Capítulo Único

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A discípula de Shinobu era conhecida por suas indecisões. Ela não conseguia simplesmente tomar uma atitude sem depender de sua moeda de cara ou coroa. Entretanto, isso mudou quando Kamado Tanjiro entrou em sua vida repentinamente.

Ela despertou de sua afasia e começou a ter desejos além de viver uma vida decepando cabeças de demônios. Agora, havia algo mais do que puro ódio em seu coração. Kanao Tsuyuri era, além de uma caçadora, uma garota que estava aprendendo sobre seus sentimentos.

Quando Tanjiro chegou do Distrito do Entretenimento completamente destruído fisicamente, ela passou dias e dias, durante o coma em que ele estava, cuidando dele como podia. Silenciosamente, ela o visitava em sua cama e trocava as flores já murchas do vaso na mesa de canto.

Seus pensamentos confusos e negativos a faziam hesitar em se aproximar muito além da beira do leito, apenas observando Tanjiro respirar suavemente sob um sono profundo. Por vezes, ela tentou estender a mão para tocar a testa dele, mas conteve-se, com medo de perturbá-lo e acabar se entregando aos estranhos desejos que permeavam seu coração.

Em uma manhã, ao final de dois meses inteiros, Kanao levou um susto e derrubou o vaso de flores no chão, estilhaçando-o em pedaços.

Tanjiro estava acordado!

O corpo dela apenas reagiu quando o viu com os olhos semiabertos e um leve sorriso no rosto. Ela saltou para próximo dele e segurou sua mão.

"Ta-Tanjiro... Você acordou!", ela afirmou, puxando levemente o braço dele para perto de si.

"Kanao-san... Onde...? O que houve?"

Ele estava claramente desnorteado, mas, apesar disso, muitos outros vieram ao encontro do rapaz de cabelos avermelhados e olhos gentis. Cada um celebrando à sua maneira seu despertar e informando-o sobre todas as notícias que ele poderia querer saber. Kanao não saiu de seu lado, segurando sua mão discretamente sobre o leito, enquanto todos faziam a maior festa pela recuperação dele.

Dada certa altura da bagunça, Kanao se esforçou para pedir a todos por silêncio.

"Tanjiro precisa descansar!" Suavemente, ela ergueu a voz.

Obedecendo-a com surpresa, todos partiram em silêncio e fechando a porta, deixando para trás apenas os dois sozinhos no quarto.

"Obrigado", Tanjiro agradeceu. "Eu estou muito feliz em ver todos bem, mas também estou um pouco cansado para tanto barulho."

A garota sorriu, franzindo seus olhos cor de lilás e abaixando levemente a cabeça. Tanjiro a observou com uma expressão séria no rosto, sua boca formando um "O" como se quisesse dizer algo. Kanao esperou, curiosa, ainda com seus dedos entrelaçados nos dele. Repentinamente, ele sentou-se na cama e puxou-a para um abraço, afundando o rosto no ombro dela, aconchegando-se em meio aos seus cabelos.

"Eu achei que não sobreviveria", ele sussurrou. "E aqui está você, bem na minha frente."

Imobilizada pelo gesto inesperado, Kanao não sabia onde colocar as mãos ou o que fazer. Ela deveria retribuir o abraço? Deveria se afastar? Deveria segurar o rosto dele e dizer-lhe o quão feliz ela estava em vê-lo acordado? Ela estava realmente feliz? Que sentimento era aquele em seu peito?

Tanjiro então respirou fundo sob a orelha dela, causando um arrepio extenso no corpo da garota, fazendo com que todas as dúvidas dela desaparecessem momentaneamente. A respiração dele estava levemente acelerada e a dela também, se ela fosse admitir. Kanao se afastou e ele segurou em seus ombros, os olhos vermelhos e penetrantes de Tanjiro a observaram mais uma vez, como se ela fosse todo um universo para ele.

"Eu gosto de você, Kanao." Ele fungou, como se fosse chorar, mas, ao invés disso, abriu um leve sorriso. "Eu só queria dizer isso a você antes que algo mais aconteça."

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