III. Recurso extraordinário

2K 140 268
                                    

A história sempre se mostrou ingrata com as mulheres que são atraídas pelo excesso. Um pouco mais, elas dizem. É preciso saber o momento de parar, os sábios alertam. Contentamento é um delírio coletivo. A satisfação se encontra na oportunidade de praticar o exagero. Na isenção que só um corpo é capaz de oferecer a outro. Incitar a conduta hedonista de alguém que possui critérios tão controversos é um risco, mas algumas não resistem as consequências.

— Geme alto. — A ordem veio acompanhada de um meneio de cabeça.

Com um constrangimento sem igual, Thronicke arregalou os olhos como aquele fosse o maior insulto a que seria submetida, não era.

— Mas assim ele vai me ouvir.

— E saber que você já está sendo tratada como merece. — Disse ao atingir o ápice da sua soberba.

— Não sei se consigo gemer assim. — Conseguir, a ex-senadora conseguia muito bem, mas, dentro daquele contexto, sentia-se porquanto acanhada, apesar de já ter mostrado as suas garras. — Você nem ao mesmo está me tocando. — Fez um biquinho adorável.

— E não preciso. — Começou a abrir os botões de sua camisa social, apenas os primeiros e, aparentemente, não usava sutiã. O vislumbre da mera sugestão causou em Soraya um arrepio que foi da base da coluna até a nuca. — Você vai gemer pra mim porque eu estou mandando.

Verdade seja dita, Simone não estava exigindo nada muito complicado. Ainda. Era mais uma barreira mental a ser vencida.

Um gemido inibido, que mais pareceu um suspiro, escapou furtivo.

— Você consegue fazer melhor. — Atiçou com superioridade. — Não vai querer me decepcionar.

É impressionante como a tirana conseguia atingir os lugares certos do ego alheio, que mesmo fragilizado como estava, permanecia capaz de arroubos para defender a sua autonomia.

— Eu nunca decepciono, Simone Tebet.

Como se adivinhasse a deixa perfeita, a voz do sujeitinho voltou a poluir o ambiente:

— O que está acontecendo? — Indagou e se atreveu a girar a maçaneta.

Antes que pudesse, fatalmente, adentrar o recinto, um gemido significativo reverberou excessivamente. E depois mais um. Seguido por outro agudo e ébrio.

Na estática que se instalou após a apoteose, o indivíduo calou-se para sempre. Ou assim aparentava. A loira jurou ter ouvido passos a se afastar e agradeceu. Sem saber exatamente a quê ou quem devia a sua gratidão. Possivelmente a mulher a sua frente não era digna de recebê-la, mas não havia mais ninguém a quem quisesse tanto dar.

— Muito bem, minha querida, afinal de contas você é uma boa garota. — Observou a sul-mato-grossense se empertigar, com uma expressão triunfante. — E agora que eu sei como são os seus gemidos falsos, provavelmente os que o seu marido deve escutar, já posso adiantar que comigo você vai gemer de verdade, enquanto eu te fodo como uma rainha.

— Não. — Ergueu o indicador e Tebet esperou, semicerrando os mirantes nublados pelo desejo. — Você vai me foder como uma puta. Sem dó. E eu vou aguentar tudo que você quiser fazer comigo sem reclamar. Você pode me destruir, mas tem que me fazer gozar todo esse tesão acumulado.

— Implora. Eu quero te ouvir sedenta. Me convença com aquilo que tem de melhor, Soraya.

Tudo era pessoal demais. Cada gesto e palavra tinha um significado oculto, uma intenção camuflada em veludo azul.

Todavia, se precisasse escolher uma cor para definir aquele instante, certamente seria o vermelho. Desde as íris incandescentes até o cheiro que antecede o sexo. Toda cena emanava uma energia de fogo, assim como Marte rege Áries, Tebet dominava o apetite, a necessidade e a urgência de Thronicke. Afinal, ela sabia muito bem que quem tem fome, tem pressa.

Protocolo Liberal [Simone x Soraya]Onde histórias criam vida. Descubra agora