Tormenta

𝙳𝚎𝚓𝚊 𝚟𝚞

Lauren reuniu coragem antes de se aproximar daquela cena que se desenrolava diante de seus olhos. As roupas dele estavam completamente sujas e desgastadas. O corpo jazia ao lado do carro cinza, enquanto Mike se movia abaixo dele, com uma expressão concentrada enquanto girava uma peça com um alicate em suas mãos engorduradas. 

A morena caminhava, nervosa, mexendo em seus próprios dedos, determinada, mas tomada pela aflição sobre o que estava prestes a fazer; ainda assim, era essencial, pois havia uma grande motivação por trás disso... Olhos castanhos, cabelos longos, cintura esguia e quadris curvilíneos que se mesclavam perfeitamente às suas melhores características. Ela podia imaginar como seria abraçá-la com ternura, um gesto que certamente traria uma das mais agradáveis sensações do universo.

- Se levantou cedo hoje, Mike. – Anunciou de forma educada enquanto se aproximava da garagem ao lado do jardim, onde a ampla porta branca estava aberta, exposta uma bagunça interna.

Com a mochila às costas, ela se preparava para ir a Milford. Estava vestindo uma camiseta branca de mangas curtas, calças pretas e o mesmo tênis All Star, com os cabelos soltos ainda úmidos do banho recente. Michael continuava com suas tarefas, enquanto a jovem permanecia parada diante dele, visivelmente desconfortável para fazer seu pedido. A situação era estranha, como se houvesse uma enorme parede de pedra separando-os.

- O que o fez acordar tão cedo? – Repetiu a pergunta, ajustando a mochila e o homem continuou ignorando-a voltando a trabalhar em uma peça do carro. Ela o olhou, revirou os olhos com determinação para superar aquele momento. Conhecia os motivos que o deixavam assim. – Você não vai conversar comigo? Prefere continuar aborrecido com cara emburrada?

Michael parou seus movimentos ao ouvi-la, e a atmosfera ficou pesada. Não havia vestígios de sol naquela manhã, e o tempo estava nublado, como sempre em Cape May. O homem decidiu encerrar aquela brincadeira e finalmente a encarou, observando-a de braços cruzados, enquanto Lauren aguardava sua resposta.

– Com cara de emburrado? É assim que você se dirige ao seu pai, Lauren?! – Repreendeu com seriedade. A garota revirou os olhos novamente, aproximando-se cautelosamente enquanto ele se levantava, limpando as mãos em um pano qualquer sujo.

– Desculpe... Eu só queria conversar com você, não quero brigar. – Apressou-se em dizer, enquanto observava ele se dirigir à mesinha que estava de frente para o carro, no fundo da garagem, onde guardava suas ferramentas.

Michael vestia uma regata preta desgastada e uma calça larga cinza com bolsos nos joelhos, suas roupas eram antigas devido ao tipo de trabalho que fazia. Ele não era mecânico nem tinha a intenção de ser; seu interesse era apenas por carros e dirigir. Agora, estava tentando resolver um problema persistente em seu veículo que já o estava deixando irritado. Sem responder à filha, ele seguiu em silêncio até sua bancada, onde pegou uma apostila. Quando se aproximou novamente, Lauren ficou um pouco paralisada.

- Aparentemente, você deixou isso cair, na lixeira. – Ele disse, com uma expressão séria, enquanto estendia a apostila toda amassada. Lauren teve dificuldade para engolir em seco; seus olhos verdes, que estavam concentrados, se desviaram do objeto e em direção ao pai, que permanecia em pé à sua frente, aguardando uma justificativa.

- Olha...

- Eu compreendo que tudo isso possa parecer um fardo, mas você é muito jovem para assimilar suas futuras responsabilidades; ainda não tem a maturidade necessária para discernir o que é melhor para si mesma. Sinto que é meu dever ajudá-la a enxergar quando isso se faz necessário. Sou seu pai e, acredite ou não, meu desejo é que o melhor aconteça para você e para nossa família. Descartar aquilo que adquiri com tanto carinho não é o que eu e sua mãe ensinamos a você, Lauren.