Anna Halminton Harris, por que você tinha que fazer isso? A policia ronda sua casa e as mãos tão graciosas que um dia deram vida a extraordinárias melodias agora foram usadas como um instrumento tão mortal, o que há, senhorita Harris? O que não sabemos sobre você?
Anna Halminton Harris aguarda julgamento no quarto do hospital psiquiátrico. O quarto da Sra. Halminton Harris nunca fora tão silenciosa e fria antes, nem mesmo o verão pôde derreter a montanha de gelo que Anna guarda até hoje em sua mente e olhos, um dia ela já foi calorosa, uma mãe e esposa amada e aclamada nos palcos, hoje seu piano está mudo e sua alma sombria. A mulher mexe sozinha peças de xadrez no tabuleiro, jogando com a própria mente apenas para afastar maus pensamentos. Os ouvidos atentos a cada ruído ao redor, como um predador esperando pela presa.
- Anna... - Uma voz masculina suave ecoa pelas paredes da casa.
Anna levanta os olhos num salto, dando de cara com gentis olhos verdes e um cabelo castanho-claro tão bagunçado quanto sua mente, diante de dela está Andrew Myers, detetive do FBI.
- N-N-Não pod-d-eri-a ter batido? - gagueja a mulher, bagunçando as peças de xadrez para disfarçar a loucura como um animal sem resistir aos instintos.
- Anna você é vigiada pelo FBI, a vigia me deixou entrar, tenho permissão para estar aqui.
Anna continua a bagunçar o tabuleiro de xadrez, voltando ao que antes fazia; os olhos arregalados e fixos e as mãos trêmulas arranhando a madeira do tabuleiro. O detetive olha para a cena como se fosse rotineira, observa a insanidade da mulher à flor da pele, quase saindo pelos poros de sua pele oleosa. O homem caminha até a mesa de centro e se abaixa para iniciar um diálogo.
- Anna, não precisa fazer isso...
- M-Me D-Deixe em paz... Me diga, meu f-filho... ele ainda está vivo? ainda respira?
Andrew agarra os pulsos de Anna tentando fazê-la largar as peças de plástico; e ele tenta sorrir, um sorriso que mostra mais pena do que real piedade. O sorriso torto do alto homem não provoca reação alguma na senhorita Harris, apenas um olhar frio e cabisbaixo, vazio, voltado à mesa de centro da sala.
- N-No-Lan... Nolan, C-Como E-Está? - Repete a pergunta, agora mais calma.
- Ele continua em casa com o pai, as notas vão bem.
- P-Patrick...
- seu ex-marido continua como sempre, querida, mas não foi para falar deles que vim aqui.
O corpo dela treme, os dedos rígidos e cheios de calos batem inquietos na mesa. A mulher não pisca; olha para o caos na mesa bagunçada freneticamente e escuta as palavras pesadas ditas por Andrew:
- Vamos falar do dia 19 de Outubro, aquela noite em 2008...
20/09/2008
- Mamãe!!! - Um garotinho animado com os brilhantes olhos caramelo grita pelo hall de entrada, joga amochila no chão e corre até a mãe em passos apressados e pequenos pulos.
- O que foi, meu amor? - Anna solta a partitura que revisava no sofá, desliga a televisão para dar atenção ao pequeno e afaga a bochecha de Nolan vendo o sorriso resplandecente de seu filho se alargar.
- Toca pra mim? Por favor! Eu fico quietinho como a senhora pede!
Ela sorri abertamente ao ver o pequenino feliz, se abaixa a altura da criança e segura os ombros do filho com ternura.
- Nolan, meu filho, a mamãe está ensaiando, e você tem que fazer a lição de casa.
O brilho enérgico e vivo nos olhos do garotinho se vai pelos ares. Estica as mãozinhas até o rosto da mãe e amaça as suas bochechas na tentativa de trazê-la para perto, querendo ter certeza de que ela o escuta.
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Corra, Anna Halminton Harris
Misterio / SuspensoAnna Halminton Harris, esse é o nome que grita a plateia quando entra no palco do Carnegie Hall a pianista mais famosa da cidade. Suas mãos são conhecidas como "penas de ouro", as notas na partitura ganhando vida enquanto ela toca sentindo a melodia...