27 de março
Mais um dia de busca por emprego, nada realmente estável, nesse ponto da busca estou aceitando qualquer coisa fora da área da educação, o importante é conseguir algo para trabalhar.
Algo peculiar aconteceu durante o decorrer do dia, narrarei os fatos detalhadamente. Enquanto caminhava pela cidade ao cair da noite me deparei com uma pequena floricultura que me chamou bastante a atenção, ao entrar encontro uma doce senhora idosa por volta de seus cinquenta ou sessenta anos, e através de uma rápida conversa foi me revelado que era ela quem geria o pequeno negócio que vinha de gerações de sua família. Para ajudar de alguma forma a senhora que havia sido tão gentil comigo em nossa breve conversa acabei comprando alguma de suas rosas para levar ao cemitério que havia a apenas poucos passos de distância. Fui caminhando a passos lentos pois não havia pressa para chegar no local, mas me sentia na obrigação de dedicar aquelas flores á aquela pessoa que ali se encontrava. Logo falarei melhor desta pessoa.
Quando me encontrei no local fiquei admirando sua ambientação sombria, sempre me senti estranhamente confortável nesse tipo de ambiente desde pequena, admirando as lapides e analisando suas datas e dados das pessoas que ali se encontram, que algum dia aqui viveram. Ao chegar na lapide que já sabia o caminho de cor não havia palavras que eu pudesse dizer nem lagrimas que pudesse derramar, tudo que havia pra ser dito já havia sido repetido milhares de vezes, não havia necessidade de repetições hoje. Com o passar dos anos a frieza foi substituindo a dor em meu coração, todos falam sobre como o luto dói, mas ninguém fala sobre como a indiferença é muito pior, e junto com ela a culpa que vem junto.
A anos que não sinto sua falta, que não choro mais por você, que a dor a muito foi perdida e a única coisa que resta nos dias atuais é a culpa de não lembrar mais sua voz e nem querer lembrá-la. Por muito tempo não quis superar sua existência e as feridas que causamos uma à outra, mas a vida segue, por mais que queiramos que ela pare naquele exato momento, que tudo se acabe de uma vez só. E eu sinto muito por isso, por ter seguido em frente, por estar vivendo minha vida por mais que não queira a muito tempo.
Joguei as rosas em seu tumulo mesmo sabendo que embaixo daquela terra não havia mais corpo algum, apenas ossos já velhos e podres. Ela já não estava mais ali e em lugar algum. Lentamente fui ao banco apesar de já ter alguém ali lendo e ali sentei-me. De canto de olho admirava a mulher sentada ao meu lado enquanto segurava seu livro. Seus cabelos eram longos, iam até a cintura, de cor castanha e ondulados. Seus olhos eram igualmente escuros, quase pretos, e harmonizava completamente com os outros elementos de seu rosto. Ela era completamente hipnotizante.
"Gosto de vir aqui para ler, gosto do silencio que aqui reside. Não entendo quem tem medo dos mortos, de nada incomodam ao contrário dos vivos, que além de monstruosos, também conseguem serem barulhentos." Nesse mesmo instante o calor subiu para minhas bochechas e as mesmas tomaram a cor vermelha para si. Devo ter encarado a moça por muito tempo e gerado desconforto. Oh Deus, pensaria ela que sou uma maluca?
"Peço perdão senhorita, me perdi em pensamentos e acabei encarando-lhe sem raciocinar exatamente para onde estava olhando." A jovem somente soltou uma leve risadinha e fechou seu livro e virou-se para mim se apresentando. S
Seu nome era Elizabeth, morava a pouca distância do cemitério, segundo ela, costumava vir ao cair do sol admirar a visão, mas hoje viera um pouco mais cedo pois estava cansada de estar trancada em sua casa.
Existia uma atmosfera única ao seu redor, completamente cativante e hipnotizante e antes que percebesse engajada em nossa conversa acabei não percebendo que a escuridão tomava conta do céu.
"ouve isso, minha querida? Os uivos dos filhos da noite" e com sua fala sai do estado hipnótico do qual me encontrava e notara os latidos dos cães que se encontravam-se espalhados pelas ruas já vazias.
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Querida Elizabeth,
HorrorAos olhos de Deus todos são seus filhos, até mesmo os monstros da noite.