· Minha querida Alana, eu estou bem.
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Freud uma vez disse: No luto, é o mundo que se torna pobre e vazio; na melancolia, é o próprio "eu". Mas, no meu caso, tanto a melancolia quanto o luto se tornaram parte intrínseca do meu eu.
A melancolia do meu ser, em sua mais crua podridão e pobreza, é tudo que tenho. Sem ela não sou nada, com ela não sou tudo. O que sou? Devo ser ou apenas ser? Devo ver ou apenas ver? Devo sentir ou apenas sentir? Sou apenas um acúmulo de vazios e incógnitas? Perguntas e mais perguntas, minha mente não para, quem me dera se elas não dissimulassem suas respostas.
Estou podre por dentro, como um fruto minado de vermes. Meu interior está vazio, adormecido como se fosse placebo. Apesar de tudo, estou bem. Me sinto bem. Aqui deitada no chão totalmente molhada de lágrimas e suor, mergulhada na depravação, estou no deleite de ser crua. Estou exposta e não posso fazer nada, pois não me restam forças, acho que estou morta ou, pelo menos, irei morrer.
Que estranho, em um piscar de olhos meu mundo desabou e mesmo assim eu estou bem.
O chão frio, marcado por lágrimas, serve como testemunha silenciosa da tempestade que me assola. Fecho os olhos, buscando refúgio na escuridão, mas os fantasmas persistem, dançando na periferia de meus pensamentos. O vazio que se instalou em meu íntimo parece uma ferida aberta, e a droga, como uma fina cortina, tenta em vão esconder a tristeza que me consome.
A sala torna-se um labirinto de emoções desconexas. A melancolia, antes uma companheira indesejada, agora parece ter se apropriado do meu ser. A cada respiração, posso sentir a dor e o vazio, mas, estranhamente, também uma inércia. Um paradoxo de sentimentos que deixa tudo atônito.
A consciência da realidade tenta romper a névoa artificial, mas a negação tende a envolver-me como um manto protetor. Quero acreditar que é um pesadelo, que ao acordar, encontrarei a vida pulsando em meu ventre, mas a cruel verdade insiste em se manifestar.
Levanta-me do chão, minhas pernas tremem como se fossem feitas de papel. O olhar fixo na parede, onde as sombras dançam de forma muda. Ao atravessar a porta entreaberta, o mundo lá dentro parece uma pintura distorcida. As cores, antes vibrantes, agora desbotam diante de meus olhos embaçados. caminho rumo ao berço, deixando-me levar pelos sopros da brisa vinda da janela entreaberta, como se pudesse, de alguma forma, escapar da tempestade interna.
— Minha doce e pequena Alana, Céus acho que vou morrer. Por favor me devolvam minha filha, ela era uma bebezinha não fez nada a ninguém, me devolvam minha bebezinha, minha doce Alana. — Clamei em prantos enquanto me segurava no berço. Nunca fui uma pessoa religiosa, mas nessa hora rezei para qualquer um que ouvisse para me devolver o que foi retirado à força de mim. Rezei aos Céus para que me levassem junto, rezei para morrer, rezei para não sentir e acima de tudo rezei por justiça.
Minha voz rouca e entrecortada pelas lágrimas ecoa no quarto vazio, misturando-se com os ecos da tempestade que ainda troveja dentro de mim. O berço, antes promessa de risos e balbucios, agora se torna o epicentro do meu desespero, a testemunha silenciosa da tragédia que se desenrolou em um piscar de olhos.
Ao segurar as grades frias do berço, minha mente se perde em um mar de pensamentos caóticos. O nome Alana ecoa como uma melodia triste, um eco de algo que deveria ter sido, mas que foi arrancado brutalmente da minha realidade. Um lamento desesperado preenche o quarto vazio, como se as paredes pudessem absorver a dor que se desdobra diante dos meus olhos. As palavras da minha prece desesperada se misturam com o som da brisa lá fora, formando uma sinfonia de tristeza e desespero. O nó na garganta parece apertar ainda mais, como se a dor física pudesse de alguma forma aliviar a tormenta emocional que me envolve.
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Minha querida Alana, sinto sua falta.
RomanceAbigail, uma jovem estudante de direito que carrega cicatrizes profundas de uma infância marcada pelo abandono e abuso. Sua vida é um retrato dolorosamente realista de como o passado pode moldar o presente de maneiras complexas e muitas vezes devast...