Não foi como ser atingida por uma avassaladora avalanche de sentimentos.
Foi gradual, calmo. Foi como estar caminhando em uma estrada cercada de uma floresta em que todas as árvores e flores estivessem no outono. Alguns galhos secos mas ainda assim com algumas folhas tingidas do mais lindo e brilhante laranja, sendo complementado por tons de marrom que transmitiam calmaria e paz. Era um pouco frio mas ela estava confortavel em poder se agasalhar e aproveitar a estação. Continuava caminhando, um pouco cabisbaixa mas feliz por poder contemplar o outono que tanto amava.
Mas de repente, durante a caminhada, no meio de todo o laranja foi encontrado a primeira folha verde, sinalizando a primavera.
Conforme a caminhada continuava, mais folhas verdes poderiam ser encontradas no chão. De início pareceu mais prudente apenas encarar as folhas, se questionando porque elas estavam ali se o outono estava tão bom e aconchegante, apesar das folhas mortas que caiam no chão com a espera do inverno.
Mas as folhas verdes começaram a aparecer mais rápido conforme a caminhada prosseguia. O calor do sol agora também começa a ser mais aparente, de certa forma esse calor trouxe consigo uma sensação mais vívida para todo o ambiente, trouxe mais vontade de errar, de aprender, de fingir que o resto do mundo não existia e apenas aproveitar o calor.
O medo estava presente sim, mas a vontade de não parar a caminhada também não estava querendo sair do corpo. Então a caminhada aos poucos foi se tornando mais rápida, a grama foi ficando mais viva, as árvores mais brilhantes e as flores mais coloridas. O verde era tão brilhante na luz do sol que poderia cegar alguém que ousasse olhar durante muito tempo. Era assustador mas ao mesmo tempo era como se todas as células do corpo tivessem um anseio avassalador por esse calor que fora escondido por muito tempo. O cérebro gritava para parar a caminhada e voltar ao reconfortante frio do outono. Mas o corpo implorava por mais calor.
Escutando apenas o corpo e a parte do cérebro que ansiava por sensações mais vivas, a caminhada se tornou corrida e durante a corrida os sorrisos foram ficando mais aparentes e as risadas mais soltas. Era preciso sentir aquele calor.
As flores soltavam seu aroma na estrada enchendo as narinas e dando mais vigor durante a corrida. Suas cores vibrantes enchiam os olhos e a mente.
Amarelo, vermelho, rosa e verde.
O tão lindo e brilhante verde agora também era reconfortante como o outono.
A vontade de chegar ao fim da estrada não existia, existia apenas a vontade de que ela fosse mais longa, apenas a vontade de correr mais.
Mas o fim da estrada foi se aproximando e entre as arvores, ele estava lá.
Com seus lindos e brilhantes olhos verdes iluminados pelo sol. A vontade era de guardar aquela imagem pra sempre. O verde dos seus olhos parecia complementar tudo, era como se fosse a última peça de um quebra-cabeças, a última pincelada num quadro sobre a primavera.
Ainda assim a mente gritava que era errado: "Se você estava tão confortável no outono porque se permitiu correr até a primavera? Porque você quer mais da primavera se ainda ama o outono? O frio que costumava ser confortável não te satisfaz mais?".
A resposta? "Não sei. Não sei. Talvez."
Nunca algo conclusivo, apenas confusões. Se ela precisava da primavera, porque foi permitido que ela estivesse tão presa ao outono? Porque a primavera não poderia ter vindo antes?
Restava apenas a decisão de aproveitar o verde enquanto durasse.