Capítulo Um

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Lalisa Manonal

Não que o reinado daquela megera fosse opressivo, muito pelo contrário, já que ela tratava seu povo com benevolência. No entanto, havia um processo burocrático para a distribuição de alimentos que deixava a desejar. A promessa era de recebermos 15 quilos de comida para um mês, o que parecia uma quantidade generosa, mas a realidade era diferente.

A situação intrigante residia no fato de que apenas cinco quilos eram efetivamente entregues. Você pode imaginar o quão difícil isso era para muitos de nós? A elite desfrutava de uma abundância de recursos, seguida pela classe média, enquanto nós, da classe baixa, éramos relegados a meros cinco quilos, eu precisava sustentar a mim, minha mãe e minhas duas irmãs mais novas.

Você acha que eu conseguia comer o suficiente? Não, de jeito nenhum. Minha mãe estava doente e necessitava de todas as proteínas disponíveis. Eu me via obrigada a dividir o pouco que tínhamos entre ela e minhas irmãs, uma com quinze anos e outra com treze. Restava-me apenas as sobras da panela, que eram quase inexistentes.

Minha saúde estava abalada, com uma aparência pálida e debilitada. Eu precisava trabalhar arduamente para conseguir algum dinheiro para os remédios, enquanto minhas irmãs frequentavam a casa de uma professora recém-chegada à nossa comunidade, uma mulher que havia trocado a vida na burguesia pelo que considerava ser uma vida mais tranquila e pacífica por aqui.

Nossa moradia ficava próxima à floresta, composta por pequenas cabanas de madeira, com dois quartos, uma sala de estar e uma cozinha. Nosso banheiro ficava do lado de fora, sujeito às intempéries, e tínhamos que buscar água no riacho dos fundos, aquecendo-a em uma panela de ferro que pertencia à minha mãe. Minhas forças já não eram suficientes para realizar essas tarefas, mas eu precisava continuar.

A reviravolta só aconteceu quando Jongin, meu primo e melhor amigo, começou a ganhar peso e músculos. Assim como eu, ele era o sustento de sua família, que incluía sua mãe e irmã.

Nós costumávamos ter corpos magros e frágeis, então, quando notei que ele estava ganhando músculos e peso, o confrontei, pedindo explicações.

- Estou pegando mantimentos nos postos de controle. Você acha que podemos sobreviver à fome? Eles têm comida em abundância e roubam na nossa cara. Estou farto disso, Lalisa. - Jongin disse com raiva. É claro que isso me deixou assustada e preocupada por ele.

- E se você for pego? Você sabe que aquela mulher detesta ladrões e pode matá-lo se descobrir. - Ele soltou uma risada discreta, segurou meu rosto e me puxou para si, depositando um beijo suave na minha testa. Em seguida, ele segurou minha mão e me levou para sua casa.

Jongin morava ao lado da minha casa, éramos vizinhos. Sua família recebia a mesma quantidade de comida que a minha, mas, como ele havia mencionado, ele estava roubando dos estoques reais, o que significava que tinham mais do que o necessário para alimentar dez pessoas.

- Vamos fazer um ensopado de carne. Sente-se e coma conosco. Vou chamar suas irmãs e minha tia, teremos um jantar decente. - Ele me acomodou no sofá da sua casa e foi até a minha. Minhas mãos tremiam de fome, e o aroma que pairava no ar fazia meu estômago roncar. Foi a primeira vez em anos que pude comer com fartura, recebendo todos os nutrientes e calorias de que precisava, sem ter que dividir ou ceder a comida a ninguém.

Naquela noite, fiz a promessa a mim mesma de que não passaria mais fome. Também pedi a Jongin para me levar da próxima vez, roubaríamos juntos. A partir desse momento, compartilharíamos nossas refeições e responsabilidades. E assim foi durante cinco meses.

Nunca me senti tão bem, tão saudável. Minha mãe melhorou de sua doença e parecia forte, ajudando a senhora Kim com os trabalhos que esta fazia. Ambas costuravam roupas para os outros moradores em troca de algumas moedas. Minhas irmãs aprendiam coisas novas a cada dia, graças a Nayeon. Enquanto Jongin e eu trazíamos comida para a mesa.

The Evil QueenOnde histórias criam vida. Descubra agora