04 de dezembro

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Nada durante aquele dia havia sido diferente dos outros, até certo momento ao menos, então não havia nenhum prelúdio do que viria pelo decorrer do dia, a única coisa que diferia aquele dia dos outros era o ar gelado que predominava a cidade que normalmente é quente, o sol que brilhava baixo, mas tudo apontava ser apenas a chegada do inverno se aproximando aos poucos então de nada nós poderíamos suspeitar, não havíamos consciência dos monstros que rondavam a noite.

Deitada com a cabeça no balcão da taverna esperando mais álcool para preencher o vazio da sobriedade que ameaçava retornar a minha mente enquanto meu acompanhante balbuciava sua raiva com nossos chefes por meu afastamento do emprego. Embora eu tenha permanecido em silencio desde o momento em que saímos da empresa, meu companheiro começava a se irritar também com minha mudez, exigindo com que eu falasse algo. Naquele momento a única reação que consegui ter foi sair do local a qual me encontrava pois não estava com cabeça para conversas naquele momento, utilizando o resto de clareza que me restava, fui dirigindo lentamente a minha casa me preparando para explicar o motivo da bebedeira a minhas filhas, enquanto dirigia notava o quão cedo o dia havia escurecido e o ar gelado que dominava a noite junto com uma espessa neblina que preenchia as ruas.

Ao chegar em casa, no primeiro momento suspirei aliviada por não encontrar as meninas, porém a sobriedade voltando trouxe consigo a preocupação. A mais nova, Lucy, ainda estava em idade escolar e passava a manhã na escola e as tardes sozinhas visto que sua irmã mais velha, Adrianne, trabalhava em uma estranha mansão como governanta apesar de não haver outros empregados além da mesma.

Havia alertado Adri em diversos momento o quão absurda era toda essa situação em seu trabalho dado que a antiga casa era enorme de mais para apenas uma pessoa cuidá-la, mas insistia em dizer que o dinheiro que recebia valia a pena, além de ter acesso a morar na grande casa com sua patroa, com direito a visitas a família nos finais de semana. Porém, desde que foi morar na mansão de Elizabeth, pode ser notada uma mudança gradativa em seu comportamento, uma certa frieza que antes não havia dentro de si foi desabrochando aos poucos e tudo isso devido à forte influência da personalidade imponente de sua patroa, mesmo que nunca tenha me encontrado diretamente com ela a forma como a garota falava da mesma era como se descrevesse uma figura fria, magnifica e sensual, muitas vezes questionei mentalmente se não estaria minha filha apaixonada pela mesma e muito havia rezado para que minha garotinha conseguisse se afastar das influencias dessa terrível mulher.

Durante o tempo em que esperava minhas filhas chegarem o pânico se instalava lentamente em minha alma. Sempre que chegava em casa nas Sextas-feiras encontrava Adrianne e Lucy brincando de bonecas junta prontas para passar o fim de semana juntas. Até que finalmente a porta é aberta e encontro Lucy sorrindo sozinha.

Pergunto a ela por onde andava e onde estava sua irmã, lembro de sua doce voz detalhadamente enquanto me respondia.

"Mamãe, por que está tão tensa? Estava com Adri em sua casa, conheci Elizabeth. Ah, mamãe! Ela era magnifica, parecia uma rainha! Brincamos de bonecas juntas, e ela me contou muitas coisas, mas prometi guardar segredo." Disse em tom alegre e infantil. Tentar interrogá-la foi uma tentativa inútil, estava completamente encantada pelo que havia visto. A cada doce risada que soltava era um arrepio que me atravessava ainda que não entendesse o motivo. A única coisa que consegui tirar da garotinha foi aonde estava sua irmã. "Ela mandou avisar que agora vai ficar os fins de semana com Eliza a partir de agora e que terá que ir visitá-la"

Completamente preocupada com minha filha acabei por ir para o quarto rezar para a garota como fazia desde que conhecerá essa maldita moça que a tirou de meus braços e a afastou do caminho de Deus. Como eu poderia pisar agora na igreja sabendo que minha própria filha estava cometendo os piores pecados que o homem poderia cometer? Jurei aos pés do senhor não permitir com que Lucy se aproximasse novamente de sua irmã, mesmo que tomar essa decisão doesse mais em mim, era necessário para manter a ordem na família, e quem sabe assim, Adri retornasse ao caminho de Deus.

Me acordei a noite com gritos que vinham de todos os lados. Ao olhar pela janela não pude crer na minha visão. O que conhecíamos como mundo estava em chamas, tudo que o que era calmo agora era somente caos e destruição. Não existem palavras pra descrever as feras que andavam pelas ruas. Com suas enormes asas e pelugem escuras, os monstros voavam e atacavam todos que andavam lá fora. Quebravam janelas com suas patas longas e afiadas enquanto em cima das casas estavam dezenas de pessoas estranhamente calmas olhando as ruas ensanguentadas, nesse exato momento uma dessas Coisas, não eram pessoas, me olhou e nosso olhares se cruzaram, soube nesse momento que eram tão monstruosos quanto as feras bestiais que andavam pela cidade, possivelmente eram até piores.

Imediatamente um grito escapou de meus lábios e fechei a janela instantaneamente.

"Lucy, Lucy! Filha!" indo ao encontro do quarto da pequena garota a encontro brincando de bonecas cantarolando como se não estivesse ouvindo o imenso mar de gritos. "Vamos sair daqui rápido, não dará tempo de pegar nada."

"Mamãe, está com medo? Estamos protegidas, não tem motivos para se preocupar."

"Filha, não está entendendo, não estamos seguras em casa, precisamos sair agora." Instantaneamente o som de janela sendo quebrada pode ser escutada vindo do primeiro andar. Peguei Lucy pelo braço e a arrastei para de baixo de sua cama e ali entramos enquanto deixava minha mão em sua boca para ela não gritar. Não demorou até ouvirmos pesados passos e patas escuras e com dedos alongados serem vistas.

Rezei para Deus, pois apesar dos meus pecados, Deus é aquele que sempre nos perdoa, independente do que façamos. Rezei pela salvação de Lucy e pela minha, me desculpei por todos os momentos em que errei com minha filha mais nova apesar de saber que fiz meu melhor como mãe. Sabia em meu íntimo que o Grande Salvador ajudaria as almas que merecessem ser salvas.

As longas patas da fera puderam ser vistas a pequenos centímetros de distância e então fechei meus olhos esperando pela intervenção divina ou pelo inevitável, que seja feita a vontade de Deus.

Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome, vem a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade assim na terra como no céu.

pai nosso de cada dia nos daí hoje, perdoai-nos as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido, não nos deixei cair em tentação, mas livrai-nos do mal. 

Querida Elizabeth,Onde histórias criam vida. Descubra agora