Capítulo 1

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Minha avó costumava dizer:

“Querida, o amor tem um jeito peculiar de nos fazer perder o juízo. Apenas reze para que essas loucuras sejam boas. E, mais importante, que te façam uma louca feliz.”

Essas palavras, ditas com um sorriso sereno e olhos que pareciam ver além do presente, eram algo que eu sempre associei a contos de fadas e romances açucarados. Aquelas histórias que nos fazem suspirar, mas que secretamente sabemos que não passam de fantasias. Nunca imaginei que um dia essa verdade se tornaria a minha realidade, que eu me veria tragada por um turbilhão de sentimentos tão intensos e contraditórios que me deixariam sem chão. Porque, afinal, o que sabemos sobre o amor até ele chegar e nos arrastar para seu redemoinho devastador?

Sonhamos com gestos grandiosos, com finais felizes, mas o amor real… Ah, o amor real muitas vezes se apresenta de formas inesperadas, tortuosas, quase impossíveis de entender. Ele não vem envolto em promessas de eternidade, mas em pedaços quebrados, disfarçados de momentos perfeitos.

E foi exatamente isso que aconteceu comigo.

Um dia, confiei minha alma a alguém. Amei com uma intensidade que parecia queimar tudo ao meu redor. Respeitei, cuidei, entreguei cada parte de mim sem hesitação. Ele se tornou o centro do meu universo, minha luz em um mundo que parecia sempre prestes a desmoronar. Mas o que começou como um mar de rosas, doce e acolhedor, rapidamente se transformou em um pântano sombrio e podre. E antes que eu percebesse, já estava afundando, agarrando-me a migalhas de afeto que nem as pombas de uma praça aceitariam.

O nome disso? Uma fodida dependência emocional.

Quando ele me deixou, levando consigo não só minha confiança, mas também minha fé no amor, me vi à deriva. O pânico se instalou em meu peito, uma sensação de sufocamento constante. As crenças que eu nutria sobre o amor, sobre a vida em paixão, foram dilaceradas em um piscar de olhos. Meu coração, antes inocente e repleto de esperança, foi despedaçado, os pedaços varridos como restos em uma calçada, esquecidos e deixados para apodrecer no canto mais escuro da minha alma.

Mas a vida continua, não é?

Pelo menos, tentamos continuar com ela.

Mesmo que os pedaços estejam todos no lugar errado.

— Preto ou vinho?

A pergunta saiu dos meus lábios com uma mistura de desespero e indecisão. A resposta que recebi foi um simples resmungo, quase imperceptível, vindo da direção da minha cama de solteiro.

— Não pode os dois? — Haru perguntou sem sequer levantar os olhos do feed do Instagram, os dedos rolando a tela com a familiaridade de quem já tinha perdido a conta das horas passadas ali.

Ele estava deitado de bruços, as bochechas pressionadas contra o meu travesseiro, como se o mundo ao seu redor não fosse mais importante do que o conteúdo que ele consumia no celular — provavelmente um aparelho que custava mais do que eu poderia pagar em um ano.

Revirei os olhos, mas não consegui evitar o sorriso que se formou em meus lábios. Haru era assim, sempre escorregando das decisões, sempre mantendo uma distância segura das complicações. Eu balancei os cabides no ar, tentando capturar sua atenção, esperando pela resposta sincera que ele sabia dar quando se concentrava. Mas, como de costume, ele permaneceu absorto em algum vídeo ou meme que, para ele, parecia infinitamente mais interessante do que os dilemas de cor que eu estava enfrentando.

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⏰ Última atualização: Aug 26 ⏰

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𝐃𝐀𝐍𝐆𝐄𝐑𝐎𝐔𝐒 𝐖𝐎𝐌𝐀𝐍, maki zen'inOnde histórias criam vida. Descubra agora