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RJ, Asfalto.

AGATHA

Sai da faculdade com o celular no ouvido, ligando para a minha irmã. No segundo toque ela atendeu.

Raquel: Oi, pretinha. O que foi? - O barulho do outro lado me mostrava que o restaurante tá agitado, já que hoje vai ter jogo de futebol.

Agatha: Tem como pedir um Uber para mim? Meu aplicativo da Uber tá dando erro.

Raquel: Pretinha, eu li uma reportagem agora que dizia que a Uber e o InDrive estão em greve até a próxima segunda-feira. Vai ter que vir de ônibus.

Merda!

Agatha: Tá. Valeu, mana. Até mais tarde.

Encerrei a ligação e comecei a caminhar até o ponto de ônibus, escondendo o meu celular na cintura.

[...]

RJ, Morro da Rocinha.

Entrei no restaurante da minha irmã e olhei ao redor, notando que tá lotado. Caminhei até o balcão e dei a volta, ficando do lado oposto dos clientes. Puxei uma das banquetas e sentei, deixando a mochila no chão e apoiando os cotovelos no balcão. Logo minha irmã saiu da cozinha e sorriu ao me ver.

Raquel - Como foi a prova? - Beijou minha testa.

Agatha - O resultado sai amanhã de tarde. Não preciso ir lá, vão enviar para o email.

Já estamos no final do mês de Novembro, pertinho das férias.

Raquel - Tenho certeza que vai dar tudo certo, pretinha. - Piscou para mim e foi atender algumas pessoas.

Tenho muito medo de não passar na prova, mesmo tendo passado na do ano passado. Já estou indo para o meu terceiro ano de faculdade.

Quando notei que Renata e Vivian não estavam dando conta em ajudar minha irmã, coloquei um avental e peguei um bloco de anotações e uma caneta, indo ajudar elas e a minha irmã. Não gosto de ficar muito perto dos mavambos, mas não vou deixar elas passarem tanto trabalho sendo que posso ajudar.

Quando notei que a única mesa que ainda não foi atendida é do Major, dono desse morro, senti meu estômago embrulhar com o nervosismo. Na mesa estava ele, o Coringa - braço direito dele -, e o Pato - namorado da minha melhor amiga.

Engoli a saliva com dificuldade e caminhei com calma até a mesa deles, sem encarar ninguém.

Agatha - Boa tarde, o que vão querer?

Pato - Oi pra tu também, Agatha. - Olhei para ele rapidamente, me segurando para não acertar um soco na sua cara.

Odeio esse cara.

Agatha - O que desejam? - Perguntei novamente, fazendo o Pato soltar uma risada pelo nariz.

Major - Pode trazer um balde de cerveja e duas porções grandes de batata frita. - Anotei.

Agatha - Mais alguma coisa?

Coringa - Eu quero o número da loirinha. - Olhei para ele, que tá apontando para a Vivian, que tem 18 anos.

Agatha - Vai ter que pedir pra ela. Já trago o pedido de vocês. - Falei e me afastei, indo entregar o pedido na cozinha.

Raquel - Não precisa ajudar, Agatha. - Colocou uma bandeja em cima do balcão e pegou dinheiro no caixa, entregando para uma moça e desejando uma boa tarde. - Tu deve tá cansada, por que não vai pra casa descansar?

Agatha - Tu sabe que eu não gosto de ficar sozinha em casa, Raquel. - Sentei na banqueta.

Raquel - Agatha... - ela suspirou fundo -, ninguém vai te machucar, pretinha. O dia tá lindo, abre as janelas e deita um pouco pra descansar. Não precisa dormir, só deita e assiste algum filme ou fica mexendo no celular. Ninguém vai entrar lá, todas as janelas estão com grades agora.

Agatha - Eu não quero. - Baixei a cabeça, segurando a vontade de chorar.

Eu não consigo...

Raquel - Tu precisa de um psicólogo, Agatha. - Falou e se afastou para voltar ao trabalho.

Respirei fundo e pisquei algumas vezes para espantar as lágrimas.

SEM REVISÃO!

MINHA! [M] - DREAMEOnde histórias criam vida. Descubra agora