Capítulo 1 - Ao pé da serra

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Há um tempo considerável, quando a pequena Vila de São Caetano surgiu entre os vales da região conhecida como serra da mantiqueira. Tudo naquela localidade parecia transbordar modernidade, afinal eram outros tempos e haviam acabado de conseguir emancipação politica, a construção da câmara estava quase concluída e o fórum seria o próximo passo.

A cidadela era como muitas outras naquele estado, a igreja matriz dedicada a São Caetano era onde toda a sociedade convivia, também era o grande centro, a praça ao redor servia como ponto de encontro e local de passeio. Os comércios foram se instalando ao redor e também alguns moradores, ruas e avenidas foram abertas e assim a cidadela foi tomando forma.

Devido ao local onde foi construída possui muitos morros e ladeiras, mas a maioria de seus moradores viviam na zona rual repleta de fazendas de café, chácaras e igrejinhas, e ao lado quase sempre uma venda ou armazém de secos e molhados.

Atrás da igreja se localiza a avenida principal, ela liga a praça ao recém criada casa de saúde e ao convento, e subindo uma das ladeiras da avenida está o cemitério e o clube onde os bailes da cidade acontecem e descendo a ladeira ao lado da avenida, chegamos a praça do mercado, onde pode se encontrar tudo que precisa. A praça do mercado esta sempre movimentada, as pessoas chegam de todas as partes da região para vender, comprar ou trocar mercadorias.

Em frente ao mercado no casarão amarelo sempre esta Celeste a pobre coitada solteirona, em sua idade não ter um marido era motivo de vergonha, ainda mais para ela as más linguás diziam que nem mesmo o dinheiro de seu pai a salvou, ela é a única das cinco irmas que não se casou. A moça bisneta do comendador João Carneiro Santiago, amigo íntimo do imperador e nem mesmo, os laços de sua família com a política foram capazes de assegurar um casamento, era bonita, culta e recatada, e muito tímida, nem mesmo tinha coragem de olhar para cavalheiros, não tinha amigas e mau saia de casa. Passava os dias observando por detrás das cortinas o movimento.

Naquela manhã fria de abril, em frente ao casarão parou uma carroça carregada de arroz, leite e milho, um homem alto desce e tira o chapéu e vai em direção ao portão do casarão, para aquele homem olhar aquela fachada era intimidador, tudo com um ar de grandiosidade exacerbada, no entanto, o senhor baixinho, barrigudo e de cabelos brancos que lhe abria aqueles portões, era amigável, o mais simpático dentre todos daquela família.

Ao começar a descarregar, um empregado veio ajudar, foram colocando todos os itens na despensa, e enquanto passava pela cozinha cumprimentou a senhorita que estava em um canto, era muito branca, usava em vestido bonito e os cabelos claros presos, então seguiu em direção à saída, recebeu seu pagamento, subiu na carroça e foi embora.

Celeste foi até seu pai curiosa.

- Papai quem é aquele homem?

O pai olhou espantado para a filha, Joaquim se preocupa muito, sabia dos rumores maldosos daquela gente, tinha medo que ela se desesperasse e também sendo franco consigo mesmo ele sabia que não se esforçara para casa la como havia feito com Ana, Maria, Isabel e Luzia, pois queria ter quem o cuidasse na velhice, sua esposa o deixou há muitos anos.

- É um estancieiro la da boa vista, veio do Paraná há um ano e comprou um pedaço das terras que eram da fazenda boa esperança. Depois que perdeu os escravos, Edílio Azeredo teve que vender parte das terras, é uma tristeza!

- Sim, mas para produzir quer dizer que as terras estão em boas mãos agora, não acha?

- João Homem sabe lidar com a terra, talvez possa prosperar. - Disse dando de ombros deixando Celeste sozinha.

Atravessando pela estrada principal da cidade, seguindo por uma estrada adjacente até chegar ao bairro Boa vista, no fundo, de uma grota foi construída uma casa grande pintada com cal branco, janelas azuis e um ipê-amarelo ao lado da porta da cozinha, a alguns metros dali um açude com dois tanques para lavar roupa.

João Homem se alegrava em ver a mulher que estava a sua espera na soleira da porta, tinha um filho agarrado na saia, um nos braços e outro na bariga, ali estava sua família. Entrou em casa, a mulher lhe serviu o café, pensou que logo precisaria arrumar alguém para ajudar na casa, sua mulher não demoraria a parir. Na primeira gravidez pagou duas moças da região para ajudar, na segunda apenas uma foi o suficiente, já era a terceira, talvez nem fosse preciso uma despesa como essa, ela já deveria estar mais que acostumada, talvez não precisasse nem da parteira.

Mulher juntava suas vasilhas que escoriam para fora da janela e olhava a paisagem daquela terra, a cerca que rodeava a propriedade, parecia brilhar ao sol, havia tanto tempo que não saia daquela cerca, mas logo afastou aquele pensamento, não tinha tempo para isso, precisava fazer o jantar.

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