O clima estava frio nos bairros de Salvador, mas como toda sexta-feira na cidade, as ruas estavam cheias de turistas, moradores e apaixonados.
Os carros iluminavam a avenida Sete De Setembro, em meio a bagunça de automóveis, Felipe começava a se desesperar, já estava atrasado para um evento que começaria às 21h. Felipe Fontaine era o atual interno de um dos melhores hospitais de Salvador e tinha sido convidado pelo seu residente a participar do evento, que era muito importante para o futuro do jovem, e Felipe estava quase atrasado.
O evento nada mais era do que vários ricaços, de diversas áreas, que exibiam as "estrelas em ascensão" de suas respectivas profissões, Fontaine tinha sido convidado pelo Dr. Henrique Diaz e não poderia de jeito nenhum decepcionar seu mentor. E para fingimento de tudo também era um evento de caridade para mostrar à sociedade a empatia e o grande coração dos ricos, adorável, não?
Após longos minutos, que pareceram anos para o jovem médico, finalmente o trânsito andou e ele conseguiu chegar ao Wish Hotel Da Bahia, onde estava acontecendo o bendito evento. Ele passou pela entrada e já ficou acanhado apenas por ter de deixar seu precioso bebê, seu carro que tinha sido presente de formatura: um Fiat Fastback branco, na mão dos manobristas desconhecidos.
Ao chegar no local, tratou a procurar o anfitrião da festa, um advogado podre de rico e dono de parte das ações do hotel. Graças a forças superiores, o terno de Felipe não havia amassado no caminho, ele tinha autoestima o suficiente para reconhecer que sua barba cheia junto do cabelo mais curto o deixava um tanto quanto mais perto a perfeição, e tudo se encaixava com seu blazer de abotoamento simples com fenda na parte de trás e bolso, qualquer um podia perder o fôlego só o olhando. Felipe encontrou o anfitrião junto à esposa, que curiosidade era professora de artes em uma faculdade renomada.
- Boa noite, senhor e senhora Bernardi -o jovem proferiu ao casal
- Jovem Fontaine, como vai querido?- senhora Bernardi, ou Helena Bernardi tinha sido uma das conselheiras gerais da faculdade onde Felipe se formou, então ela já conhecia o rapaz antes de seu marido
-Vou bem, e a senhora?- perguntou educado, afinal tinha bons modos
-Tudo caminha perfeitamente bem, querido- disse a doce senhora
-Aproveitando a festa, Felipe?-perguntou o homem estendendo a mão ao mais novo, que apertou de bom grado
- Sim, senhor, a festa está linda. Já tinha vindo antes ao Wish Hotel, mas hoje ele está deslumbrante - elogiou.
Realmente a decoração do hotel estava simplesmente impecável, os arranjos de flores ornamentava com o azul, branco e dourado e as velas acrescentavam um toque de sutileza ao local. Após conversar com o casal durante bons minutos, o Sr Bernardi teve de se ausentar na conversa, afinal ele era o anfitrião e tinha que recepcionar seus convidados.
Helena Bernardi e Felipe Fontaine continuaram em uma conversa agradável sobre assuntos variados até a senhora observar um grupo, majoritariamente formado por jovens adultos, entrarem no salão acompanhados a um senhor mais velho, que Felipe reconheceu ser o reitor da UFBA.
- Venha comigo, querido, venha conhecer as pessoas mais interessantes presentes nesse salão -Felipe ficou curioso, mas ofereceu o braço a senhora para acompanhá-la
- Pessoas mais interessantes?-questionou
- Sim, os pensadores, curiosos e criativos -explicou ao rapaz
- pessoas de humanas, é claro - o homem riu do entusiasmo da senhora e acompanhou até estarem de frente ao reitor, o Professor Paulo MiguezO médico observou o diálogo dos professores só falando quando requisitado ou quando a conversa o interessava, mas se divertiu com a dupla de professores, ele ouviu enquanto o reitor falava sobre novos professores transferidos de São Paulo e escutou um nome específico, claro que existiam várias mulheres com aquele nome, não era ela, com certeza não era ela, não era sua garota, mas mesmo assim aquele nome o fazia viajar no tempo para quando ele ainda não tinha barba e quando tinha tempo para tocar violão enquanto escutava a voz baixinha dela ao fundo. Quando entrou na brincadeira dos amigos da época e após assinar um "termo de noivado" presenteou ela com um anel que combinava com o dele, quase como um par de alianças. Anel esse que não cabia mais no seu dedo, mas ele continuava com ele, por baixo de toda a pose de adulto, do terno chique, o anel estava lá em uma corrente fininha, o lembrando do menino bobo que ele era e o lembrando de sua noiva de mentirinha. Um tapinha em seu braço o trouxe de volta a realidade, de volta para onde ele não tinha mais ela
- Então, Felipe, há quanto tempo mora aqui em Salvador?-Paulo perguntou
- Desde o começo da faculdade, senhor, me mudei para cá em 2024 no começo do meu primeiro semestre- explicou, enquanto aceitava uma taça do que parecia espumante de um dos garçons
- Onde morava antes daqui?- Helena perguntava curiosa
-Camaçari, passei minha adolescência e infância toda lá, minha irmã mais velha ainda mora lá com minha sobrinha -articulou aos mais velhos, que voltaram a conversar animadamente sobre uma nova reserva florestal na cidade.
Felipe estava aproveitando a noite até que algo, ou melhor, alguém, prendeu sua atenção por completo. Os olhos de Felipe se fixaram em uma moça, era ela, era com certeza ela, era sua garota, está que estava deslumbrante com um vestido midi acetinado com decote reto e alças finas cruzadas atrás, seu cabelo, mais longo do que o rapaz se lembrava, estava meio solto meio preso em um penteado chique, e ainda assim definido como ele sabia que ela amava, e a pele da moça mais morena, como se ela tivesse pegado sol recentemente. Era a dona do anel que fazia par com o seu próprio, Milena Campos, a morena dos olhos castanhos mais lindos e profundos que Felipe já viu. Ele continuou olhando, viu ela acenar para um rapaz pouco mais alto que ela, o que causou uma careta ao médico que os observava, viu quando ela negou a bebida que o garçom oferecia, viu ela abraçando uma das mulheres que já estavam no recinto e rindo de alguma coisa, e viu quando ela captou finalmente os olhos de quem a observava desde sua entrada, Felipe sorriu quando viu ela abrindo um sorriso em sua direção, e meu Deus só céu como ele sentia falta daquele sorriso. Milena falou algo com uma amiga, que concordou com a cabeça, e adiantou o passo em direção ao reitor, a professora e o médico, quando chegou perto o suficiente, o jovem conseguiu sentir o cheiro do perfume dela, o mesmo de sempre, como ela mesma dizia, sua assinatura olfativa
-Boa noite, professor Paulo, tudo bem?- cumprimentou o mais velho - como vai professora Helena?-abraçou a mais velha
- Boa noite, senhorita, está atrasada, querida-a senhora disse se desvencilhando do abraço
- Peço perdão por isso, tinha esquecido como o tempo voa em Salvador e acabei ficando tempo de mais na faculdade - Felipe a encarava tão descaradamente que qualquer outra pessoa teria se sentido desconfortável, ele nem piscava
-Como vai Doutor Fontaine?- sorriu doce e ofereceu a mão ao médico da roda, Felipe estava simplesmente desacreditado, mas entrou na onda apertando a mão da mulher, que estava trêmula
- Vou bem, e a senhorita? Professora Milena? Quando voltou para Bahia?- perguntou afobado
- Recentemente, mal tive tempo de visitar meus pais ainda -sorriu e Felipe viu o brilho que ele aprendeu a reconhecer
--Senhora Bernardi, professor Paulo- chamou a atenção dos mais velhos
-terei infelizmente de me retirar e pegar emprestado a professora Milena, com licença- os três o olharam confusos. Ele ofereceu seu braço a professora mais nova, que aceitou de bom grado, e se retiraram do salão indo até uma das áreas vazias, a saída para o jardim do hotel.Quando chegaram no jardim que estava gélido graças ao horário já tarde, Milena já estava chorando como uma bebê e abraçou Felipe tão rápido que o mais velho mal teve tempo de raciocinar, só trazer a menor para mais perto
- Senti sua falta - ela murmurou baixinho. Ela sempre coube perfeitamente nos braços de Felipe, desde o primeiro abraço, ela com 14 e ele com 15, até o atual abraço ela com 24 e ele com 25
- Eu senti mais - enterrou a cabeça nos cachos sedosos com cheiro de morango, e assim ficaram pelos próximos minutos.
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Teus olhos, meu clarão
RomanceSeguinte, nem eu sei explicar que surto psicológico foi esse, mas espero que gostem. São basicamente compilados de casais aleatórios que eu crio no silêncio da noite.Amo-te 💋