Entre Dois Séculos

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O sol nascia em Lisboa, o nível da poluição da cidade começava a aumentar, carros começavam a circular e as pessoas a trabalhar, algumas no metro, outras numa fábrica ou numa loja, mas para Pedro esses trabalhos não passavam de pequenas brincadeiras. Pedro era um jovem rapaz de 21 anos de idade, vivia num pequeno apartamento localizado num dos bairros mais movimentados de Lisboa e com ele vivia um cão, um velho pastor alemão que o acompanhava já á mais de 6 anos. O jovem podia querer dizer que gostava do seu trabalho, porque no fundo gostava, mas não podia sequer mencionar a sua profissão. Pedro trabalhava num laboratório do governo nos arredores da cidade junto com o seu pai, um senhor com 54 anos que vivia junto com a sua mulher numa casa nos subúrbios da cidade. O trabalho de Pedro era secreto e completamente confidencial por isso o rapaz não poderia mencionar a sua profissão a ninguém menos á sua família. Mas então o que Pedro fazia ? Para a loucura de muitos, Pedro era um viajante do tempo. A tecnologia do governo tem sido aprimorada e estudada cada vez mais ao longo dos anos, e a mais importante e impressionante criação foi a máquina de viagem no tempo. Pedro é a pessoa encarregue de executar missões para o laboratório, desde coletar documentos antigos a livros secretos nunca antes vistos, queimados no passado.
Era dia 4 de junho de 2027 e Pedro saía agora de casa em direção ao seu trabalho. Desceu o seu prédio, dirigiu-se ao café ao lado de sua casa e pediu o mesmo antes de partir, um pão com manteiga de amendoim e geleia. A D.Teresa, a proprietária do café, já sabia o que Pedro desejava todas as manhãs, então o seu pequeno almoço já se encontrava pronto quando lá entrou. Agarrou no seu pão embrulhado num papel vegetal, pagou o seu pequeno almoço dando uma pequena gorjeta a Teresa, que todos os dias lhe agradecia, e saiu. Andou uns poucos metros até ao parque de estacionamento público onde deixava o seu carro estacionado todos os dias, um potente carro desportivo. Toda a gente se perguntava como é que ele tinha dinheiro para comprar um carro daqueles, mas Pedro dizia que trabalhava num hospital, então ninguém suspeitava. Entrou no carro e arrancou diretamente em direção aos subúrbios da cidade. Comia o seu pão enquanto aguardava nas grandes filas de carros até que se conseguisse livrar daquele problema e fugir dali. A viagem dura cerca de 20 minutos, tempo suficiente para ouvir as notícias, e das boas, pois aparentemente o tempo estaria ensolarado toda a semana.
Finalmente chega ao laboratório, um edifício com um formato retangular e por vezes até assustador. O edifício era contornado por janelas opacas, onde tudo era visto do interior mas nada do exterior. Estacionou o carro e reparou que o seu pai já tinha chegado, afinal de contas ele estava atrasado. Entrou no edifício e cumprimentou a recepcionista, uma recém-chegada jovem vinda das melhores universidades do país.
-Bom dia Mariana, como está hoje ?
-Bom dia, muito bem obrigada doutor Almeida.
-Vá lá, não me chame de doutor, pode chamar-me Pedro.
-Certo, está bem dout... Pedro.
-Certo, então o que é que temos hoje para fazer ?
-Bem, o chefe quer vê-lo no seu gabinete para discutir o plano para hoje, o seu pai já se encontra lá.
-Então está bem, eu vou subir e ..., bem até logo !
-Bom trabalho doutor.
Pedro já de costas voltadas torna a virar-se para Mariana enquanto caminhava para trás.
-Já te disse ! Pedro !
Subiu de elevador até ao terceiro e último andar do edifício onde se localizava o escritório do chefe, Miguel Reis. Abriu a grande porta de vidro e na sala de reuniões podia observar o chefe e o seu pai, entrou e sentou-se numa cadeira de couro negro.
-Bom dia a todos !
-Bom dia Pedro. Então ? Motivado para o dia de hoje ?
-Não estou sempre ?
-Sim, disso não tenho razão de queixa...
-Então e o que é ?
-Bem, a tua missão hoje vai ser no século XIV.
-Raios me partam ! Porque é que temos andado sempre nesses séculos nos últimas semanas ? Não podemos ir antes para os anos 80 ?
-Tu sabes que o presidente quer que investiguemos o caso da bisavó do general Alves, temos de tratar desse assunto o mais rápido possível.
-Certo, os anos 80 ficam para outro dia. Então, o que é que temos até agora ?
Miguel levanta-se da sua grande e imponente cadeira e debruça-se sobre a mesa de vidro repleta de papéis aleatoriamente misturados, seguido de Pedro e seu pai. Miguel pega num papel velho, outrora branco mas que com os anos que passaram estava amarelado e até um pouco rasgado. Olha para Pedro e lê em voz alta o conteúdo do documento.
-Ouve só isto : "Querido diário, hoje, dia 17 de março de 1512 aconteceu algo estranho com o meu pai, ele não fala, não reage ao que eu digo ou faço, parece que tem problemas mais importantes na cabeça. Talvez isto lhe passe rapidamente." Dia 24 de março de 1512, "Querido diário, hoje finalmente descobri o porquê do meu pai andar tão agitado ultimamente, uma guerra aproxima-se, as tropas saem agora de Lisboa em busca dos povos invasores que invadem o sul do nosso país. Vai ficar tudo bem, o meu pai tem tudo sobre controlo, eu sei que sim." Agora se lermos no dia 18 de abril de 1512 descobrimos que é aqui que a princesa morre, no castelo junto com o rei, o seu pai, ouve isto : "Querido diário, talvez possa ser a última vez que escrevo aqui, infelizmente as tropas invasoras conseguiram conquistar territórios a sul, subiram cada vez mais e cercaram Lisboa. Estão agora mesmo a atacar o castelo, consigo ver as flechas na direção dos portões e os homens a batalhar lá em baixo. Cedo entrarão aqui e nos assassinarão a sangue frio, não temos opção senão ficar e lutar pela nossa independência, mesmo que isso nos custe a vida."
Um silêncio ensurdecedor invade a sala, Pedro, espantado pela história que acabara de ouvir tenta processar tudo aquilo que lhe foi acabado de contar.
-Ok então, esta princesa, qual era o seu nome ?
-Priscila.
-Sim, é isso, Priscila. Ela era a princesa e o pai era o rei D.Francisco, ambos mortos na guerra que se deu em Lisboa com os espanhóis que invadiram Portugal pelo sul por volta daquela época. Sim, as datas descritas estão corretas, a princesa e o pai morreram no dia 6 de junho no castelo de Lisboa.
-Tu sabes bem a história.
-Dou uns toques.
-Muito bem, sendo assim agradeço-te, vou já informar o presidente destas novas informações. Enquanto isso, podes ir com o teu pai para a máquina, e já sabes, viaja para o dia 4 de junho de 1512. Vai até ao castelo e traz-me o máximo de informações sobre a princesa e o rei.
-Como queiras.
-Por isso é que eu gosto de ti Pedro, vá lá, tenho de ir andando, boa sorte para hoje.
Miguel arruma o documento que ainda estava nas suas mãos numa pasta onde mantinha todos os documentos para a operação. Pegou na pasta, acenou com a cabeça para Pedro e seu pai e abandonou os escritórios da empresa deixando-os a sós por um momento.
-Como estás Pedro ?
-Maravilhoso pai, tu ?
-Tudo bem.
-A mãe como está ?
-Está a melhorar, já consegue andar bem e tudo.
-Ainda bem, se vocês precisarem de alguma coisa que eu possa ajudar...
-Nós chamamos-te, obrigado filho mas não te preocupes connosco, está tudo bem.
-Caso precisem, estou sempre aqui.
-Nós sabemos, obrigado.
Os dois levantam-se da mesa e saem do escritório do chefe, dirigindo-se para o elevador que ficava mesmo ao lado. Entraram nele e carregaram no último botão de todos que os levava para o andar subterrâneo do edifício, localizado a mais de 2 quilômetros abaixo de terra. Lá em baixo, as paredes eram brancas, gravadas com o emblema da empresa. Como estava tão longe do solo, todas as salas eram invadidas por um frio congelante vindo das ventilações que conectavam com o piso térreo. Mal as portas do elevador se abriram, Pedro e seu pai foram logo bem recebidos pelos seguranças, dois senhores já de alguma idade que não saiam da recepção nem por nada.
-Bom dia !
-Bom dia ! disseram os dois ao mesmo tempo
Passaram pela recepção, deram uma ligeira curva à esquerda, onde um enorme corredor os esperava. Enquanto se dirigiam para a sala, Pedro e seu pai conversavam sobre a missão.
-Então pai, o que se segue para hoje ?
-Tu ouviste o Miguel, reis e princesas. Bem, o presidente quer informações sobre o que se passou naquele castelo, supostamente sobre uma herança, milhões de euros em ouro e jóias, um tesouro da família do rei naquela época. Até este momento ninguém conseguiu encontrar esse tesouro, por isso ele quer a nossa ajuda.
-Porque não enviar pessoas para investigar o local ? Porque é que a viagem no tempo tem de ser uma opção ?
-Porque não se pode simplesmente destruir um castelo com séculos de idade só para encontrar essa herança do rei.
-Eles são o governo, podem fazê-lo se quiserem.
-Há maneiras mais inteligentes de o fazer, tais como nos contratar a nós.
-Certo, e qual é o plano ? Como é que vou descobrir onde está esse ouro ?
-Bem, tens de ganhar a confiança dos nobres que habitam no castelo e fazê-los dizer-te o que sabem sobre o tesouro do rei, se fosse a ti focava as minhas atenções na princesa Priscila, ela pode ajudar-nos. A princesa tinha um professor privado, um nobre que dava aulas e que lhe ensinava português, inglês e matemática, vamos viajar para o dia em que Priscila ainda não tinha conhecido o seu professor, e é aí que tu entras. Faz-te passar pelo professor e entra no castelo, uma vez lá dentro será fácil, os guardas irão guiar-te até ao quarto da princesa onde poderás dar as tuas "aulas". Ganha a confiança da princesa e faz-la dizer onde está o tesouro, se há pessoa que sabe algo sobre esse assunto é ela.
-Certo, entendido pai.
Os dois entram na última porta do grande corredor onde podia ser encontrado a máquina do tempo já muito conhecida por Pedro. A máquina era redonda e cinzenta, tendo uma pequena porta de vidro para entrar. Na sala estava Maria, a ajudante de Pedro em todas as suas missões.
-Bom dia Maria.
-Bom dia pessoal. Então, prontos para a missão de hoje ?
-Sempre pronto.
Maria tira uma caixa com vários adereços de um armário localizado no fundo da sala, de lá retira roupas bastante antigas e entrega-as a Pedro.
-Aqui está Pedro, a tua vestimenta para hoje.
-Meu Deus, era isto que vestiam antigamente ?
-Era assim que os professores se vestiam antigamente, veste isso enquanto preparo o sistema.
Pedro colocou a pomposa e elegante roupa acastanhada acompanhada com uns sapatos de couro cinzentos de muita fraca qualidade. Enquanto isso, Maria programava a data e a localização exata para onde a máquina do tempo levaria Pedro. O pai de Pedro, não querendo incomodar mais o trabalho dos dois, tocou no ombro do filho e despediu-se enquanto fechava a porta de ferro.
-Ok Pedro, estamos prontos.
Pedro, já vestido a rigor, abriu a porta da máquina e colocou-se lá dentro. Maria ainda sentada na sua cadeira veio até ele e entregou-lhe o chip que o traria de volta no fim da missão.
As viagens no tempo eram algo um tanto quanto complexas, o viajante tem de entrar na máquina, e, com o excedente de energia criada a partir de urânio no subsolo do edifício conectado à máquina já previamente programada com data e local dá-se uma grande libertação de energia que permite moldar o espaço e tempo, levando a pessoa que se encontra dentro da máquina a viajar por entre os séculos programados em computador. Para retornar à máquina, o viajante tem de ativar um chip, ou mais simplificado, uma fonte de energia portátil, que transporta a energia suficiente para moldar o espaço e tempo de novo para trazer a pessoa de volta à atualidade. Não era uma coisa fácil de se fazer, mas o Pedro já tinha anos de experiência. De dentro da máquina, Pedro observava Maria, pronta para a ativar.
-Estás pronto ?
-Já sabes a resposta.
-Sempre espertalhão. A iniciar viagem em 3,...2,...1,..., aqui vai, boa sorte Pedro.
A viagem infelizmente era curta, na visão de Pedro, mal o sistema acionava, ele sentia ligeiros arrepios nas costas e apenas via uma forte luz azul, depois, durante poucos segundos adormecia, e quando abria os olhos já estava noutro local, e séculos mais tarde. Neste caso, quando Pedro abriu os olhos estava num campo, um campo amarelado coberto por trigo pronto para ser colhido. Olhou à sua volta e conseguiu ver ao longe o castelo da alta realeza da cidade, era para lá que tinha de ir. Andou um pouco, e saindo dos campos de trigo chegou a uma pequena aldeia, onde encontrou um homem, corcunda e sujo que alimentava o seu cavalo.
-Bom dia meu caro !
O estranho homem olhou-o não com muito bons olhos.
-Gostaria de saber por quanto vende o seu cavalo.
-Não está à venda !
-Bem, talvez pela quantia certa, o que acha de 200 réis ?
-Deixa-me ver o dinheiro !
Pedro trazia sempre com ele uma sacola de couro com várias moedas antigas copiadas numa máquina de impressão 3D e muito realistas. Entregou as moedas ao homem, que espantado com a grande quantia franziu o sobrolho.
-O cavalo é teu.
-Obrigado senhor, foi um prazer fazer negócio.
Pedro estendeu a mão mas o homem apenas o ignorou, não dizendo nem mais uma palavra.
-Bem, esta gente é simpática.
Pedro agarrou nas rédeas e trouxe o cavalo branco para fora do pequeno estábulo onde se encontrava. Agarrou numa cenoura aleatoriamente colocada num cesto e deu ao cavalo, que a comeu rapidamente. Enquanto comia, Pedro acariciava o seu pelo macio e incrivelmente bem cuidado.
-Ao menos esta aldeia tem alguém simpático, ao menos tu rapaz.
Pedro trocou olhares com o cavalo e subiu para a cela, cutucando-o na barriga e fazendo-o galopar pela vila. A estrada era de terra, e era rodeada por pequenas casas de madeira de ambos os lados. A aldeia era localizada nos arredores de Lisboa, então os recursos eram os suficientes para ter um ferreiro, armeiro e até uma biblioteca. Ao passar pelas pessoas, Pedro observava a economia da época, mulheres a trocar uns réis por peças de roupa feitas à mão e à medida, vizinhas a trocar ingredientes para cozinhar e homens a comprar ferramentas ao ferreiro para poderem arranjar ou construir a sua casa. Pedro cutucou o cavalo, que à saída da aldeia acelerou os seus galopes em direção ao castelo.
A viagem foi de aproximadamente uma hora, e Pedro entrava finalmente em Lisboa. Ao passar pelas ruas ele até conhecia alguns lugares por onde passava de carro todos os dias para ir para o trabalho, apenas estava a cinco séculos de diferença. A cidade alojava milhares de pessoas já naquela época, a população mais pobre morava nos bairros de edifícios de madeira, tortos e mal construídos. Alguns até nem tinham casa e apenas perambulavam pelas estreitas ruas da cidade em busca de trocos, enquanto que os mais ricos habitavam em casas, algumas feitas até de pedra perto do castelo. E depois de todas essas diferenças sociais, também haviam os nobres, reis e princesas que habitavam no castelo, o edifício mais alto e seguro da cidade. O castelo era coberto por paredes em pedra bem trabalhada feita pelos melhores arquitetos e escultores da cidade. Pedro estava com sede, olhou ao seu redor e não tardou até encontrar uma pequena casa de madeira clara e com uma placa que dizia "taverna" pendurada na porta. A pequena casa tinha um formato que lembrava a letra U, tendo apenas uma cerca que dividia a habitação da estrada de terra remisturada com pedras e lama. Pedro avançou com o seu cavalo até o pequeno pátio na frente da taberna, saltou da cela, prendeu o cavalo com as rédeas numa tábua da cerca e dirigiu-se para a porta. Abriu a pesada porta de madeira e observou ao seu redor. Havia mesas espalhadas por toda a taberna, apesar de menos de metade estarem ocupadas, e clientes, maioritariamente homens que bebiam com os seus colegas, rindo e por vezes cantarolando. Pedro, não dizendo uma palavra aproximou-se do balcão, onde o aparente dono da taberna o observava enquanto limpava uma caneca. Pelo canto do olho ele conseguia entender que muitos dos clientes estavam atentos e de certa forma desconfiados pela presença de um estranho na taberna. O dono da taberna, um senhor barbudo e com pouco cabelo que aparentava ter por volta dos 50 anos desencostou-se do móvel onde estavam guardadas as garrafas de vinho e outras bebidas, pousou a caneca que estava a limpar por mais de um minuto, colocou o pano ainda um pouco húmido por cima do ombro e num rápido movimento apoiou as mãos em cima do balcão, mirando o estranho.
-O que vai ser ?
-Dê-me uma cerveja por favor.
-São 10 réis, paga agora.
Pedro retirou algumas moedas da sua bolsa e atirou-as para o balcão. O dono da taberna pegou nas moedas e colocou-as no bolso do seu gasto avental azulado, virou-se para trás e começou a colocar cerveja na caneca enquanto Pedro o observava. Quando a caneca estava cheia, o homem virou-se de novo para Pedro e colocou-a em cima do balcão com um grande estrondo, tão grande que quase fazia entornar o conteúdo dentro dela. Pedro pegou nela e começou a beber o seu conteúdo, enquanto observava uns clientes que jogavam cartas. O dono do bar, curioso sobre a personalidade daquele estranho homem decide começar uma conversa.
-Bela roupa que aí tens.
-Obrigado.
Um silêncio constrangedor entre os dois ecoou, até o homem atacar Pedro com uma pergunta.
-Roupa de trabalho ?
Pedro ficou pensativo antes de responder. Pedro não costumava responder a muitas perguntas relacionadas com a sua missão, ele preferia ser mais reservado, pois afinal de contas poderia descuidar-se em relação à sua identidade secreta de viajante.
-Sim, sim é roupa de trabalho.
-Mhm, interessante. Quem é que trabalha assim tão bem vestido ?
-Eu trabalho.
-Trabalhas a fazer o quê ?
-Para que queres saber ?
-Estou apenas curioso.
-Professor.
-Muito bem. És um homem de poucas palavras não és ?
-Depende dos dias.
Enquanto mantinha Pedro ocupado a responder a suas perguntas, observava a sua bolsa, conseguindo ver que estava cheia de moedas. Trocou olhares com os clientes que jogavam cartas, que entenderam o que ele queria dizer e levantaram-se de imediato, vindo na sua direção.
-Professor de quê ?
-Tem de ser de uma área específica ?
Enquanto acabava a frase, Pedro conseguia sentir a presença de mais alguém atrás dele, ele sabia o que se estava a passar, aqueles clientes não passavam de ladrões. Três homens agarraram Pedro e deitaram-no no chão, e antes mesmo que o conseguissem imobilizar, este deu um grande pulo por entre os três ladrões e conseguiu ganhar algum espaço. Os três olhavam para Pedro e para eles, até decidirem atacar. O primeiro aproximou-se cuidadosamente, dando passos previamente planeados até chegar a Pedro, que com um golpe o fez recuar e tropeçar numa cadeira. Já o segundo correu em direção a Pedro, que rapidamente subiu ao balcão da taberna e contornou o ladrão, tão rapidamente que este nem soube o que aconteceu. Agarrou na sua caneca de cerveja, bebeu o pequeno resto que sobrevivia no seu fundo e com toda a sua força desferiu um golpe com a pesada caneca na cabeça do ladrão. O terceiro, o chefe, ajudou os seus colegas a levantarem-se e retirou um pequeno canivete do seu bolso traseiro.
-Ataquem !
Ouvindo as ordens do seu chefe, os dois ladrões, seguidos logo depois do terceiro avançaram rapidamente em direção a Pedro, que por mais que se tentasse desviar, não conseguia evitar os fortes socos dos ladrões. O chefe aproximou-se de Pedro e agarrou-o pelo pescoço, levantando-o no ar.
-A bolsa ! Dá-ma ! Agora !
Pedro, com dificuldades em respirar levou a mão ao bolso em busca da sua bolsa de couro quando vindo do além, um golpe de adaga prateada rasgou a pele da barriga do ladrão, que com as dores largou Pedro. Uma mulher, de estatura média e de cabelos pretos cobertos com um capuz acinzentado ameaçou o ladrão enquanto protegia Pedro.
-Para trás ! Estás ferido, sai daqui ! Dou-te esta grande oportunidade de saíres daqui com vida.
O ladrão, que observou segundos depois que os seus colegas já haviam sido igualmente feridos, levantou-se do chão, cobrindo a sua barriga com a mão ensanguentada do corte da adaga da estranha corajosa. Os outros ladrões levantaram-se também e saíram a correr da taberna antes que o pior acontecesse. Pedro conseguia sentir que a estranha estava ofegante e muito nervosa. A estranha virou-se para Pedro e inclinou-se para o ajudar a levantar, dando-lhe a sua mão.
-Estás bem ?
-Sim, sim estou bem, obrigado.
-Não tem mal, estavas a precisar de ajuda e por sorte estava aqui para te conseguir ajudar, tiveste sorte.
-Mais uma vez, obrigado.
A estranha, cuja cara era pouco visível devido ao seu capuz, olhou pela janela, e vendo alguns guardas da cidade que apenas patrulhavam pelas ruas preparou-se para fugir.
-Tenho de ir, tem cuidado por aí, estas pessoas são difíceis de lidar.
-Certo, vou ter isso em mente, mais uma vez obrigado.
Pedro nem teve tempo de se apresentar propriamente pois a estranha já tinha abandonado a taberna pela porta das traseiras.
Pedro ajeitou a sua fatiota e recompôs-se. Voltou a aproximar-se do bar.
-Quem era aquela ?
-Não faço ideia, por vezes vejo-a a passar na rua, mas nunca tive a oportunidade de lhe ver a fuça.
-Muito bem. Você deveria me devolver o dinheiro da cerveja que os seus coleguinhas me impediram de beber, a sua sorte é que estou contente hoje.
Pedro bateu duas vezes no balcão e desapareceu porta fora. Eram por volta das 15:00 horas da tarde, estava na hora de Pedro se apresentar ao rei. Subiu no cavalo e galopou pela cidade em direção ao castelo deixando um rastro de pó atrás dele.

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