Capítulo IV

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 A segunda-feira amanheceu cinza

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A segunda-feira amanheceu cinza. A chuva caía  sem parar em Yrovalle e eu estava extremamente atrasada para minhas aulas.

Passar um tempo com Theo me fez esquecer completamente da noite de sábado, e por ter ficado até tarde conversando com meu amigo, dormi mais do que deveria e agora eu estava correndo pelas ruas da cidade tentando não me molhar e chegar a tempo para pegar um bom lugar na aula de história da arte antiga, cujo o professor gostava de pegar no meu pé.

Ao parar em um dos semáforos, perto da faculdade, uma pessoa de moto parou bem perto de mim no canto da pista. Sua vestimenta era completamente preta, assim como seu capacete, que cobria toda sua cabeça, não deixando nenhum pedaço de pele à mostra. O som do motor ao ser acelerado demonstrava o quanto aquele - que parecia ser um - homem estava impaciente em ter que esperar as pessoas atravessarem a pista.

Quando passei na sua frente, ele ameaçou avançar e eu o encarei ameaçadoramente - se é que algum dia eu conseguiria ser ameaçadora de alguma forma. Assim que cheguei ao outro lado, segura na calçada, olhei mais uma vez em sua direção, e ele acelerou a moto em alta velocidade, indo embora.

Deixei o motoqueiro esquisito e impaciente de lado e segui caminho até a faculdade, quase correndo. Graças ao meu guarda-chuva, eu consegui chegar até o prédio da universidade sem me molhar muito. Apenas minhas pernas tinham sofrido com a água gelada que caía do céu encharcado.

Os corredores já estavam vazios, e eu corri, desengonçada e atrapalhada com minha mochila nas costas, desesperada para que não chegasse ainda mais atrasada na sala de aula do Professor Maximilian Dod.

Maximilian era egocêntrico, ter a atenção toda em si era o que ele buscava, era um objetivo de vida. Apesar de um grande artista, o qual eu realmente admirava muito profissionalmente, sua personalidade não era nada agradável, e eu sabia que entrar em sua sala após ele dar início a sua aula, haveria consequências.

Eu tentei chamar o mínimo possível de atenção. Normalmente eu não atrairia nenhuma, e todos pareciam tão concentrados... mas o universo queria me fazer pagar pelo meu atraso, então assim que eu abri a porta, ela rangeu como nunca, chamando a atenção de todos. Eu entrei com o rosto franzido em vergonha, não gostava daquela atenção em mim, principalmente a de Maximilian, que me fuzilou com os olhos.

Andei de cabeça baixa, subindo as escadas até chegar ao fundo da sala, na fileira de carteiras mais alta, onde havia lugares. Como disse, Maximilian era um ótimo artista, suas aulas sempre estavam cheias.

Ao me sentar, ainda sentia olhos sobre mim, e minhas bochechas queimaram ainda mais de vergonha. Dod já havia voltado a falar, todos deveriam estar com a atenção voltada em sua aula, e não em mim. Mechi na minha mochila pegando meu caderno e meu estojo para anotar o que era falado. Olhos ainda penetravam minha pele como se eu fosse o próprio Maximilian e sua raiva em eu ter atrapalhado sua aula, e ao levantar os olhos, procurando na multidão de mais de 70 alunos, quem ainda me olhava... ninguém estava olhando pra mim.

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