianças. Eles cuidam da população sempre que podem.

Estão sempre visando os comércios para saber como todos estão. Mesmo tendo muito dinheiro fazem questão de ajudar com comerciantes, sempre que fazem uma festa em casa fazem questão de comprar quase todos os produtos com o pessoal da cidade. Só compram fora o que realmente não têm. E quando recebem visita fazem questão de levar na cidade e como eles mesmo dizem “ obrigam todos a gastar dinheiro na cidade.”

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